Rússia vira destino para brasileiros que querem estudar medicina

Hoje médicos no SUS, brasileiros buscaram a Rússia para se formar em medicina e fugir do alto custo de faculdades particulares no Brasil. Eles viajam 11 mil quilômetros para chegar ao outro lado do mundo, onde atuam em hospitais do período soviético e convivem com sensação térmica que chega a -40 °C.

Neste ano, houve recorde de médicos formados na Rússia inscritos no Revalida (Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos), com 164. Em 2014, eram 34 candidatos, o que significa um aumento de 382% em dez anos. Ao todo, na última década, 900 profissionais com diploma russo se inscreveram na prova.

A taxa de aprovação dos graduados no país é de 31%. Os dados são do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), responsável pelo Revalida.

Após formados, grande parte dos brasileiros encontra dificuldade em continuar no país. Por isso, decidem retornar.

No Brasil, muitos trabalham no Mais Médicos enquanto não revalidam o diploma. No programa, 117 dos profissionais se formaram na Rússia, de acordo com o Ministério da Saúde.

Para eles, o SUS sai na frente do sistema público da Rússia na atenção primária e em aspectos como esterilização e higiene. Dizem que, por outro lado, que hospitais russos têm melhor estrutura e mais leitos de internação.

A médica Bárbara Parente, 30, morou e estudou em Kursk, cidade a 530 km de Moscou e a 120 km da Ucrânia —a guerra entre Kiev e Moscou é um dos motivos que tem levado os brasileiros a desistirem de ficar no país após o fim da faculdade.

Em 23 de fevereiro de 2022, Bárbara viu uma fileira de tanques marchando em direção à fronteira com a Ucrânia durante uma viagem. No dia seguinte, teve início a invasão russa ao país vizinho.

"Disseram que era uma operação militar normal, então fui para casa e dormi. De madrugada, minha mãe ligou falando que tinha começado a guerra. Fiquei em choque", diz.

Ela afirma que, com as sanções de outros países à Rússia, viver lá se tornou insustentável. O custo de vida aumentou e parte do comércio, sobretudo lojas estrangeiras, fechou. Seis meses após o início da guerra, quando se formou, Bárbara voltou ao Brasil.

Natural de Tocantins, ela quis estudar no exterior depois de não passar no vestibular para universidades públicas no Brasil. A Universidade Médica Estadual de Kursk tinha mensalidade menor do que a de uma particular brasileira: ela pagava US$ 3.100 por semestre, ou R$ 11,7 mil na cotação de 2015, quando se mudou.

Além disso, viver na Rússia daria mais chances de permanecer na Europa, segundo Bárbara. Ela pretendia continuar morando lá, mas o início do conflito com a Ucrânia a dissuadiu.

As aulas da faculdade eram em inglês, mas os alunos também estudavam russo para viver no país e atender pacientes. Lá, Bárbara trabalhou em hospitais que permanecem com uma estrutura antiga, da Segunda Guerra –inclusive com bunkers.

"Eles mantém até a hierarquia da época, com médicos soviéticos que, quando chegam, pedem para batermos continência."

Hoje, ela atua na zona rural de Manaus pelo programa Mais Médicos. Bárbara diz que a Rússia tem mais hospitais públicos especializados, e pacientes esperam menos para conseguir cirurgias. O SUS ganha na atenção preventiva, em aspectos como visita domiciliar e fornecimento de remédios para doenças crônicas.

Vitória Haefle, 27, compartilha a opinião. Formada na mesma universidade que Bárbara, ela trabalha em uma clínica da família no Rio de Janeiro pelo Mais Médicos.

O que você está lendo é [Rússia vira destino para brasileiros que querem estudar medicina].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

Wonderful comments

    Login You can publish only after logging in...