5 mitos sobre o excesso de peso que temos de desconstruir Lifestyle
A obesidade é uma doença crónica complexa, na qual existe um excesso de gordura corporal com um impacto negativo na saúde. Tradicionalmente vista como fator de risco, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já a reconhece como doença crónica, tal como a asma, hipertensão ou diabetes aumentando o risco de complicações médicas a longo prazo, com diminuição da esperança média de vida. Portugal foi o primeiro país da União Europeia a reconhecer como doença desde 2004.
Existem ainda muitos mitos associados à obesidade. Apresento 5 que todos devemos tentar desconstruir.
1. Para emagrecer basta comer menos e mexer-se mais
Esta é, provavelmente, das ideias mais associadas à obesidade, o que contribui para a culpa e estigma que muitas vezes dificultam o diálogo com quem precisa de ajuda. A obesidade é uma doença multifatorial e as suas causas são complexas, incluindo causas genéticas, comportamentais, biológicas, hormonais, entre outras. A ideia de que é uma doença que se baseia apenas naquilo que comemos ou no exercício que fazemos é errada, já que na maioria das vezes a causa vai muito para além disso. Vários processos neurobiológicos determinam o controlo de apetite e o metabolismo, o que faz com que nem sempre o processo de perda de peso seja tão simples quanto “comer menos e mexer-se mais”. Assim, é importante desmistificar esta ideia e retirar o sentimento de culpa de quem vive com obesidade, promovendo o diálogo e facilitando um pedido de ajuda médica para o tratamento desta doença crónica.
2. A obesidade não é doença, é um tipo de corpo
A obesidade é uma doença que requer um seguimento a longo prazo. Não se trata de um tipo de corpo ou uma mera fase. Por ser crónica, é para a vida, logo precisa de acompanhamento médico.
A obesidade não se define por um tamanho ou peso específico, acontece quando existe um excesso de massa gorda que afeta a saúde de forma negativa, não estando em questão a beleza do corpo, mas sim a saúde. O Índice de Massa Corporal (IMS) é o indicador internacional mais conhecido que ajuda a pessoa a calcular se está no seu peso ideal. Também o perímetro abdominal é uma métrica que ajuda neste controlo, funcionando como um alerta para procurar ajuda médica.
Reconhecer a obesidade como doença crónica e multifatorial, tal como a hipertensão ou diabetes, é o primeiro passo para pedir este apoio. Desta forma, a gestão da obesidade é essencial para melhorar a qualidade de vida e aumentar a esperança média de vida. Importa destacar que em cada 2 pessoas com IMC>40, apenas uma viverá até aos 70 anos.
3. Uma criança gordinha é uma criança saudável
A obesidade infantil tem vindo a aumentar nos últimos anos, facto que nos deve preocupar já que sabemos que é uma doença crónica que pode ter um impacto negativo na saúde física e mental. Os mais recentes resultados do estudo COSI Portugal, sistema de vigilância nutricional infantil integrado no estudo Childhood Obesity Surveillance Initiative da OMS/Europa, coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), confirmam a tendência da diminuição das prevalências de excesso de peso e de obesidade infantil em Portugal. Entre 2008 (1ª ronda) e 2023 (5ª ronda), verificou-se uma redução de 8,2 pontos percentuais na prevalência de excesso de peso infantil (37,9% para 29,7%) e de 3,4% na obesidade infantil (15,3% para 11,9%).
Importante destacar que um adolescente com obesidade tem maior risco de viver com a doença na idade adulta, sendo esta uma idade em que a prevenção e controlo são ainda mais importantes. Normalizar a obesidade na infância pode ser perigoso e ter como resultado adiar um acompanhamento médico capaz de fazer a diferença. 84% das crianças com obesidade será um adulto com IMC. Adicionalmente, sabemos que crianças com obesidade têm maior risco de sofrer bullying e todo o estigma associado a esta doença.
É importante garantir que temos os recursos disponíveis para ajudar quem vive com obesidade em qualquer fase da vida, relembrando que gerir a obesidade é prevenir muitas outras doenças que diminuem a qualidade de vida.
4. Se evitar hidratos, não engordo
A maioria dos estudos demonstra que para duas dietas com um valor energético igual, não há uma diferença significativa consoante o teor de hidratos de carbono. Isto significa que mais do que o macronutriente de que falamos, interessa olhar para alimentação como um todo e perceber que fatores podem estar a contribuir para o excesso de peso. Os hidratos de carbono são uma fonte de energia essencial e facilmente disponível, pelo que não existe nenhum benefício em retirá-los por completo da nossa dieta.
Uma dieta equilibrada e variada é essencial para a promoção de saúde, sendo importante que se consiga manter a longo prazo, e não apenas umas semanas. Assim, a melhor intervenção dietética não se relaciona especificamente com a redução de hidratos de carbono ou outro macronutriente, mas sim com o facto de ser uma dieta equilibrada, ajustada às necessidades diárias e características socioculturais e religiosas de cada indivíduo e, acima de tudo, sustentável a longo prazo.
5. A obesidade é uma questão estética, e não tem impacto na saúde
Pensar que a obesidade se prende apenas com o aspeto exterior é uma ideia errada. A obesidade é uma doença com um impacto significativo na saúde física e mental. A obesidade aumenta o risco de muitas outras doenças crónicas, incluindo doenças respiratórias, cardiovasculares, bem como determinados tipos de cancro.
Independentemente do IMC que uma pessoa tenha, a procura de ajuda médica deve basear-se essencialmente no impacto que a gestão da obesidade pode ter na melhoria da qualidade de vida e no aumento da esperança média de vida.
A obesidade tem assim de ser desmitificada para que quem precisa de apoio, possa procurar ajuda médica, começando pelo seu médico de família. Esta patologia é crónica e vai muito mais além do que comer menos ou fazer mais exercício físico.
Procure o seu médico.
✅Um artigo da médica Margarida Santos, especialista em Medicina Geral e Familiar.
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