Presidente sul-coreano sobrevive a destituição, mas protestos não vão sair das ruas.
Seul, 07 dez 2024 (Lusa) -- Manifestantes asseguraram hoje à Lusa que os protestos na capital sul-coreana são para continuar, depois de a tentativa de destituir o Presidente, que declarou lei marcial na terça-feira, ter fracassado.
Mesmo à frente do portão da Assembleia Nacional uma multidão que não se cala. "Destituição! Destituição", ouve-se. São quase dez da noite (menos nove em Lisboa), a votação acabou há poucos minutos lá dentro e o Presidente Yoon Suk-yeol não caiu.
"Estamos zangados", reage à Lusa Moonsung. "Vamos voltar na próxima semana, e na próxima, e na outra, até o Presidente se demitir", acrescenta Park. São os dois estudantes universitários, têm 19 anos, e não querem ser identificados pelo nome completo. Pela mesma razão trazem uma máscara a tapar metade do rosto.
A votação de uma moção de destituição do dirigente da Coreia do Sul estava agendada para as cinco da tarde (horário local). Para passar precisava de pelo menos oito votos do Partido do Poder Popular (PPP), no poder, que acabou por boicotar a votação. Mas o processo durou mais de quatro horas, com alguma expectativa de que os deputados do PPP regressassem ao salão para votar.
Cá fora, milhares de pessoas esperaram ao frio. Mensagens contraditórias circulavam, a esperança mantinha-se acesa. "Os membros que saíram da sala são conservadores, por isso não esperávamos muito deles, mas há sempre esperança, porque somos humanos, eles são humanos e somos todos cidadãos", comenta Choi Myuong-jin, designer de 27 anos.
É o segundo protesto de Choi desde terça-feira, dia em que Yoon Suk-yeol decretou lei marcial. "Isto não faz sentido no século XXI, não vamos desistir, voltaremos nas próximas semanas", assegura.
Numa comunicação ao país, Yoon justificou a lei marcial com a necessidade de "erradicar forças a favor da Coreia do Norte e proteger a ordem constitucional", acusando ainda a oposição de atividades contra o Estado e de conspirarem "para uma rebelião". Mas poucas horas depois anunciou a suspensão da lei marcial, entretanto revogada pelo parlamento.
"Neste momento, sinto-me desgraçada, horrível. É insuportável, intolerável", diz a artista Yu Hyun-mi, pelo terceiro dia nos protestos.
Horas antes, num hotel perto do parlamento, enquanto se esperavam os resultados, Yu e a irmã, Yu Hyun-Joo, ainda correram para a frente da televisão quando um grupo de manifestantes começou a bater palmas. É que um terceiro membro do PPP voltava ao plenário. Aí regressou alguma confiança.
Lá fora, a música não parava, nem as pessoas paravam de dançar. Ouvia-se "APT", de Bruno Mars e Rosé, da banda sul-coreana Black Pink. "Faltam cinco membros, votem por nós, votem pela destituição", gritava alguém ao microfone. Acabou por não acontecer.
"O resultado não é surpreendente, mas depois deste falhanço, o partido no poder e o Presidente não sobrevivem à tempestade que aí vem. Não vai ser fácil", considera Yu Hyun-Joo, reformada de 66 anos.
Muitas das pessoas com quem a Lusa falou ao longo do dia acreditam que Yoon acabará por cair. A história assim o diz, lembra Chanmi, de 30 anos, que às 11 da manha já estava à frente do parlamento.
"A nossa democracia é muito resiliente e acredito que vamos ultrapassar esta crise nacional, tal como aconteceu com Park Geun-hye", refere.
Em dezembro de 2016, Park, presidente desde 2013, foi destituída pelo parlamento, na sequência de um caso de corrupção e extorsão. É este passado que traz tanta gente para a rua, evoca Chanmi: "Derrubámos ditadores duas vezes e destituímos a antiga presidente. Sabemos que isso pode acontecer. E sabemos que as pessoas responsáveis por esses atos foram punidas".
Reflexo de "um trauma nacional" - assim explica Park Yoon-ji, estudante de 22 anos, a mobilização em massa dos sul-coreanos.
"As gerações que eram estudantes universitários ou jovens adultos durante a lei marcial de 1979, são agora políticos ou pessoas com poder, estão a liderar. E nós, a geração seguinte, aprendemos tanto sobre isso".
CAD // MAG
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