A 'capital dos ursos polares' que está esquentando rápido demais: animais podem morrer de fome
Urso polar visto em terra — Foto: SUSI MILLER/USFWS
"Os ursos sabem que o gelo vai voltar em breve. Eles estão esperando", diz Alysa McCall, da entidade de conservação Polar Bears International (PBI).
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Alysa e sua equipe estão no Ártico canadense nos arredores da pequena cidade de Churchill, em um laboratório móvel de observação nas trilhas, que lhes permite observar os ursos em segurança.
Churchill é apelidada de a "capital do urso polar" do mundo.
A vida cotidiana é moldada pela proximidade dos ursos polares com a cidade. Os residentes têm latas de lixo à prova de ursos e a província emprega guardas de patrulha de ursos para acompanhar as crianças quando estão pedindo "doces ou travessuras" no feriado de Halloween.
É comum na cidade deixar as portas dos carros estacionados destrancadas para que outras pessoas tenham para onde correr caso encontrem um urso errante.
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Na congelada Baía de Hudson, em Churchill, os ursos usam o gelo marinho como plataforma para caçar focas.
Mas a temporada sem gelo marinho nesta parte do Ártico canadense está se alongando, deixando os ursos sem ter como caçar por longos períodos.
2 de 5 Laboratório móvel permite o estudo dos ursos em segurança — Foto: PBILaboratório móvel permite o estudo dos ursos em segurança — Foto: PBI
Cerca de 2 mil km ao sul, em Montreal, autoridades internacionais estão reunidas na cúpula da biodiversidade da ONU em um esforço para chegar a um acordo que proteja os espaços selvagens e reverta a perda da natureza causada pelo homem.
3 de 5 A vida em Churchill é definida pela proximidade com os ursos polares — Foto: MADISON STEVENS/PBIA vida em Churchill é definida pela proximidade com os ursos polares — Foto: MADISON STEVENS/PBI
A situação dos ursos polares se tornou um símbolo dos estragos causados pela mudança climática. E em Churchill, o destino da espécie incorpora a ligação indissociável entre a preservação do mundo natural e a luta contra o aquecimento global. A capital mundial dos ursos polares está simplesmente ficando quente demais para os ursos polares.
Até 2050, dizem os cientistas que estudam conservação, a duração da estação durante a qual não há gelo pode levar os ursos ao ponto de morrer de fome.
"Portanto, esta temporada intermediária - onde os ursos estão em terra e não podem aproveitar as oportunidades de caça - está ficando cada vez mais longa com o aquecimento global."
Os ursos dependem da gordura das focas para obter energia. As mães que criam seus filhotes, em particular, precisam consumir gordura suficiente.
4 de 5 Ursos em Churchill passam cada vez mais tempo em Terra — Foto: PBI/BJ KIRSCHHOFFER
Ursos em Churchill passam cada vez mais tempo em Terra — Foto: PBI/BJ KIRSCHHOFFER
Esses predadores onívoros comem quase tudo que encontram em terra, incluindo frutas, ovos, pequenos roedores e até renas, diz McCall, "mas nada substitui a gordura de foca [com alto teor de energia]".
Essas mudanças também estão aproximando ursos e humanos, tornando lugares como Churchill, onde os ursos polares e as pessoas coexistem, mais arriscados para ambos.
Um estudo do US Geological Survey, usando dados de colares de rastreamento por satélite em mais de 400 ursos polares no Alasca, mostra que o tempo que eles passam em terra aumentou significativamente nas últimas décadas.
E as comunidades ao longo de North Slope, no Alasca, já viram ursos anteriormente.
O destino de Churchill, de seu gelo marinho sazonal e das centenas de ursos polares da Baía de Hudson depende fundamentalmente do que cada país do mundo fizer para reduzir as emissões dos gases que aquecem o planeta e que estão mudando a atmosfera da Terra tão rapidamente.
"As projeções de gelo marinho são fortemente dependentes da temperatura - e a temperatura é ditada por quanto gás de efeito estufa emitimos na atmosfera", diz Lehner.
McCall diz que a subpopulação de ursos do oeste da Baía de Hudson, que ela e seus colegas estudam, diminuiu até 30% nos últimos 30 a 40 anos, devido ao menor acesso ao gelo marinho.
5 de 5 Escultura de gela em Montreal, onde acontece a cúpula de biodiversidade da ONU — Foto: VICTORIA GILLEscultura de gela em Montreal, onde acontece a cúpula de biodiversidade da ONU — Foto: VICTORIA GILL
Lehner diz que a mudança climática transformou a forma como devemos pensar em conservação.
"Estas não são questões separadas - se você se importa com os animais, se você se preocupa com a conservação, você tem que se preocupar com as mudanças climáticas".
Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-64033204
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