Obras de Fernanda Gomes ostentam as camadas da passagem do tempo

Durante quatro semanas nas quais teve apenas um dia de descanso, Fernanda Gomes ajustava e reajustava obsessivamente peças de madeira no ambiente de sua galeria. As varas, ripas e chapas —algumas pintadas de branco, outras na cor natural— eram combinadas entre si e mudavam de lugar no espaço expositivo até que a artista sentisse, ao ver e ao circular pela sala, que havia chegado à forma final a ser apresentada para o público.

"É uma situação inteira, equilibrada. Se eu começar a mexer em alguma coisa, eu vou desmontar todo o conjunto. Todos os elementos estão relacionados e não poderiam estar relacionados de outra forma", diz a artista, por telefone, ao comentar sua exposição na galeria Luisa Strina, em São Paulo, que reúne um conjunto de obras de 2017 até o presente, muitas inéditas. A mostra se encerra no sábado (20), com o lançamento de um livro.

E a exposição, como Gomes dá a entender, precisa ser vivida naquela sala, para a qual foi criada, por não se tratar de um conjunto de obras penduradas na parede, mas de uma instalação que explora o ambiente. Isso se dá, por exemplo, pelos trabalhos dispostos no chão, pela criação de novas paredes que estendem as já existentes e por obras delicadas, quase imperceptíveis, como uma fita branca retorcida estendida na vertical numa parede da mesma cor.

A extrema economia de materiais usados pela artista —madeira, tinta branca, fio e tecido— está a serviço da organização rigorosa das obras no espaço. Não há formas circulares, de modo que vemos basicamente linhas retas, quadrados e retângulos.

"Era uma questão de planos, fiquei muito fixada nessa visualização", ela afirma, ao contar que desde sua última exposição em São Paulo, uma retrospectiva na Pinacoteca, em 2023, já tinha anotações de como seria a mostra agora em cartaz.

O efeito geométrico, de precisão matemática, é ressaltado pela iluminação, que eliminou toda e qualquer sombra, deixando os objetos num ambiente ideal para serem visualizados em seu esplendor ou desgaste. O descascado de uma madeira está tão à mostra quanto a superfície branca de tinta de outra.

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