Presidente Boric, do Chile, classifica de 'terroristas' ataques em área de conflito mapuche
O presidente chileno Gabriel Boric fala durante uma coletiva de imprensa em Temuco, Chile, em 10 de novembro de 2022 — Foto: MARIO QUILODRAN / AFP
O presidente do Chile, Gabriel Boric, iniciou nesta quinta-feira (10) sua primeira visita em oito meses de governo à região de La Araucanía, uma zona de conflito com indígenas mapuche, na qual classificou de "terroristas" os ataques recentes.
A visita de Boric à região foi antecedida por uma série de atentados com incêndios de casas, de uma escola recém-inaugurada e de uma igreja, além de bloqueios de estradas em zonas rurais.
"São covardes. Vamos atrás deles com toda a força da lei. Que recordações me trazem os incêndios da escola e da igreja? Me fazem lembrar quando, na década de 1930, os nazistas queimavam sinagogas. A escola me faz lembrar quando, em setembro de 1973, a ditadura militar queimava livros", disse Boric, ao ser perguntado sobre os ataques em La Araucanía.
Boric foi alvo das críticas de familiares de vítimas e de dirigentes opositores por ter definido alguns ataques na região como delinquência ou vandalismo. "Eu não quero entrar em uma polêmica semântica sobre isso, creio que nos causa muito dano. Eu acredito que, na região, houve atos de caráter terrorista", disse ele nesta quinta.
Nesse sentido, Boric exemplificou como um ato "terrorista" o ataque realizado este ano contra uma casa e o incêndio de um moinho de uma família nesta região, que tem forte presença de agricultores de origem alemã.
A Coordenadoria Arauco Malleco (CAM), uma das principais organizações radicais mapuche que assumiu a autoria de ataques incendiários florestais, emitiu na quarta um comunicado para rechaçar a primeira viagem do presidente à região: "Fora Boric de Wallmapu", advertiu.
"Sua viagem a Wallmapu [nação mapuche em idioma mapudungun] obedece aos interesses da oligarquia, ao poder dos grupos econômicos que entram em confronto direto com a causa mapuche", indicou a CAM em comunicado.
"Para nós, nada mudou. Pelo contrário, agora o colonialismo e o capitalismo se apresentam com ares 'progressistas', reacomodando-se em Wallmapu para continuar com o saque, a criminalização, a repressão, o assassinato e a prisão de nossos weichafe [combatentes]", diz a nota do grupo, que se considera parte de um movimento mapuche autônomo.
2 de 2 Pessoas protestam contra o presidente chileno Gabriel Boric durante sua visita a Temuco, Chile, em 10 de novembro de 2022 — Foto: MARIO QUILODRAN / AFPPessoas protestam contra o presidente chileno Gabriel Boric durante sua visita a Temuco, Chile, em 10 de novembro de 2022 — Foto: MARIO QUILODRAN / AFP
Apesar de ter ocorrido alguma manifestação contra e a favor da visita do presidente quando ele chegou a Temuco, a ampla mobilização de segurança na região que ele visita impediu a realização de protestos mais numerosos, constatou um fotógrafo da AFP.
Boric está acompanhado dos ministros de Interior, Carolina Tohá; Obras Públicas, Juan Carlos García, e com a ministra a cargo das relações do Executivo com o Congresso, Ana Lya Uriarte. Juntos, eles apresentaram um resumo das gestões que vinham preparando para que esta região encontre uma via de diálogo e paz para um conflito histórico pela reivindicação de terras do povo mapuche.
"Eu digo desde antes de ser presidente: a única forma de deter esta escalada de violência, em que delinquentes instrumentalizam a legítima aspiração de justiça, reconhecimento e terra do povo mapuche para seus fins criminosos, é abordar esta dívida histórica de maneira séria e com perspectiva. E, para isso, não existem atalhos, não existe bala de prata, não existe varinha mágica", assegurou o chefe de Estado chileno.
"Não fomos capazes de encontrar o caminho para a paz", lamentou Boric após se reunir com autoridades locais, familiares de vítimas da violência e o governador Luciano Rivas, a quem prometeu a criação de dois novos centros de atenção para vítimas da violência rural.
Apenas neste ano de 2022, foram registradas ao menos oito mortes causadas pela violência rural.
Em uma escalada de violência inédita, e com prisões recentes de policiais vinculados ao tráfico de armas e a máfias de roubo de madeira da rica indústria florestal, em La Araucanía há zonas em que dirigentes indígenas radicalizados não permitem a entrada de ninguém que seja de fora de seu povo.
Foi o caso em Temucuicui, localidade rural para onde se dirigia a então ministra do Interior, Izkia Siches, dois dias depois da posse do presidente Boric em março, quando sua comitiva foi hostilizada com tiros para o alto.
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