Pesquisa aponta falta de legitimidade do Hamas mesmo antes da guerra

Uma informação traumatizante: 68% dos palestinos não tinham certeza de que teriam em casa o suficiente para se alimentar. Na Faixa de Gaza, controlada pelos terroristas do grupo da direita muçulmana Hamas, o medo de passar fome chegava a 78% da população. Há três anos eram bem menos, 51%, mas desde então o estrago veio do desemprego e da inflação.

São números anteriores à atual guerra e citados em recente conferência na universidade britânica de Oxford pela pesquisadora Amaney Jamal. Ela leciona na universidade americana de Princeton e foi uma das criadoras, em 2005, de um instituto de pesquisa de opinião pública (arabbarometer.org). Trata-se da primeira instituição do gênero com levantamentos simultâneos em 16 países árabes.

Um tópico capital desse conjunto de pesquisas se refere ao grau de confiança dos palestinos aos dirigentes de suas regiões. Pois só 29% dos moradores de Gaza confiavam no Hamas. A porcentagem não é tão ruim quanto a observada entre os palestinos na Cisjordânia —apenas 17% confiavam na Autoridade Nacional Palestina (ANP).

Há, então, uma falta de legitimidade dos governantes, e ela tem uma razão precisa. A ANP se instalou em 1993 em Ramallah e, desde então, não convocou eleições que testassem seu apoio popular. O mesmo acontece com o Hamas, que ganhou em 2006 o pleito em Gaza, mas em seguida descumpriu a promessa de verificar sua popularidade por meio de uma volta às urnas.

Os resultados nesse caso seriam imprevisíveis, mesmo porque, no caldeirão demográfico de Gaza, a metade da atual população não era nascida quando o grupo religioso de direita derrotou o grupo laico já com o controle da Cisjordânia.

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A desconfiança dos palestinos em relação aos governantes tem outra razão. Eles são vistos como corruptos, etiqueta dada tanto aos terroristas de Gaza quanto aos burocratas de Ramallah. Entre os primeiros a corrupção era um notório atributo para 57% dos palestinos, enquanto entre os segundos o problema foi apontado por 72% dos locais.

Uma recapitulação. Quando a ANP foi derrotada nas eleições há 18 anos, os terroristas do Hamas os acusavam de desvio sistemático do dinheiro que o mundo árabe endereçava para a chamada causa palestina. Pois hoje a percepção da corrupção está democraticamente dos dois lados, do Hamas e da ANP.

A conferência de Amaney Jamal traz um título que funciona muito mais como um chamativo do que como um resumo de informações estatísticas. De fato, "o que os habitantes de Gaza pensavam antes e depois do 7 de outubro" (início do conflito entre Israel e o Hamas) é impossível de explicar. E isso por dois motivos.

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