O legado de Lattes

Comemora-se quinta-feira (11) o centenário de nascimento de Cesare Mansueto Giulio (César) Lattes. Jovens cientistas talvez só o conheçam por nomear a Plataforma Lattes, onde registram seus currículos, porém Lattes foi a seu tempo o físico mais admirado do Brasil.

Aos 23 anos, deu a contribuição à física de partículas que o levou perto de ganhar o prêmio Nobel, façanha quase impensável hoje em dia.

Em 1947, Lattes conseguiu comprovar experimentalmente a existência de uma partícula, píon (então batizada como méson pi), o que ajudou explicar a coesão dos núcleos atômicos. Ele aperfeiçoou emulsões fotográficas que capturavam traços de raios cósmicos quando expostas em grandes altitudes.

Os núcleos de átomos contêm nêutrons e prótons. Estes últimos têm carga elétrica positiva, o que em princípio implicaria repulsão entre uns e outros, como polos iguais de ímãs, mas eles ficam confinados no núcleo.

O físico Hideki Yukawa havia formulado em 1934 a hipótese de que prótons e nêutrons se mantinham unidos por força de uma partícula que chamou de méson.

Com Cecil Powell na Universidade de Bristol, Reino Unido, Lattes levou emulsões para o Pic du Midi (2.800 m), na França, e logrou dois registros da nova partícula. Na montanha boliviana de Chacaltaya (5.500 m), capturou 30 rastros de mésons e a atenção mundial.

Depois, na Universidade da Califórnia, nos EUA, tornou-se um dos pioneiros no estudo de componentes subatômicos obtidos pela colisão de partículas em aceleradores. Ele e Eugene Gardner realizaram as primeiras detecções de píons produzidos artificialmente.

Os mésons pi motivaram dois Nobel. Em 1949 premiou-se Yukawa pela previsão teórica; em 1950 foi a vez de Powell, pela detecção experimental. Indicado cinco vezes, o jovem Lattes se viu preterido.

Até hoje se ouvem lamúrias por o que alguns consideram uma injustiça, mal disfarçando o incômodo com o fato de um brasileiro jamais ter recebido um Nobel. Maior e mais justa homenagem se fará ao grande físico, contudo, se for lembrado antes por sua excelência do que pela ausência da láurea.

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