Vinho com medalha vale mais?
O que o atleta olímpico e o vinho têm em comum? Medalha, medalha, medalha, diria o obcecado Muttley, fiel companheiro do vilão animado Dick Vigarista, pois ouro, prata e bronze não são alheios ao mundo do vinho. Não é raro que encontremos garrafas adornadas por adesivos representando premiações e aposto que até você já foi seduzido por essas etiquetas.
Os vinhos, assim como os atletas, entram em competições mundo afora. Também como ocorre nos esportes, há premiações bem importantes para os vinhos — outras nem tanto. Por isso, quando encontrar uma garrafa medalhista na prateleira de um supermercado, antes de se emocionar com aquele brilho reluzente, investigue de que concurso vieram as medalhas. A triste notícia é que poucas dessas competições realmente significam alguma coisa.
Entre as melhores, está a Decanter Wine Awards, talvez o mais próximo de uma Olimpíada para os vinhos, pois reúne especialistas graduados e críticos sérios do mundo inteiro para julgar as garrafas de produtores convidados também de diversas partes do globo. Os vinhos são provados às cegas, ainda que os jurados saibam algo sobre o que estão degustando, já que as amostras são separadas por país, região, cor, uva, estilo, safra e preço. Os jurados experimentam tudo separadamente e depois discutem as notas para chegar a um consenso.
A composição dessa pontuação também é parecida com o que ocorre em algumas modalidades esportivas, como a ginástica, por exemplo. Cada elemento do vinho vale um máximo de pontos e a soma delas é que faz a nota final. Por exemplo, o aspecto visual, o desempenho olfativo e até a duração na boca, entre outros.
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Nos últimos anos, alguns sites divulgaram notícias de que espumantes brasileiros receberam medalhas de ouro na França e estariam entre os melhores do mundo, ainda que custassem algo entre R$ 30 e R$ 50. Um deles foi vendido aos leitores como "o melhor do mundo".
Nunca tive complexo de vira-latas de achar que o nosso vinho é invariavelmente pior que os outros. Mas quando a esmola é muito grande a gente precisa desconfiar: seria este espumante-melhor-do-mundo, um moscatel gaúcho, melhor que os grandes champanhe franceses, que têm séculos de tradição, como por exemplo um Krug safrado? Antes de acreditar numa ótima notícia como esta, então, sugiro mais uma vez a investigação: que concurso é esse, quem julga, quem participa? Melhor do mundo? Excelente, mas de que mundo?
Do lado de quem avalia, as coisas também não são simples. Em fevereiro de 2017, fui ao Porto, em Portugal, para ranquear os melhores vinhos portugueses daquele ano, previamente eleitos pelos especialistas da revista "Essência do Vinho". A ideia era que 40 degustadores de 12 países provassem brancos, tintos e fortificados em três horas, com um intervalo rápido na altura do vinho 31.
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