Professores acusados de assédio em colégio da Aeronáutica do Rio são demitidos por ‘conduta escandalosa’

Colégio Brigadeiro Newton Braga — Foto: Raoni Alves / g1 Rio 1 de 4 Colégio Brigadeiro Newton Braga — Foto: Raoni Alves / g1 Rio

Colégio Brigadeiro Newton Braga — Foto: Raoni Alves / g1 Rio

A Força Aérea Brasileira (FAB) demitiu os professores 💥️Álvaro Luiz Pereira Barros e 💥️Eduardo Silva Mistura por "incontinência pública e conduta escandalosa na repartição", quando o servidor apresenta 💥️comportamentos vulgares e causa 💥️perturbação da moral.

Os dois professores foram investigados por possíveis práticas de assédios sexuais contra alunos e alunas do 💥️Colégio Brigadeiro Newton Braga, na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O caso foi revelado pelo g1 em maio.

A defesa dos dois informou ao g1 que os dois negam as denúncias e que vão recorrer.

As demissões foram publicadas no Diário Oficial da União.

Em outubro de 2022, os dois já tinham sido transferidos de unidade, deixando o Newton Braga e passando a integrar o corpo docente da 💥️Universidade da Força Aérea, no Jardim Sulacap, na Zona Oeste do Rio.

As investigações tiveram início após a Comissão de Direitos Humanos da OAB do Rio receber e encaminhar ao órgão federal uma série de denúncias que apontavam para possíveis abusos que teriam 💥️acontecido entre os anos de 2014 e 2023, quando algumas estudantes do colégio da Aeronáutica ainda eram menores de idade.

A atuação dos professores é ainda investigada pelo Ministério Público Federal (MPF) e foi concluída pela Aeronáutica, através de Processos Administrativos Disciplinares (Pads) instaurados na instituição de ensino.

Ao longo do processo, uma junta militar ouviu os suspeitos e vários dos alunos envolvidos, seja como testemunhas ou como possíveis vítimas.

No material entregue aos advogados da OAB estavam 💥️prints de trocas de mensagens, áudios e relatos que indicavam um 💥️comportamento abusivo constante dos professores Eduardo Mistura e Álvaro Barros, responsáveis pelas aulas de História e Educação Física, respectivamente, dos alunos dos ensinos médio e fundamental.

As demissões dos profissionais foram consequência da conclusão dos processos administrativos, mas o caso segue sendo investigado pela Divisão Criminal Extrajudicial do Ministério Público Federal (Dicrimex). O andamento do processo está em segredo de Justiça.

Em uma decisão de outubro de 2022, o MPF resolveu arquivar parte do processo que investigava os professores do Newton Braga.

A decisão tratou sobre a suspeita de práticas de 💥️improbidade administrativa. Isso ocorre quando algum agente público, servidor ou não, atua contra a administração direta ou indireta de qualquer dos poderes da União.

Nesse caso, o MPF entendeu que os professores não atentaram contra os princípios da administração pública, ou violaram os deveres de honestidade, imparcialidade e legalidade.

Em abril do ano passado, um grupo de ex-alunas do colégio disse ter sofrido assédio sexual por parte de dois professores da instituição subordinada à Força Aérea Brasileira (FAB).

Em um dos prints apresentados, com uma conversa atribuída ao professor Eduardo Mistura e uma aluna, a insistência dele chamou atenção.

Na sequência dessa conversa, a aluna questiona por que ele tem pensado tanto nela.

Ex-alunas do Colégio Brigadeiro Newton Braga apresentaram mensagens que seriam de professores da escola — Foto: Arquivo pessoal 2 de 4 Ex-alunas do Colégio Brigadeiro Newton Braga apresentaram mensagens que seriam de professores da escola — Foto: Arquivo pessoal

Ex-alunas do Colégio Brigadeiro Newton Braga apresentaram mensagens que seriam de professores da escola — Foto: Arquivo pessoal

"Ora, mas por quê? Desculpa perguntar. Eu não tenho nada de especial para ser motivo de pensamentos", disse a aluna.

O professor então afirmou: "Você é linda. Quero te pegar no colo. Você é toda especial. Deixa eu te ver e te pegar no colo..."

Uma das jovens que procurou ajuda da Comissão de Direitos Humanos da OAB disse que o professor de história tinha uma prática pouco comum. Segundo ela, todo início de ano, Eduardo Mistura pedia que os estudantes escrevessem uma redação sobre seus 💥️problemas pessoais, laços de família e eventuais preocupações.

De acordo com essa aluna, as redações serviam para que o professor estudasse o perfil de cada aluna e assim definia qual seria a jovem mais vulnerável. A advogada que recebeu as denúncias e conversou com as ex-estudantes concordou com essa avaliação.

Ex-alunas do Colégio Brigadeiro Newton Braga apresentaram mensagens que seriam de professores da escola — Foto: Arquivo pessoal 3 de 4 Ex-alunas do Colégio Brigadeiro Newton Braga apresentaram mensagens que seriam de professores da escola — Foto: Arquivo pessoal

Ex-alunas do Colégio Brigadeiro Newton Braga apresentaram mensagens que seriam de professores da escola — Foto: Arquivo pessoal

Segundo as alunas, 💥️Eduardo Mistura era muito querido pelos estudantes. Uma das jovens que buscou ajuda contou que ele era diferente dos outros professores do colégio, dava mais liberdade aos alunos e ganhava a confiança de todos com um jeito mais divertido.

"Desde o primeiro dia ele passava essa confiança, que ele estaria ali para ouvir os alunos, saber o que eles tinham a dizer. No ensino médio, a gente tá se preparando para o Enem. É uma pressão gigante e muitos professores do Newton tratavam os alunos como robôs, eram secos, as vezes mais grosseiros. Ele tinha essa abordagem mais passional e todo mundo foi pegando confiança. Muitos alunos o veneravam justamente por conta disso. E assim ele construía a imagem dele", relatou uma jovem.

A jovem, que tem medo de revelar sua identidade, disse ao g1 que o professor Eduardo Mistura passou a "stalkear" suas redes sociais. A expressão em inglês, que significa perseguir, é usada para explicar o comportamento de alguém que passa a buscar tudo sobre uma outra pessoa na internet.

Outras estudantes ouvidas pelo g1 recordaram, constrangidas, uma prática comum do professor Eduardo Mistura. Segundo elas, o professor tinha a mania de 💥️abraçar algumas alunas de forma prolongada e bastante apertada.

Segundo os relatos, Mistura tinha o costume de esperar pela entrada de todos os alunos ao lado da porta da sala de aula. Os meninos, ganhavam aperto de mão ou "soquinhos". Já para as meninas, o tratamento era mais carinhoso.

"Tinha também essa questão dos abraços. Era 7h da manhã e ele ficava na porta da sala para dar abraço nas meninas. Com os meninos ele falava só assim de mão (dando soco). Ele não fazia com todas as meninas, mas tinha também esses abraços demorados. Era muito demorado mesmo. No final da aula também. Era muito estranho. Você se sentia muito desconfortável", contou outra ex-aluna.

Não foi só o professor de história da instituição militar que virou alvo de denúncias. O professor de Educação Física do colégio na Ilha do Governador, Álvaro Barros, ficou conhecido pelos alunos como 💥️sonhador.

O apelido, aparentemente inocente e lúdico, segundo as denúncias, revelava um modo repetitivo e inconveniente de abordar alunas menores de idade através das redes sociais. Álvaro ficou conhecido como "sonhador" por sempre dizer que havia sonhado com suas alunas.

Além de falar sobre supostos sonhos com as alunas, o professor também foi acusado de outros abusos. Já em 2023, Álvaro teria procurado uma outra aluna menor. Dessa vez, a abordagem aconteceu por mensagens em um aplicativo de conversas.

Ex-alunas do Colégio Brigadeiro Newton Braga apresentaram mensagens que seriam de professores da escola — Foto: Arquivo pessoal 4 de 4 Ex-alunas do Colégio Brigadeiro Newton Braga apresentaram mensagens que seriam de professores da escola — Foto: Arquivo pessoal

Ex-alunas do Colégio Brigadeiro Newton Braga apresentaram mensagens que seriam de professores da escola — Foto: Arquivo pessoal

Nas mensagens, a jovem parece comentar sobre sua rotina durante a pandemia, quando as aulas presenciais foram suspensas.

Em nota, o advogado 💥️Marcelo Davidovich, responsável pela defesa dos professores Álvaro Barros e Eduardo Mistura, afirmou que os processos administrativos não estão encerrados e que há recursos a serem julgados naquele âmbito.

"Toda essa questão merecerá análise do Poder Judiciário, o que demonstra haver precipitação nas conclusões e inegável objetivo de cancelamento social tanto do professor Álvaro como do professor Eduardo", dizia a nota da defesa.

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