ONG suspende operações em Porto Príncipe após violência e ameaç
Depois de "graves ameaças feitas contra o seu pessoal por membros das forças policiais haitianas, a MSF é forçada a suspender as suas atividades em Porto Príncipe até novo aviso", disse a ONG, na terça-feira à noite.
Num comunicado de imprensa, a MSF recordou que já tinha denunciado, na semana passada, que uma das suas ambulâncias "foi atacada, levando à execução de pelo menos dois doentes e a agressões ao pessoal médico", em 11 de novembro.
"Na semana seguinte, os polícias pararam repetidamente veículos da MSF e ameaçaram diretamente os funcionários, incluindo ameaças de morte e violação", denunciou ainda a ONG.
"No Haiti e noutros lugares, estamos habituados a trabalhar em condições de extrema insegurança, mas quando até a polícia se torna uma ameaça direta, não temos outra escolha senão suspender os nossos projetos", lamentou a MSF.
O anúncio da ONG surge horas depois de um porta-voz da polícia do Haiti ter dito que a polícia e os habitantes de Porto Príncipe mataram 28 membros de grupos armados depois de uma ofensiva em vários bairros da capital.
Durante a noite, a polícia intercetou um camião e um miniautocarro que transportavam membros de gangues armados em dois bairros, matando 10 deles no local, e perseguindo e matando outros juntamente com residentes locais, segundo o porta-voz adjunto da Polícia Nacional haitiana, Lionel Lazarre.
As autoridades locais e organizações internacionais estimam que grupos criminosos dominam cerca de 80% da capital do Haiti, o país mais pobre do continente americano e o 158.º entre 193 países no índice de desenvolvimento humano.
Os gangues armados, que tentam tomar o poder no país, já provocaram a morte a quase cinco mil pessoas nos primeiros nove meses de 2024, segundo dados da ONU.
A violência dos grupos armados já desalojou um total de 4.372 pessoas, das quais 3.586 na capital, 488 em Tabarre e 298 em Delmas, segundo números divulgados pela Organização Internacional para as Migrações.
Um novo primeiro-ministro, Alix Didier Fils-Aimé, tomou posse a 11 de novembro, após a destituição do antecessor, Garry Conille, pelo Conselho Presidencial de Transição, cujos membros estão acusados de abuso de poder e suborno.
Fils-Aimé prometeu "restaurar a segurança" no país, que não tem um Presidente desde o assassínio em 2023 do então chefe de Estado, Jovenel Moise, e não realiza eleições desde 2016.
O objetivo do governo de transição é preparar o caminho para eleições que conduzam à nomeação de um Presidente até 07 de fevereiro de 2026.
VQ (JYFR/CSR/PL) // CAD
Lusa/Fim
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