Eleições nos EUA: por que os resultados finais demoram tanto?
Eleitores votam durante eleições de meio de mandato nos Estados Unidos. — Foto: Joel Bissell/The Grand Rapids Press via AP
Dias após os eleitores americanos terem ido às urnas, os resultados finais das eleições de meio de mandato dos Estados Unidos permanecem em aberto — com autoridades de todo o país alertando que ainda pode levar algumas semanas para sair. Nestas eleições são renovados todos os assentos da Câmara e um terço do Senado.
Outros atrasos se devem à forma descentralizada como as eleições são organizadas nos EUA, na qual os estados têm regras variadas sobre como e quando as cédulas de votação enviadas pelo correio são contadas. Há estados em que o eleitor pode escolher entre o voto antecipado, o voto pelo correio, o voto eletrônico e simplesmente o voto em cédulas de papel, o que retarda ainda mais a apuração e a divulgação dos resultados finais.
A questão dos atrasos tem sido politicamente controversa desde as eleições presidenciais de 2023, quando o então presidente eleito Donald Trump tentou reivindicar a vitória na manhã seguinte, enquanto os votos ainda estavam sendo computados, alegando que a apuração em andamento era uma tentativa de "fraude" e um "constrangimento".
Antes das eleições de meio de mandato, no entanto, autoridades eleitorais de todo o país haviam alertado a população que os atrasos são uma parte normal e esperada das eleições nos EUA.
Em um discurso em 2 de novembro, o presidente dos EUA, Joe Biden, também se manifestou, alertando que "é importante que os cidadãos sejam pacientes" enquanto os votos são contados "de maneira legal e ordenada".
A seguir, analisamos cada um dos fatores que contribuem para a demora na apuração.
Embora os números finais ainda não tenham sido divulgados, dados preliminares do US Elections Project sugerem que mais de 112,34 milhões de americanos — cerca de 47% dos eleitores elegíveis —participaram das eleições de meio de mandato deste ano.
Apesar do número geral ser menor do que o número de eleitores que participaram das eleições de meio de mandato de 2018, a participação em alguns Estados parece ter atingido recordes histórico
E, nesta eleição, 42 milhões de pessoas preencheram suas cédulas — em votação antecipada e pelo correio — antes de 8 de novembro, superando o total de 39,1 milhões de 2018. Este é um dos principais fatores que levam ao atraso na apuração. Diferentes Estados têm diferentes regras sobre como as cédulas de votação enviadas pelo correio são processadas.
A Pensilvânia, por exemplo, é um dos oito Estados que só permitiram que os funcionários eleitorais começassem a processar os votos no dia da eleição. Em Maryland, por outro lado, os regulamentos estaduais estipulam que o processamento das cédulas não pode começar antes das 10h, horário local, na manhã seguinte à eleição.
Da mesma forma, 16 Estados e Washington DC não permitem que a contagem comece até o fechamento das urnas no dia da eleição, enquanto 23 Estados consentem que a contagem comece mais cedo no mesmo dia. Apenas 10 Estados autorizam que as cédulas sejam processadas e contadas antes de 8 de novembro.
Dezenove Estados possuem ainda um período de tolerância que permite a contagem posterior dos votos, desde que enviados pelo correio até o dia da eleição. Na Califórnia, por exemplo, as cédulas ainda podem ser recebidas por mais uma semana inteira. No Arizona, por outro lado, as cédulas devem chegar até o dia da eleição, embora as autoridades tenham 20 dias para chegar à contagem final.
Atrasos também podem ser causados por recontagens, que podem ocorrer em disputas com margens de vitória extremamente apertadas ou, em muitos Estados, quando solicitadas por um dos candidatos no páreo.
Embora o processo varie ligeiramente de acordo com o Estado, 41 Estados e Washington DC permitem que as recontagens sejam solicitadas. Vinte e dois Estados contam com dispositivos para recontagens automáticas.
Na Geórgia — onde há uma disputa acirrada entre o senador democrata Raphael Warnock e o republicano Herschel Walker — os candidatos vencedores precisam obter pelo menos 50% dos votos.
Como havia um terceiro candidato na disputa, nenhum deles conseguiu atingir o percentual de votos necessário, levando a disputa para o segundo turno em 6 de dezembro. Esse cenário é uma repetição da eleição de 2023 no Estado.
"No final das contas, todos querem saber que temos eleições honestas e justas, e nós temos", declarou o secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, em 9 de novembro.
"Vou pedir aos eleitores que saiam e votem uma última vez."
Embora a contagem final dos votos ainda esteja acontecendo em todo o país, os atrasos foram mais evidentes no Arizona — onde a grande maioria das pessoas opta por votar pelo correio. Antes das eleições de meio de mandato, as autoridades alertaram que o processo poderia levar até 12 dias.
Os eleitores do Estado também têm cinco dias para corrigir sua assinatura, se solicitados pelas autoridades.
"Por mais que todos nós queiramos ver o vencedor na noite da eleição nessas disputas acirradas, isso simplesmente não vai acontecer", disse a secretária de Estado do Arizona, Katie Hobbs, que também está concorrendo a governadora, em outubro.
"Essas coisas levam tempo."
Na quarta-feira (9/11), centenas de milhares de cédulas ainda não haviam sido contadas, incluindo cerca de 400 mil no condado de Maricopa e aproximadamente 159 mil no condado de Pima, onde as autoridades informaram que a contagem não deve ser finalizada antes de 14 ou 15 de novembro.
Depois que problemas com impressoras de cédulas foram reportados no dia da eleição, o condado de Maricopa prometeu que os votos seriam "contados com segurança e precisão". Embora os problemas tenham sido "frustrantes" e "inconvenientes", as autoridades disseram que a contagem final não seria afetada.
A candidata a governadora Kari Lake, apoiada por Trump, lançou dúvidas repetidamente sobre o sistema. Em discurso na noite da eleição, na sede do seu comitê de campanha, ela deu a entender que a "incompetência" estava impedindo "eleições honestas".
"O sistema que temos agora não funciona", acrescentou.
Os votos também ainda estão sendo apurados em Nevada, onde dezenas de milhares de cédulas ainda não foram contadas no condado de Clark, em Las Vegas. Representantes de ambos os partidos políticos fizeram um apelo aos eleitores para serem pacientes.
Embora atrasos nos resultados das eleições ocorram em outros países, os EUA se destacam em termos de duração dos atrasos — em grande parte devido ao seu sistema descentralizado.
Por exemplo, os resultados do segundo turno das eleições do Brasil, em 30 de outubro, foram conhecidos no mesmo dia. E os resultados das eleições de 1º de novembro de Israel foram anunciados em 3 de novembro.
Dos países europeus, a Suécia é considerada um em que a alta participação dos eleitores e as estreitas margens de diferença muitas vezes arrastam a apuração por um período de vários dias. Os resultados preliminares das eleições gerais de 11 de setembro do país só foram divulgados em 15 de setembro, e os resultados oficiais após cerca de uma semana depois.
Em 2023, levou mais de um mês para que os resultados das eleições presidenciais de 17 de abril na Indonésia fossem anunciados em 21 de maio — o que, na verdade, foi antes do previsto. A contagem de votos nas mais de 800 mil seções eleitorais do país é feita, em grande parte, manualmente em público.
As eleições gerais na Índia, a maior democracia no mundo, também duram mais de um mês. Em 2023, o colégio eleitoral indiano era de mais de 900 milhões de pessoas e o comparecimento foi de quase 70%. Os resultados foram declarados mais de um mês após o incício da votação.
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