Com preços em baixa há anos, traders de açúcar em Miami têm poucos motivos para festejar
Com a pressão da ampla oferta e perspectiva de fraca demanda, os preços do açúcar estão em baixa há vários anos (Imagem: Vincent Mundy/Bloomberg)
Os maiores traders de açúcar do mundo se reuniram para uma das maiores conferências do ano na colorida Miami. Mas o clima não foi de festa.
Com a pressão da ampla oferta e perspectiva de fraca demanda, os preços do açúcar estão em baixa há vários anos, e os participantes da sexta conferência anual da S&P Global Platts estão pouco confiantes de que as coisas mudem tão cedo.
“A perspectiva de preços mais baixos vai continuar, porque há muito estoque”, disse Luis Miguel Olave, chefe de derivativos financeiros da Ciamsa, um grupo controlado por uma usina da Colômbia. Os exportadores enfrentam a queda dos preços concentrando-se em nichos de mercado e oferecendo produtos de valor agregado, como açúcar refinado, disse.
Há uma série de razões para o pessimismo. Os estoques da Índia estão altos e, para reduzi-los, o governo subsidiou as exportações, o que eleva ainda mais o excesso de oferta global. Moedas mais fracas de países produtores também incentivam as vendas ao exterior. Ao mesmo tempo, o crescimento da demanda por açúcar desacelera em meio a preocupações com a saúde. Embora alguns analistas esperem que o mercado registre déficit na próxima temporada, há estoque mais do que suficiente para atenuar a queda esperada na produção asiática.
Os contratos futuros do açúcar bruto acumulam queda de quase 10% em 2023, para cerca de 10,9 centavos de dólar por libra-peso em Nova York. Isso depois de uma desvalorização de quase 40% nos dois anos anteriores. No Brasil, maior produtor e exportador do mundo, a queda dos preços provavelmente deve levar a uma consolidação do setor, segundo Otávio Lemos de Azeredo, diretor da mesa de trading de açúcar da Raízen Energia.
Além disso, a guerra comercial global e as mudanças na rota das exportações colocam mais pressão sobre o mercado.
Lado positivo
Ainda assim, existem alguns pontos positivos, disse Michael Levitz, responsável de trading de açúcar para as Américas da Glencore Agriculture. A expansão da produção de etanol no Brasil está desviando o destino da cana-de-açúcar. Enquanto isso, o crescimento populacional e econômico em mercados emergentes como a África pode estimular a demanda, disse.
Mesmo assim, o espectro de ampla oferta persiste. Os avanços na tecnologia das culturas significam que novas variedades de cana são mais resistentes a doenças e secas em países como a Índia. O clima benéfico também manteve a produção em alta, mesmo sem a expansão das áreas plantadas, disse Maria Nuñez, analista sênior da Platts, em entrevista.
Os preços mais baixos são, obviamente, bons para os compradores.
Renato Lachica, diretor de compras de adoçantes da Coca-Cola Brasil, era um dos poucos participantes contentes da conferência.
“Meus clientes, as engarrafadoras, estão muito contentes porque aproveitam os custos mais baixos em comparação com os anos anteriores”, disse. “Isso mudará no futuro, sempre muda. Você simplesmente não sabe quando.”
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