Com 100 anos, Paraisópolis reescreve história por meio da arte e do empreendedorismo
Paraisópolis, segunda maior favela da cidade de São Paulo e quinta maior do país, completou cem anos em setembro e agora escreve uma nova narrativa para o seu futuro. Nela, saem de cena os estigmas que recaem sobre a periferia e ganham espaço a música, a arte e o empreendedorismo produzidos por seus moradores.
Talentos como MC Suuh Collyns, artista de Paraisópolis descoberta por um produtor da comunidade da Zona Sul da capital. Ela conta que conseguiu superar os desafios que cercam quem mora na periferia e pretende dar a outras pessoas a mesma oportunidade.
“Desde criança eu tenho o sonho de cantar, de mostrar, através da música, o meu sentimento e o que eu quero passar para as pessoas. A comunidade não tem só coisas ruins, tem cultura, tem amor, tem humildade, e é isso que eu quero. Através da minha experiência, através da minha oportunidade, trazer outras pessoas junto comigo.”
1 de 1 Trabalhadores pintam as fachadas das residências na favela de Paraisópolis, como parte da celebração do centenário da comunidade, em 16 de setembro de 2023, em São Paulo — Foto: Andre Penner/APTrabalhadores pintam as fachadas das residências na favela de Paraisópolis, como parte da celebração do centenário da comunidade, em 16 de setembro de 2023, em São Paulo — Foto: Andre Penner/AP
Adriano Santos é o produtor da MC e reconhece a importância da existência de pessoas que incentivem artistas locais a saírem do anonimato, evidenciando suas potências.
“A gente vê tanta gente talentosa que às vezes não tem oportunidade, às vezes até passam por dificuldade financeira para gravar uma produção. Eu fico feliz em dar oportunidades para essas pessoas”, avalia Adriano.
Em 4 de novembro, quando se comemora o Dia da Favela, houve diversas atividades culturais em Paraisópolis, que contaram com iniciativas do pavilhão social do G10 Favela, uma organização que visa promover o empreendedorismo e a cultura periférica dentro das favelas do país.
Gilson Rodrigues, presidente do G10 Favelas, celebra a nova comunidade que vem sendo construída. Uma favela que se transforma e que quer virar um bairro, mas que depende de oportunidades e investimentos para que essa mudança se concretize.
“Queremos mostrar um novo olhar para a favela. Em vez da favela marginal, violenta, carente, uma favela organizada, economicamente ativa, que sabe o que quer, que busca investimentos para transformar a sua vida”, afirma Gilson.
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O G10 Favelas tem lideranças em diversos estados. Cada iniciativa volta o seu foco para as particularidades de suas regiões, mas todas identificam a necessidade de reconhecimento das comunidades como espaço que movimenta a economia, gerando empreendedorismo, arte e cultura.
Kenedy Alessandro, líder G10 Favelas de Minas Gerais, lembra que é preciso “capacitação e qualificação profissional”. “Queremos buscar outras perspectivas para melhorar a vida da nossa população.”
Para Fran Rodrigues, da área de comunicação do G10 Favelas, as soluções para as favelas estão nas próprias comunidades. “A gente só precisa discutir isso, seja com parceiro investidor ou com poder público, para construir as melhores soluções para a gente junto com a gente.”
Desenvolvido em Paraisópolis, o Favela Music, Arte e Cultura busca promover a cultura dentro das comunidades com seus próprios artistas. Muitos talentos são descobertos a partir de projetos como este, caso do rapper e ex-BBB Projota, que cresceu em uma comunidade na Zona Norte de São Paulo e viu na música uma oportunidade para realizar a sua arte.
“Eu acho que esse é o caminho, você tem que buscar as poucas oportunidades que tem e agarrar porque elas podem salvar a sua vida”, afirma Projota.
O rapper, que fez um show no Pavilhão Social do G10 Favelas, convidou um artista local, Young G, para subir ao palco e fazer uma batalha de rima.
Young G contou que Projota é um de seus inspiradores. “O Projota é uma inspiração desde sempre. Na hora que eu levantei a mão [para participar da batalha de rimas], eu fiquei tremendo. Fui andando, na hora que eu subi e vi aquela multidão, eu pensei: ‘Nossa, vou travar, certeza’, mas aí soltou o beat e eu fui desenrolando, fui vendo o Projota ajudando também, e fui ficando mais tranquilo. Mas na hora foi uma emoção gigante.”
Daniel Cristóvão, idealizador do Favela Music, diz que a realização do projeto foi um sonho e que seu objetivo é promover a cultura no Brasil interligando os talentos da comunidade e dando oportunidades para suas apresentações.
“Além de a gente colocar esse artista no local dele de fala, a gente acredita que ele é um empreendedor cultural, fomentando a economia local através da sua arte, dos seus talentos e dos seus dons”, afirmou Daniel.
Para Gilson, é preciso haver uma mudança de olhar. “O que nós queremos é mostrar essa favela não apenas pelo que falta, mas pelo nós temos. E temos tudo isso, temos cultura, temos força, temos gente.”
“Acho que isso é a parte mais gratificante, sabe? A gente ser reconhecido dentro da nossa própria comunidade, porque às vezes a gente não tem essa oportunidade”, finaliza MC Suuh Collyns.
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