Guru do vice de Trump defende um governo isolado e religioso

A ascensão do senador republicano J.D. Vance ao posto de herdeiro presumido de Donald Trump, que o escolheu para vice na chapa que disputará a eleição presidencial americana, coloca em evidência um arcabouço ideológico no qual desponta como estrela Patrick Deneen.

O cientista político da Universidade de Notre Dame (South Bend, EUA) é um dos gurus conservadores mais associados a Vance. São amigos pessoais, no ano passado participaram de um evento em Washington no qual Deneen foi louvado pelo político, e o acadêmico chamou a escolha do senador de fantástica no X.

Pensador católico, Deneen não é um terraplanista qualquer, da estirpe à qual o mundo se acostumou a ver em torno de líderes populistas surgidos na esteira do trumpismo, como o húngaro Viktor Orbán ou o brasileiro Jair Bolsonaro (PL).

Ele emergiu como referência do campo conservador em 2018, quando lançou "Por que o liberalismo fracassou", livro no qual destilava contradições intrínsecas ao sistema ideológico dominante no Ocidente, sobre o qual os EUA foram fundados em 1776.

Foi considerado por Barack Obama uma das obras obrigatórias daquele ano pelas provocações intelectuais e pelo diagnóstico sobre os motivos da desilusão da classe operária americana, que viu seus empregos e seus valores se esvaírem —um motivo para Trump ter chegado ao poder em 2017.

O ex-presidente democrata, antecessor do republicano, ressaltou não concordar com as conclusões de Deneen. De modo geral, o cientista político pede uma volta ostensiva a um sistema tradicional calcado na religião e o isolamento em comunidades, o chamado localismo, em oposição ao que vê como balbúrdia infértil da globalização.

Tal receituário era temperado por tiradas machistas bem ao gosto dos populistas, sugerindo que a inserção feminina no mercado de trabalho foi prejudicial às mulheres, que estavam melhor no lar. Já a crítica às pautas identitárias pode ser vista como presciente, dadas as discussões em ambientes acadêmicos americanos.

Seja como for, Deneen caiu no gosto de figuras como Marco Rubio, figurão do Partido Republicano, e não só: em 2023, o escritor foi convidado pelo premiê húngaro Viktor Orbán, o prócer da dita democracia iliberal na Europa, para lhe explicar suas ideias.

Esse é um outro ponto importante de contato com Vance e Trump: o agora vice na chapa republicana é um admirador aberto de Orbán, particularmente da forma com que o húngaro tomou para si o controle do ensino superior em seu país, item zero das ditas guerras culturais.

Quiseram os deuses da política que Orbán, sempre próximo de Trump, estivesse neste semestre à frente da presidência rotativa da União Europeia, para enorme desagrado de seus pares, que desautorizam sua tentativa de se mostrar um mediador para o fim da Guerra da Ucrânia.

O húngaro, assim como o rival de Joe Biden, tem simpatias não disfarçadas por Vladimir Putin, uma espécie de ícone dos populistas dos anos 2010, embora a realidade política russa e a trajetória do presidente sejam uma história à parte.

Desde que assumiu o posto temporário, Orbán esteve com Volodimir Zelenski, Putin, o chinês Xi Jinping e Trump. Concluiu que só o republicano poderá promover a paz na Europa, algo que os aliados de Kiev veem como acomodação análoga à promovida por Londres e Paris com Adolf Hitler antes da Segunda Guerra Mundial.

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