Chegou a hora de reduzir os juros, diz presidente do BC dos EUA

O presidente do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA), Jerome Powell, afirmou nesta sexta-feira (23) que "chegou a hora" de a instituição cortar a taxa de juros.

Segundo ele, os riscos crescentes para o mercado de trabalho não deixam espaço para mais fraqueza e a inflação está a caminho de alcançar meta de 2%, oferecendo um apoio explícito para o afrouxamento da política monetária.

"Os riscos de alta para a inflação diminuíram. E os riscos de queda para o emprego aumentaram", disse Powell em discurso no simpósio anual do Fed em Jackson Hole, no estado norte-americano de Wyoming. A próxima reunião do Fed será entre 17 e 18 de setembro, e a taxa de juros atual está entre 5,25% e 5,50%.

Chegou a hora de ajustar a política. A direção a ser seguida é clara, e o momento e o ritmo dos cortes nos juros dependerão dos dados que chegarem, da evolução das perspectivas e do equilíbrio dos riscos

Jerome Powell

presidente do Fed

Referindo-se às duas metas que o Fed é encarregado pelo Congresso de atingir, Powell disse que sua "confiança cresceu de que a inflação está em um caminho sustentável de volta para 2%", depois de ter subido para cerca de 7% durante a pandemia da Covid-19, enquanto o desemprego está aumentando.

Em resposta ao discurso de Powell, o dólar fechou em forte queda, de 1,95%, nesta sexta-feira (23) no Brasil, aos R$ 5,479. Já a Bolsa brasileira avançou 0,32%, aos 135.608 pontos, também embalada pelo otimismo vindo da política monetária dos EUA.

"A perspectiva de um corte nos juros aliviou a pressão sobre os mercados emergentes, fortalecendo suas moedas e reduzindo as taxas de juros futuros", afirma Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.

Para ele, a percepção de um "pouso suave" na economia americana "contribui para um movimento de queda nos juros futuros e no dólar", avalia

Embora o presidente do Fed tenha dito que o salto de quase um ponto percentual na taxa de desemprego no último ano se deveu, em grande parte, ao aumento da oferta de mão de obra e à desaceleração das contratações, e não ao aumento das demissões, ele também foi enfático ao dizer que o Fed quer evitar qualquer erosão adicional.

A atual taxa de desemprego de 4,3% está próxima do nível que as autoridades do Fed consideram compatível com uma inflação estável no longo prazo.

"Não buscamos nem recebemos bem um maior esfriamento das condições do mercado de trabalho", disse Powell. "Faremos tudo o que pudermos para apoiar um mercado de trabalho forte à medida que progredimos em direção à estabilidade de preços. Com uma redução apropriada da restrição da política monetária, há boas razões para pensar que a economia voltará a ter uma inflação de 2%, mantendo um mercado de trabalho forte."

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O candidato presidencial republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, recentemente advertiu Powell a não cortar as taxas de juros antes da eleição. No entanto, alguns economistas e legisladores democratas já acusaram o Federal Reserve de estar agindo muito devagar, o que aumenta os riscos de uma recessão.

NOVO CAPÍTULO

Os comentários de Powell são o mais próximo que ele provavelmente chegará de declarar vitória sobre o surto de inflação que abalou a economia no início da pandemia da Covid-19.

O rápido aumento dos preços levou o Fed a elevar sua taxa de juros de um nível próximo a zero para a atual faixa de 5,25% a 5,50%, o nível mais alto em 25 anos. Ela tem sido mantida nesse patamar por mais de um ano, mesmo com a economia desafiando as frequentes previsões de recessão, a inflação desacelerando e a manutenção do crescimento econômico -- os ingredientes de um "pouso suave".

"Embora a tarefa não esteja concluída, fizemos um grande progresso (para restaurar a estabilidade dos preços)", disse Powell. O Fed define a estabilidade de preços como uma inflação de 2%, medida pelo índice PCE. O índice está atualmente em uma taxa anual de 2,5%.

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O dirigente discursou no Jackson Lake Lodge, no Parque Nacional Grand Teton, em Wyoming, para uma reunião de autoridades de bancos centrais e economistas que se tornou uma plataforma global para que eles moldem as opiniões sobre a política monetária e a economia.

Seus comentários consolidam, em grande parte, uma decisão que o Fed já havia antecipado por meio de comentários anteriores de Powell e da ata da reunião de julho, que dizia que a "grande maioria" das autoridades concordava que os cortes nos juros provavelmente começariam no próximo mês.

Mas sua linguagem enfática agora não deixa dúvidas de que o Fed está abrindo um novo capítulo na política monetária.

No entanto, ele não foi muito além disso, descrevendo como a instituição estaria ponderando suas decisões a partir de agora, à medida que navega em uma política de afrouxamento.

Na ferramenta CME FedWatch, operadores passaram a ajustar apostas: 63,5% deles enxergam probabilidade de uma redução de 0,25 ponto percentual em setembro, ante 73% da véspera. O de maior intensidade, de 0,50 ponto, reúne agora 36,5% dos investidores, em comparação aos 28% de quinta-feira.

Powell adotou uma "postura prudente" ao não indicar a magnitude do corte, na análise de Yuri Alves, economista da Guide Investimentos.

"Ele enfatizou a necessidade de cautela, sinalizando que os cortes nas taxas de juros acontecerão de maneira gradual e dependente dos dados econômicos", afirma.

Assim como em muitos de seus discursos anteriores em Jackson Hole, grande parte das falas de Powell foi de natureza explicativa, neste caso, relembrando a combinação de choques de oferta e demanda que causaram o aumento da inflação no início da pandemia, por que ela persistiu mais do que ele e outras autoridades imaginavam e como a reversão desses choques permitiu que a inflação caísse sem muitos danos iniciais ao mercado de trabalho.

Em Wall Street, o Dow Jones subiu 1,14%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq Composite avançaram 1,13% e 1,47%, respectivamente.

As autoridades do Fed apresentarão projeções econômicas atualizadas na reunião de 17 e 18 de setembro, que fornecerão mais detalhes sobre como eles esperam que a taxa de juros evolua daqui para frente.

Com Reuters e Financial Times

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