As vantagens e obstáculos que Nikki Haley terá ao desafiar Trump pela candidatura republicana nos EUA
Nikki Haley durante encontro com Donald Trump em 2018 — Foto: GETTY IMAGES
Nikki Haley, a primeira candidata a desafiar Donald Trump pela indicação à candidatura presidencial republicana, realizou seu primeiro evento de campanha em Charleston, da Carolina do Sul, na quarta-feira (15/2).
Centenas de seus apoiadores da ex-governadora do Estado lotaram um local coberto ao ar livre no centro da cidade conhecido como The Shed ("o galpão").
É um local normalmente usado para casamentos e apresentações de música ao vivo, mas, para esse evento, ganhou decoração com motivos patrióticos, foi forrado com bandeirolas vermelhas, brancas e azuis e uma bandeira americana sobre o palco, além dos símbolos que formam a bandeira da Carolina do Sul ao redor de uma placa gigante com o nome "Nikki Haley".
Uma mistura de clássicos de rock e soul dos anos 1970 toca nos alto-falantes antes de Haley — que nasceu em 1972 — fazer sua "entrada triunfal".
Ela espera que esses apoiadores e os republicanos espalhados por todos os EUA estejam procurando algo diferente em um candidato — um rumo diferente e uma aparência diferente. A questão é: ela tem chances de se dar bem?
A primeira coisa a saber sobre Nikki Haley é que ela nunca perdeu uma corrida eleitoral. É um histórico marcante que será posta à prova na disputa pela indicação presidencial republicana de 2024.
Seus rivais a subestimam, mas sempre podem ter uma surpresa, diz Dave Wilson, presidente do Palmetto Family Council, um grupo cristão evangélico com sede na Carolina do Sul. Ele viu isso de perto durante a primeira campanha de Haley, há 19 anos.
"Poucas pessoas entendem a competência de Nikki Haley na política de corpo a corpo", disse ele.
"Nikki sentava lá e distribuía 'donuts' na entrada dos bairros. Ela vestia um par de jeans e um par de botas e ia ao bar de motoqueiros e sentava lá e conversava com eles."
A política de corpo a corpo será útil em lugares como Iowa e New Hampshire, os dois Estados que votam antes da Carolina do Sul nas eleições primárias que vão definir o candidato republicano.
Outro ponto forte de Haley é seu currículo, que neste ponto de sua carreira é bem amplo.
Ela ganhou destaque nacional em 2015, quando pressionou com sucesso para que a bandeira confederada fosse removida da capital da Carolina do Sul (Columbia), após um atirador racista matar várias pessoas uma igreja da comunidade negra.
Foi uma decisão que agradou líderes empresariais do Estado, que temiam boicotes crescentes e publicidade negativa sobre a presença da bandeira.
2 de 2 Nikki Haley no lançamento de sua candidatura em Charleston — Foto: GETTY IMAGES
Nikki Haley no lançamento de sua candidatura em Charleston — Foto: GETTY IMAGES
Embora Haley originalmente tenha apoiado outros candidatos na eleição primária republicana de 2016, ela respaldou Trump na eleição geral — e foi escolhida por ele como embaixadora da ONU após a vitória.
A posição de alto escalão permitiu que Haley desenvolvesse suas credenciais de política externa. Nesse posto na ONU, ela deu mais força a posições pró-Israel e foi uma crítica aberta do Irã.
"Os ditadores da China querem alastrar sua tirania comunista pelo mundo, e nós somos os únicos que podemos impedir isso", disse ela em seu comício em Charleston. "Mas não venceremos a luta pelo século 21 se continuarmos confiando nos políticos do século 20."
Aos 51 anos, ela é significativamente mais jovem do que Trump e que seu potencial oponente democrata, Joe Biden.
Em 2010, ela foi a governadora mais jovem do país, bem como a primeira mulher e a primeira pessoa não branca a governar a Carolina do Sul (ela tem ascendência indiana e seu nome verdadeiro é Nimrata Nikki Randhawa).
No passado, Haley citou a campanha presidencial de Hillary Clinton em 2008 como uma inspiração para ela se envolver na política.
Ela é uma política republicana diferente em um momento em que os republicanos podem estar procurando por algo diferente.
"Acho que precisamos de um novo candidato, e acho que precisamos de uma mulher lá para dizer a esses homens como fazer as coisas da maneira certa", disse Suzie Vahala, uma apoiadora de Haley que está participando da campanha. Ela diz que apoiou Trump em campanhas anteriores, mas o partido precisa seguir uma direção diferente em 2024.
Entre os partidários de Haley, uma mudança de tom e direção dada por Trump pode ser exatamente o que republicanos procuram.
Em uma pesquisa recente do South Carolina Policy Council, um think tank conservador, metade dos entrevistados que tinham uma visão "muito positiva" de Trump não querem que ele concorra e não acham que ele pode vencer.
"Eles estão cansados do caos ou não acham que outras pessoas vão votar nele", disse Dallas Woodhouse, diretor executivo do conselho. "Então, acho que há uma oportunidade na Carolina do Sul e em outros lugares para a governadora Haley."
Se Haley tem o tipo de currículo que parece promissor (em teoria) numa corrida presidencial, a realidade tem um cenário mais complicado.
A linha dura da ex-embaixadora sobre a China pode estar em sintonia com os eleitores republicanos, mas suas opiniões sobre Vladimir Putin e a Rússia a levaram a ser rotulada de belicista dentro da direita.
Haley também não se engaja em questões de guerra cultural, populares entre a base conservadora, tópicos regulares na mídia de direita e tanto para Trump quanto para o governador da Flórida, Ron DeSantis, outro candidato presidencial em potencial.
Seu maior obstáculo, no entanto, pode ser seu ex-chefe — o nome que continua liderando muitas pesquisas republicanas para 2024.
Haley teve um relacionamento complicado com Trump. Ela foi uma das poucas primeiras autoridades em alto escalão a ganhar uma calorosa despedida do presidente.
Ela o criticou depois que ele questionou os resultados das eleições de 2023, perdidas para Joe Biden, e os apoiadores trumpistas que atacaram o Capitólio.
Mas, alguns meses depois, disse que não expressaria oposição se Trump concorresse à presidência novamente. Logo ela começou um movimento constante para lançar sua campanha.
Em seu vídeo de anúncio e durante seu discurso de campanha de 26 minutos em Charleston, ela não mencionou o nome do ex-presidente nenhuma vez — embora houvesse uma outra menção velada.
Para alguns, ela não representa um grande atrativo para partidários leais de Trump nem se distancia suficientemente dele para empolgar aqueles que querem deixar o ex-presidente para trás.
"Nikki Haley sempre teve um enorme problema com Donald Trump", disse Miles Taylor, cofundador do Forward Party e membro da equipe do Conselho de Segurança Nacional quando Haley estava na Casa Branca de Trump.
"Como muitos de nós, ela abominava o presidente em particular. Mas, publicamente, ela apoiava efusivamente o presidente — e estava muito claro o por quê. Nikki Haley tinha suas próprias ambições políticas.
"Embora o próprio Trump tenha maneirado nos ataques contra Haley, o comitê de ação política de Trump chamou Haley de "uma política de carreira cujo único compromisso é consigo mesma".
De acordo com pesquisas de opinião pública, Haley enfrenta uma escalada difícil para conquistar os eleitores republicanos.
Enquanto Trump e o governador da Flórida, DeSantis, que ainda não anunciou uma candidatura presidencial, estão bem à frente, Haley ainda precisa ganhar fôlego.
Além do mais, ao contrário de muitos de seus prováveis oponentes, a Haley não ocupa um cargo político atualmente para dar mais visibilidade ao seu nome. Ela também não tem muito dinheiro para financiar sua campanha.
O que ela tem é seu currículo, sua perspicácia política e um histórico diferente de outros republicanos. Se ela quiser ser presidente em dois anos, isso precisará se mostrar suficiente.
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