Como vem a Mocidade? Padre Miguel vai exaltar a brasilidade da arte popular e criativa do barro dos 400 discípulos de Mestre Vit
A aridez do sertão em tons terrosos, na Mocidade, para exaltar a cultura da arte em barro do Alto do Moura, em Pernambuco — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 Rio
A Mocidade Independente de Padre Miguel vai entrar na Sapucaí, este ano, com um enredo bem pé no chão. Ou melhor, no barro, com a criatividade genuína do trabalho dos 400 artistas do Alto do Moura, de Caruaru, em Pernambuco, discípulos de 💥️Mestre Vitalino. A escola vai elevar as obras de barro ao brilho de sua estrela.
Terceira escola a desfilar no domingo (19), a Mocidade vai virar o mundo de ponta-cabeça para apresentar o enredo "Terra do meu céu, estrelas do meu chão", do carnavalesco 💥️Marcus Ferreira, que estreia em voo solo no Grupo Especial, na sua escola do coração. Marcus dividiu com 💥️Tarcísio Zanon o campeonato de 2023, na Unidos do Viradouro.
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Admirador de temas que destacam a brasilidade mas pouco explorados no carnaval do Rio, Marcus vai fazer do desfile da Mocidade o lugar de fala dos artistas do Alto do Moura, que, com resiliência, criatividade e amor ao próprio chão, transformaram o vilarejo no maior centro de arte figurativa das Américas.
"O valor que eles dão ao chão, ao barro que transformam em arte, é emocionante. É daquele solo árido do sertão pernambucano que todos tiram o seu sustento. É impressionante o legado deixado por Mestre Vitalino. Eles não são artesãos, são artistas porque cada peça é única", explicou o carnavalesco, que tinha esse enredo na cabeça há seis anos.
2 de 6 Alegorias grandiosas, com muito verde, branco, amarelo e dourado, as cores preferidas da Mocidade — Foto: Alba Valéria Mendonça/ g1 RioAlegorias grandiosas, com muito verde, branco, amarelo e dourado, as cores preferidas da Mocidade — Foto: Alba Valéria Mendonça/ g1 Rio
Seguindo a linha do enredo, Marcus desenvolveu um carnaval criativo, sustentável e grandioso. Ousou no emprego de materiais alternativos e nas texturas, mas não abriu mão do verde e branco do pavilhão e dos tons terrosos e amarelados.
"A escola começa com a criação do mundo, a criação do homem e do barro, onde mostro o poder de síntese do meio natural para a criação do barro. Um momento entre criador e criatura, sendo que no mundo criado por Mestre Vitalino", disse Marcus.
3 de 6 Leveza, beleza e criatividade na fantasia da Mocidade que representam trabalhadores, como os plantadores de algodão, nas obras dos artistas do Alto do Moura — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 RioLeveza, beleza e criatividade na fantasia da Mocidade que representam trabalhadores, como os plantadores de algodão, nas obras dos artistas do Alto do Moura — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 Rio
Materiais rústicos e pouco ou nada usados no carnaval fazem parte do universo criado pelo carnavalesco, que adverte:
"Não é um carnaval pobre, mas dentro da realidade do que pede o enredo. Ou seja, ao contrário, é rico, sustentável e criativo. Como estamos falando da arte criada a partir do barro, um material simples, natural, não tinha sentido fazer um carnaval com materiais rebuscados. Temos de ser coerentes com o enredo", afirmou o carnavalesco.
Não é porque a Mocidade está usando mais materiais rústicos que vai deixar de fazer um desfile grandioso. Ao contrário, não faltará volume nas alegorias e fantasias. Cada setor do desfile vai destacar a característica de um expoente discípulo de Vitalino.
4 de 6 Uma amostra do legado de Mestre Vitalino, que transformou o Alto do Moura no maior centro de arte figurativa das Américas — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 RioUma amostra do legado de Mestre Vitalino, que transformou o Alto do Moura no maior centro de arte figurativa das Américas — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 Rio
A Rota da Roça, escultura icônica de Mestre Vitalino, confeccionada com barro tauá (mais amarelado), que mostra uma família a caminho do trabalho, serve de ponto de partida para a Mocidade mostrar o ciclo da vida, de como os artistas usam o barro.
O segundo setor da escola é inspirado na arte de 💥️Zé Caboclo, que usa um barro mais alaranjado e incorpora madeira e ferro fundido ao seu trabalho. É o setor que aborda temas rurais do agreste nordestino: o quebrador de milho, o cultivador de girassol, o trabalho na moenda e o carro de boi, importante meio de transporte de carga e pessoas e carrega as manufaturas.
O terceiro setor é inspirado na arte de 💥️Manoel Galdino, que faz um trabalho figurativo mais surrealista. Ele se inspira em lendas locais, andarilhos e baseado na estética armorial.
5 de 6 A estrela da Mocidade vai brilhar no setor inspirado na arte de Terezinha Gonzaga, que usa estrelas em seu trabalho — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 RioA estrela da Mocidade vai brilhar no setor inspirado na arte de Terezinha Gonzaga, que usa estrelas em seu trabalho — Foto: Alba Valéria Mendonça/g1 Rio
A estrela da Mocidade aparece em destaque, associada ao trabalho de 💥️Terezinha Gonzaga, a artista mais barroca do Alto do Moura, que trabalha com um barro mais rosado. Ela gosta de tratar cenas religiosas, como casamentos, batismos, procissões e morte. E sempre usa estrelas em suas peças.
"O título do enredo é uma frase dela. É uma artista voltada para a espiritualidade, que diz que os ensinamentos vêm do céu", explicou Marcus.
6 de 6 No carnaval da Mocidade, o predomínio das cores do pavilhão em fantasias e alegorias — Foto: Alba Valéria Mendonça/ g1 RioNo carnaval da Mocidade, o predomínio das cores do pavilhão em fantasias e alegorias — Foto: Alba Valéria Mendonça/ g1 Rio
O barro ganha cores vivas e alegres com o trabalho de 💥️Manuel Eudócio, que retrata em suas obras cavalos marinhos, as manifestações culturais, os festejos os folguedos populares.
"Cerca de 80 pessoas, que fazem parte da terceira geração de artistas discípulos de Vitalino, virão de Caruaru para desfilar na Mocidade. Eles já eram apaixonados pela Mocidade, gostam dos sambas, acompanham os desfiles. Vai ser uma grande honra poder contar com esses artistas no nosso carnaval", disse Marcus Ferreira.
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