'Sou um homem preto e periférico, e apontaram uma arma para mim à luz do dia', diz homem que ficou sob a mira de
O homem negro que teve uma pistola apontada pela deputada federal Carla Zambelli (PL) após uma discussão em São Paulo na tarde deste sábado (29) diz estar assustado e falou sobre racismo no caso. Segundo a defesa de Luan Araújo, ele vai prestar queixa de ameaça e racismo contra a parlamentar. Carla Zambelli nega racismo no caso.
"Eu só quero proteção, só quero que me protejam, protejam a minha mãe, a minha família. E só isso, mais nada politicamente. Só isso. "Eu sou um homem preto e periférico que apontaram uma arma para mim à luz do dia. Só isso", afirmou Luan, que é jornalista e tem 32 anos.
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Após o depoimento de Luan, a deputada negou que tenha sido racista.
Um dos vídeos que registrou a confusão foi feito pelo jornalista Vinícius Costa, que estava com amigos no bar onde a deputada entrou com a arma em punho. No vídeo é possível ouvir a parlamentar gritar: "Deita no chão". Em suas redes sociais, Zambelli mostrou um machucado no joelho e disse que, antes de sacar a arma, havia sido cercada e agredida. Ela disse ainda que "usaram um negro pra vir em cima de mim". 💥️
Outro vídeo gravado por pessoas que presenciaram o episódio, entretanto, mostra que, momentos antes de apontar a arma, a deputada havia tropeçado e caído no chão quando tentava perseguir o homem. Em seguida, um segurança da parlamentar a socorreu e também, com segurando uma arma, passou a perseguir o homem. No registro, ainda é possível ver que o segurança chutou o homem e ouvir barulho de tiro.
Confira a sequência dos fatos de acordo com vídeos e testemunhas:
Momentos depois, Zambelli divulgou vídeo em suas redes sociais contando sua versão.
"To fazendo um boletim de ocorrência. Eu fui agredida. [...] Me empurraram no chão. Um homem negro. Eles usaram um negro pra vir em cima de mim", diz ela no vídeo. Assista abaixo:
"Eram vários. Aí eu estava aqui saindo do restaurante, eles tinham visto a gente antes, no vidro aqui, vários homens se aproximaram, uma mulher de camiseta vermelha ficou do lado de lá dando cobertura. Todos eles se evadiram. [...] E aí quando me empurrou, eu caí, saí correndo atrás dele, falei que ia chamar a polícia, que ele tinha que ficar aqui para esperar polícia chegar."
Depois, ela divulgou uma nota 💥️(leia abaixo).
Em nota, a Polícia Militar disse que foi acionada volta das 16h30 para atendimento de ocorrência na Alameda Lorena. "No local, uma deputada federal informou que estava em um restaurante quando passou a ser ofendida e empurrada por pessoas não identificadas, motivo pelo qual sacou a pistola que portava. O caso será apresentado ao plantão do 78º DP (Jardins), em funcionamento no prédio do 4º DP (Consolação), para registro do boletim de ocorrência e devidas providências de polícia judiciária."
Em depoimento, Luan disse que que quando se aproximou do carro de um amigo visualizou Carla Zambelli e mais pessoas que a acompanhavam saindo de um restaurante. Ele diz ter ouvido alguém dizer "Aqui é Tarcísio" e que respondeu "Amanhã é Lula, você vão perder". Ainda segundo ele, a partir deste momento começou uma discussão dele com a deputada e seus acompanhantes.
Luan relata ainda que a partir desse momento, as pessoas que estavam com Zambelli começaram a gravar e por isso, ele se afastou. A partir daí, a deputada e as demais pessoas foram em sua direção, então ele ficou com medo de ser agredido e começou a correr, sendo perseguido por Zambelli e apoiadores.
Ele conta que nesse momento ouviu um barulho de tiro e continuou correndo. Luan conta que foi agredido com socos e que pessoas na rua tentaram lhe dar uma rasteira. Foi quando, segundo ele, a deputada chegou armada lhe dando voz de prisão e pedindo para que ele deitasse no chão. Ele não obedeceu por dizer que ela não era policial.
Foi aí que ele conseguiu se esconder em uma lanchonete e a partir daí os ânimos foram se acalmando até que ele reencontrou seus amigos e deixou o local a partir do momento que se formou uma aglomeração no local.
Testemunhas ouvidas pela TV Globo relataram que houve correria quando pedestres e clientes de restaurantes viram Carla Zambelli sacando uma arma em direção a um homem no meio da rua nos Jardins.
"A gente estava aqui sentado conversando, quando vimos um princípio de tumulto, a uns 100 metros daqui. E aí nesse princípio de tumulto, ouvimos dois disparos. Todo mundo se assustou. Teve gente que correu. A gente correu para dentro do bar. Nisso que a gente correu para dentro do bar, algum deles falou 'corre para fora'. Uma turma correu para fora, só que eu fiquei entre duas mesas. Foi a hora que o rapaz entrou correndo dela", contou uma testemunha.
"Entraram dois seguranças dela e um deles gritava 'aqui é polícia', dando tapa no cara. Ela entra logo depois. Nisso que ela entra logo depois, eu já levanto as mãos, porque fiquei entre duas mesas, e aí eu levanto as mãos e aí ela entra xingando e o rapaz falando 'eu não quero morrer, não quero morrer, para de apontar arma para mim'. Aí ela vira arma para a minha cara, depois volta para ele. E eu só com mão para cima. Um cara de azul me tira do meio da confusão. Sai meio assustado e a perna tremendo está ainda", relatou João Guilherme Desenz, vice-presidente estadual da Juventude Socialista do PDT.
O advogado Victor Marques também relatou o que viu. "Ela veio com a arma apontada no meio da rua. chegou com arma apontada correndo no meio da rua e a todo momento apontada. Em nenhum momento abaixa a arma e ela o faz pedir desculpas. Só ia liberar se pedisse desculpas".
As testemunhas ainda relataram o que a deputada falava para o rapaz dentro do bar. "Pro chão, pro chão, pro chão. A todo momento determinando que fosse para o chão", diz Victor.
"Deita no chão, deita no chão. Você me xingou, você me xingou. Vai pro chão", acrescenta João Guilherme.
Zambelli, por ser deputada, pode ter porte de arma. Segundo, a Secretaria da Segurança, o porte de arma de Zambelli é particular e foi emitido pela PF. Em um vídeo de 2023, ela comemorou nas redes sociais ter conseguido porte de arma calibre 38. Ela tem 3 pistolas, um revólver com registro válido no Sistema Nacional de Armas (Sinarm).
Resolução de 2023 do Tribunal Superior Eleitoral proíbe o porte de armas de civis e policiais que não estejam em serviço um dia antes da eleição a "100 m (cem metros) da seção eleitoral e não poderá aproximar-se do lugar da votação ou nele adentrar sem ordem judicial ou do presidente da mesa receptora, nas 48 (quarenta e oito) horas que antecedem o pleito e nas 24 (vinte e quatro) horas que o sucedem, exceto nos estabelecimentos penais e nas unidades de internação de adolescentes, respeitado o sigilo do voto".
Para Michel Saliba, integrante da Associação Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), "é vedado a qualquer cidadão portar armas na véspera da eleição, inclusive aos que têm direito de posse e porte. O objetivo da resolução do TSE é garantir a integridade da eleição e por isso a atitude de Carla Zambelli pode ser considerada uma infração eleitoral".
Na opinião dele, no entanto, o mais grave são os crimes comuns em que ela poderia se enquadrar, como ameaça e constrangimento ilegal. Ainda que ela tenha sido ofendida verbalmente, não cabe aí a justificativa de legítima defesa por uma questão de proporcionalidade.
"Neste sábado (29), por volta das 16H45, a deputada federal Carla Zambelli (PL) foi vítima de uma agressão no bairro Jardins, em São Paulo.
O episódio aconteceu quando a deputada estava de saída de um restaurante localizado entre a Avenida Lorena com a Rua Joaquim Eugênio Lima.
“Não foi um simples pressentimento. O restaurante possui várias janelas e enquanto eu ainda estava no local com meu filho de 14 anos, observei uma movimentação estranha pelas imediações.”
Ao sair do restaurante, vários homens e uma mulher começaram a cuspir na deputada que foi chamada de filha da puta e prostituta espanhola. Testemunhas locais informaram que o grupo gritava o nome de Lula.
Após cair no chão. Numa fração de segundos, a deputada examinou o fluxo de pessoas, sacou uma arma da cintura e acelerou em direção ao agressor que entrou num bar. Não houve disparos, mas Carla ficou com hematomas nas pernas após o ataque.
A deputada federal possui registro de arma de fogo para defesa pessoal.
A Resolução do TSE que proíbe o porte aplica-se apenas aos CACs, ou para ingresso de armas em seções eleitorais.
Após o incidente, Carla Zambelli registrou boletim de ocorrência contra os agressores.
Na noite desta sexta-feira (28), dados pessoais da deputada Carla Zambelli e de diversos apoiadores do Presidente Bolsonaro(PL) foram divulgados em postagens do Twitter e outras plataformas. No Twitter, o perfil falso chamado @stcdados foi um dos primeiros a compartilhar o conteúdo que foi amplamente divulgado. Um dos perfis que participaram do crime foi o @anonymousSTC, que conta com vários seguidores conhecidos como Jean Willys, Manuela D'ávila e alguns jornalistas com perfil verificado.
Pouco antes do último debate presidencial, Zambelli começou a receber milhares de ligações e mensagens ofensivas de desconhecidos. Até 2h de sábado (29), o telefone havia recebido mais de 800 ligações e mais de 42 mil mensagens de whatsapp.
A deputada publicou um vídeo no seu perfil do Instagram e tranquilizou amigos e apoiadores. Na ocasião, ela mostrou algumas mensagens de ameaças que recebeu. "Foi muito rápido, um monte de números desconhecidos começou a ligar e enviar mensagens ofensivas, pornografia. Me chamavam de nazista, vagabunda, além de me ameaçar de morte com imagens de rituais de magia negra".
Carla Zambelli acredita na possibilidade de o ataque ter sido planejado por aliados da campanha de Lula. "Em várias publicações eles admitem que iriam "travar" a comunicação dos aliados de Bolsonaro" na hora do debate. Ela também acredita que organizações internacionais possam estar envolvidas, e lembrou que "foi o Ministro Edson Fachin que apontou para o risco de hackers estrangeiros atuarem nas eleições de 2022".
O episódio fez com que apoiadores repudiassem a divulgação da privacidade e o ataque pesado que Carla recebeu.
Em seus perfis, Carla recebeu centenas de mensagens de eleitores, seguidores e amigos que repudiaram o ataque e desejaram força.
A deputada está encaminhando todas as mensagens para a sua equipe jurídica e garantiu que acionará a todos que participaram nas esferas penal e cível.
Divulgar dados pessoais é crime. Ameaçar e perseguir alguém, por qualquer meio, também. São crimes com previsão de penas que podem ultrapassar dois anos de reclusão. A associação de várias pessoas para a prática do crime, é um agravante que aumenta as penas previstas."
1 de 2 Arte mostra a sequência dos fatos no caso da Zambelli — Foto: Arte/g1Arte mostra a sequência dos fatos no caso da Zambelli — Foto: Arte/g1
2 de 2 Carla Zambelli sacou arma em SP — Foto: Reprodução/TwitterCarla Zambelli sacou arma em SP — Foto: Reprodução/Twitter
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