O mundo e o Brasil vão pensar em um cenário futuro com ‘menos China’ nas carnes?
Peste suína africana na China segue com expectativa de refluir e ter início recuperação, ainda que leve anos (Imagem: Reuters/Yusuf Ahmad)
Na produção e exportações mundiais de proteína animal, ainda é impensável um cenário sem China absorvendo cada vez mais. Mas há sinais nas beiradas desse cobiçado destino que devem fazer com que os participantes da farra chinesa pensem num mundo com menos China em alguns anos. A saída da crise ocasionada pela peste suína africana (PSA) vai começar – ou já começou, segundo autoridades do país e analistas internacionais e brasileiros.
Não vai ser nos próximos três anos que a situação de importações deverá mudar, menos ainda em 2023, segundo dados do Rabobank, olhando basicamente o setor de suínos. Mas a consultoria em alimentos dos Estados Unidos, Gira, acredita que em 2022 as compras da China estarão no pico, vindo a partir daí um declínio.
E esse declínio, mesmo que em ritmo longe de demonstrar que estará próximo do período pré-crise, além de volumes menores de importações implicará também queda de preços para os fornecedores.
Começa pelo suíno, com dados mais recentes de aumento de 0,6% no volume de matrizes em outubro, e a perspectiva divulgada pelo governo da China de que a retração do plantel vem diminuindo. Valdomiro Ferreira, da Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS) já advertiu que não se pode subestimar a capacidade de recuperação do gigante asiático. “A China é passageira”, chegou a afirmar.
Este ano, o Brasil embarcou quase 500 mil toneladas de suínos para os chineses, praticamente 14% a mais sobre 2018, mas ficou aquém do esperado, conclui ainda o presidente da APCS.
Como a necessidade de importações chinesas atingiu todas as espécies, sem estoque mundial de suínos para abastecer o país – o maior consumidor e produtor de porcos – se assiste o boom das vendas globais de aves e carnes bovinas.
E, no primeiro caso, sobre os frangos, o 💥️Itaú BBA recentemente alertou as brasileiras BRF (BRFS3) e Seara para a expansão exponencial da produção de aves nas granjas chinesas. Com base em projeções do USDA, os asiáticos devem ter aumento de 14% na produção dessa proteína, para quase 16 milhões de toneladas.
“Se a China de fato conseguir produzir todo este frango, pode ser que exista um cenário em que a China não precise importar tanto frango assim”, afirmou recentemente César de Castro Alves, analista de agro da instituição. De janeiro a outubro o Brasil aumentou 22% os embarques para lá, num total de 444,7 mil toneladas, iguais a US$ 931,7 milhões (alta de 38%).
Apesar dos números favoráveis, Ariel Mendes, diretor de Relações Institucionais da ABPA, admitiu, em entrevista ao G1, que a se esperava mais no primeiro semestre. “Até agora, [a exportação] não aumentou o quanto tínhamos previsto, pois os chineses tinham um estoque estratégico e abateram muitos suínos sadios para evitar perdas”, explicou.
Mais barato
Frango é mais barato de se produzir, tem ciclo mais curto, portanto requer um planejamento de longo prazo menor e, com isso, necessita de aporte de capital em relação aos suínos para retomada do ciclo de investimentos.
Se houver mais frango, mais cedo, e mais porco, mais tarde, certamente poderá haver uma redução das importações de carne bovina. Como é flagrante a mudança de hábitos alimentares no país, a proteína de boi foi a grande beneficiada.
E a expansão brasileira foi excepcional, dando conta de 320 mil toneladas para lá, de janeiro a outubro, acima de 23,5%, puxando os 11% de crescimento das vendas globais para 1,47 milhão/t, segundo dados da Secex.
O movimento positivo atinge a todos os fornecedores mundiais. O Uruguai importa mais carne do Brasil para suprir o abastecimento de uma produção deficitária face o aumento das importações da China; Argentina também ganhou no boi e aves; Estados Unidos idem, nas três espécies, apesar de seguir em guerra comercial com Pequim.
Até a Europa revigorou sua produção de frango e porcos visando a China.
E todos poderão sentir quando o refluxo de importações começar, apesar de que o maior ganhador, até agora, é o Brasil.
E novos mercados terão que compensar, ainda que nas beiradas.
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