Em livro, coronel acusa Mourão e Exército de corrupção por compra de megavideogame

Numa passagem no final de "Diários da Caserna: Dossiê Smart: A História que o Exército Quer Riscar", o personagem Battaglia, alter ego do autor –o coronel da reserva Rubens Pierrotti Jr.– relata qual foi sua inspiração para o livro, recém-lançado pela editora Labrador.

"Vou fazer o que o [ex-PM] Rodrigo Pimentel fez no livro ‘Elite da Tropa’. Ele contou exatamente o que se passou, mas escreveu como ficção, não como memória ou biografia."

Trata-se de um "roman à clef" ("romance com chave", na tradução literal do francês), uma obra aparentemente ficcional que narra histórias reais trocando apenas os nomes dos personagens.

Pierrotti valeu-se do recurso para, em mais de 500 páginas, detalhar denúncias de corrupção contra o Exército e alguns oficiais, especialmente Hamilton Mourão, ex-vice-presidente e hoje senador (Republicanos-RS).

O autor, que hoje atua como advogado, acusa ex-colegas de farda de compactuarem com irregularidades na compra de um simulador de apoio de fogo da empresa espanhola Tecnobit, que custou € 13,98 milhões aos cofres públicos (cerca de R$ 32 milhões quando o contrato foi assinado, em 2010, quase R$ 83 milhões pelo câmbio atual).

O Exército e Mourão defendem o negócio e argumentam que ele trouxe economia para a corporação. O Ministério Público Militar arquivou as denúncias. Apesar de a área técnica do TCU (Tribunal de Contas da União), numa investigação de mais de três anos, ter apontado diversas irregularidades no processo, o plenário da corte arquivou o caso em 2023.

O equipamento em questão é uma espécie de videogame gigante que simula, em realidade virtual, combates com emprego de artilharia e tem por objetivo economizar munição real. O processo iniciado em 2010 foi concluído em 2016, com a inauguração dos dois simuladores da Tecnobit adquiridos pelo Exército.

Pierrotti foi por três anos supervisor operacional do projeto, do qual se desligou em 2014 apontando direcionamento para favorecer a empresa espanhola e várias irregularidades, como pagamentos antecipados antes de execuções previstas em contrato, tráfico de influência, entrega de um produto inadequado e desperdício de dinheiro público.

O equipamento foi reprovado oito vezes pelo corpo técnico do Exército. Mourão entrou com o processo já em curso e, pela versão de Pierrotti, foi o responsável por destravá-lo, ou seja, por concretizar a compra a despeito das reprovações da equipe técnica.

Em "Diários da Caserna", na verdade quem o faz é Simão, o personagem que incorpora o general ex-vice presidente e atual senador. Pierroti não está preocupado em disfarçar que são a mesma pessoa —muito pelo contrário.

As denúncias sobre a compra do simulador vieram à tona em 2018, numa reportagem do jornal El País, que teve acesso a documentos do caso por meio de um dossiê apócrifo de 1.300 páginas enviado à plataforma BrasilLeaks. Na ocasião, Pierrotti foi entrevistado e corroborou as acusações do dossiê.

No livro, ao narrar o episódio, o protagonista de "Diários da Caserna" usa exatamente o mesmo título publicado pelo El País, mudando só o nome do acusado, resultando numa manchete algo cômica: "Coronel da reserva acusa general Simão de favorecer empresa em contrato do Exército".

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