Paralisação de rodovias por apoiadores de Bolsonaro divide caminhoneiros
Apoiadores de Jair Bolsonaro em protesto na rodovia BR-251. — Foto: Diego Varas/ Reuters
Pouco tempo após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ser confirmada no segundo turno das eleições presidenciais contra Jair Bolsonaro (PL), grupos de caminhoneiros bolsonaristas e outros apoiadores do atual presidente começaram a fechar rodovias.
Até as 23h desta segunda-feira (31), de acordo com a PRF (Polícia Rodoviária Federal), havia bloqueios parciais ou totais em 25 Estados (incluindo o Distrito Federal) — os únicos onde não havia registros de ocorrências eram Alagoas e Amapá.
Em nota, a PRF afirma que acionou a AGU (Advocacia-Geral da União) para conseguir liberar estradas bloqueadas e diz que adotou todas as providências para o retorno da normalidade do fluxo nas rodovias afetadas.
A proporção dos protestos não se alastrou como na greve de 2018, mas causa preocupação em partes do país por fazerem com que algumas rodovias sejam completamente bloqueadas, provocando engarrafamento de mais de 12 horas.
Na noite de segunda-feira, a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) publicou uma nota de repúdio aos protestos, classificando-os como "antidemocráticos".
"Vivenciamos uma ação antidemocrática de alguns segmentos que não representam a categoria dos caminhoneiros autônomos de não aceitação do resultado das urnas. Precisamos respeitar o que o povo decidiu nas urnas: a vitória de Luís Inácio Lula da Silva", diz o texto, em nome do diretor da CNTTL, Carlos Alberto Litti Dahmer, que é caminhoneiro autônomo de Ijuí (RS).
2 de 7 Pneus queimados e entulho são usados para não deixa veículos passarem em alguns locais. — Foto: Reuters via BBCPneus queimados e entulho são usados para não deixa veículos passarem em alguns locais. — Foto: Reuters via BBC
Janderson Maçanero, caminhoneiro de Itajaí (SC) conhecido como Patrola, que faz parte dos protestos atuais, diz que, na sua cidade, a movimentação é composta apenas por 20% de caminhoneiros, e o restante dos manifestantes são cidadãos de diferentes profissões.
O cenário, com o propósito de não aceitar um novo presidente, é diferente de outros que o caminhoneiro participou, como em 2014, uma paralisação feita para reivindicar queda nos preços de combustíveis, e em 2023, pela contratação direta de caminhoneiros sem terceiros que intermediassem valores.
3 de 7 Janderson Maçanero, caminhoneiro de Itajaí (SC). — Foto: Arquivo pessoal via BBCJanderson Maçanero, caminhoneiro de Itajaí (SC). — Foto: Arquivo pessoal via BBC
Ele afirma também que os protestos não têm liderança direta ou reivindicação específica — alguns, por exemplo, defendem um golpe de Estado conduzido pelos militares, que ele diz não ser o seu caso — mas todos têm, em comum, a rejeição a Lula e a não aceitação da vitória do petista nas eleições.
4 de 7 Foto de protesto no Mato Grosso do Sul. — Foto: Reuters via BBC
Foto de protesto no Mato Grosso do Sul. — Foto: Reuters via BBC
Patrola afirma que "ir à guerra", para ele, é não aceitar o resultado, mas não descreve exatamente como isso poderia se desenrolar, já que ele próprio diz não apoiar um golpe militar. Ele diz aguardar que o presidente anuncie a solução.
A aceitação dos resultados por parte de Bolsonaro, complementa, seria uma decepção para ele e para muitos de seus colegas.
Sobre quanto tempo a paralisação poderia durar, ele diz que "tempo é relativo" para os caminhoneiros. "Aqui estamos em casa. Nosso caminhão tem onde comer, onde dormir… Esse é o nosso cotidiano."
5 de 7 Bloqueio de estradas começou após TSE anunciar resultado das eleições. — Foto: ReutersBloqueio de estradas começou após TSE anunciar resultado das eleições. — Foto: Reuters
Wanderlei Dedeco, caminhoneiro de Curitiba, Paraná, que atua como "conselheiro" das lideranças dos caminhoneiros, segundo sua própria descrição, se diz contra as paralisações e afirma que até o começo do dia, não acreditava que os protestos durariam por muito tempo, mas já passou a ver o cenário com "outros olhos".
6 de 7 Wanderlei Dedeco, caminhoneiro de Curitiba, Paraná. — Foto: Arquivo pessoal via BBC
Wanderlei Dedeco, caminhoneiro de Curitiba, Paraná. — Foto: Arquivo pessoal via BBC
"Os protestos estão sendo feitos por caminhoneiros revoltados, que não aceitam perder, e por empresários - nos locais você só vê 'carrões' - que acreditam que vão perder algo com o governo Lula. Mas a democracia marcou presença ontem, é assim que funciona o jogo."
7 de 7 Apesar dos protestos, há representantes dos caminhoneiros que acreditam haver possibilidade de diálogo com o governo Lula. — Foto: Diego Vara/ Reuters via BBCApesar dos protestos, há representantes dos caminhoneiros que acreditam haver possibilidade de diálogo com o governo Lula. — Foto: Diego Vara/ Reuters via BBC
Dedeco foi uma das lideranças da greve de caminhoneiros de 2018, e diferentemente dos caminheiros ativos nos protestos, apoiou Lula no segundo turno das eleições.
Na opinião dele, os caminhoneiros tendem a ser beneficiados com a eleição de Lula. "Com o governo Bolsonaro não havia condições para sentar e negociar. Já o governo de Lula sempre foi mais democrático, aberto a ouvir o que estava bom e o que não estava. Acredito que a categoria não terá dificuldade em negociar com o governo Lula", diz.
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