Agricultores perdem apoio e não conseguem doar alimentos; veja vídeo

Desde 2023, o projeto FaçaUmBemIncrível faz a ponte entre produtores rurais da região de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, e pessoas em situação de insegurança alimentar. Fundado na pandemia por Simone Silotti, a ação distribui esses alimentos a quem precisa, remunerando os agricultores pela produção e cobrindo os custos de transporte.

A partir do engajamento dos produtores no projeto, eles puderam se organizar e fundar a CAQ (Cooperativa Agrícola de Quatinga e região). Ela leva o nome do distrito de Mogi das Cruzes onde fica a maioria das propriedades rurais dos 21 agricultores cooperados. Todas são de pequeno porte e não ultrapassam sete hectares (o equivalente a sete quarteirões).

O projeto já doou aproximadamente 430 mil toneladas de produtos desde o início e, só no ano passado, foram 38 toneladas de doações patrocinadas. Neste ano, contudo, foi realizada apenas uma doação patrocinada, somando pouco mais de uma tonelada. O financiamento veio de um grupo de quatro amigos que se dividiu para fazer a doação.

Simone e o projeto já foram reconhecidos pelo trabalho e colecionam prêmios, como por exemplo o Prêmio Internacional "Alma da Ruralidade", concedido IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura) e o Prêmio Empreendedor Social 2023, concedido pela Fundação Schwab e pela 💥️Folha. Além disso, a CAQ também teve sua utilidade pública reconhecida pelo município de Mogi das Cruzes.

Foi através do sucesso dos primeiros anos do projeto FaçaUmBemIncrível que os produtores puderam levantar recursos e se organizar. Neste ano, contudo, a situação tem sido bem diferente e o caixa já acumula R$ 400 mil negativos, conta Simone Silotti, que também é produtora rural.

O financiamento vem principalmente de empresas privadas, que não puderam ajudar em 2024. "As empresas com quem eu tenho contato migraram os recursos para ajudar o Rio Grande do Sul após a tragédia das chuvas. Naturalmente, a gente entende, mas ficamos desprovidos de recurso e sem nenhuma perspectiva de entrada até o final do ano", explica Simone.

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No último dia 6 de julho, os alimentos da única doação viabilizada neste ano foram entregues para mais de 900 famílias que vivem na Ocupação Nova Laranjeira, no Jardim Iguatemi, zona leste de São Paulo.

"Essas doações são essenciais para a vida aqui. Infelizmente, às vezes ficamos seis ou sete meses sem receber nada", conta Joanadaque Maria Santos da Silva, líder comunitária e membro do Grupo de Mulheres do Brasil.

A distância entre Quatinga e a ocupação é de aproximadamente 40 quilômetros, e produtores e a comunidade têm dificuldade de estabelecer um canal contínuo de entrega de doações.

Sem patrocínios para cobrir os custos de produção em 2024, o projeto tem recorrido ao apoio de instituições que vão até as propriedades rurais para retirar e distribuir os alimentos.

É o caso do Sesc Mesa Brasil, que organiza as doações de alimentos para 1.200 instituições sociais cadastradas. Eles contam com galpões e veículos para realizar o transporte dessas doações. No estado de São Paulo, são 53 veículos circulando todo dia.

No dia 12 de julho, o Mesa Brasil foi até a propriedade da Jaqueline Mognon, agricultora que faz parte da CAQ, retirar 2,4 toneladas de couves e cogumelos para doação. Os produtos foram entregues na terça-feira (16) ao Instituto Rogacionista, na zona oeste de São Paulo. Se não tivessem sido colhidos, a essa altura já teriam estragado no campo.

DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS

Segundo dados reunidos pelo Pacto Contra a Fome, o Brasil joga fora 55 milhões de toneladas de alimentos todos os anos, sendo 31,2% desse valor referente à perda ainda nas fases de produção e colheita.

Levando em conta o número de pessoas em situação de insegurança alimentar no país, que é de 33 milhões, seria possível oferecer oito refeições com o que se desperdiça no total.

Jaqueline Mognon explica que os extremos climáticos, como chuvas acima da média ou frentes frias, têm sido um fator determinante no desperdício. "Agora, com o frio, o consumo de legumes e verduras sempre diminui. Só que a produção não cai necessariamente", explica a agricultora.

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