Claudia Mancini: blockchain parece ser a luz no fim do túnel do setor energético
O blockchain pode ser um grande aliado da migração de práticas danosas ao meio ambiente para o uso de energia renovável (Imagem: Unsplash/@ale_s_bianchi)
Mudanças profundas no setor energético, que está se 💥️descentralizando e digitalizando, e nos consumidores, que cada vez mais querem usar energia limpa, ver transparência nas empresas e até compartilharem o que usam, estão abrindo espaço para o uso do 💥️blockchain nessa indústria.
A aplicação de blockchain em energia não é tão comentada como em outros setores. Estima-se que haja entre 150 a 180 casos no mundo, sendo que boa parte deles são testes.
Podem não ser muitos, mas há dois pontos importantes que precisamos considerar: o primeiro é que testam-se formas de operação do setor completamente diferentes do que estamos acostumados a ver.
O outro é que há previsões de que os investimentos em blockchain nessa indústria têm potencial para chegar a US$ 34,7 bilhões em 2025, o que seria um crescimento médio de 83% ao ano, desde 2018.
Modernizar o setor incluindo o uso de blockchain pode significar benefícios como redução de custos, tarifas mais baixas, maior precisão no controle do consumo e de valores a serem cobrados, segurança no fornecimento e novas formas de ganhar dinheiro para as empresas e até para você, leitor.
Tem ainda um outro fator que é o incentivo a 💥️energias renováveis, como a 💥️solar e a 💥️eólica.
Faltam informações sobre o número de casos no 💥️Brasil, mas existem para diferentes funções, tanto no setor de 💥️petróleo e 💥️gás, conhecido por ações inovadoras, quanto no 💥️setor elétrico, conhecido por ter várias operações que pararam no tempo e que precisam urgentemente de modernização.
“Prosumidores” é o termo híbrido para “produtores/consumidores” e se refere àqueles que fornecem, mas também utilizam o serviço (Imagem: Reuters/Amanda Perobelli)
💥️Nova figura: o prosumidor
Em 2018, a 💥️EDP foi a primeira do setor no país a anunciar blockchain para medir e registrar o consumo e geração de energia solar de seus consumidores, a chamada geração distribuída.
Esses consumidores alugam cotas de centrais solares, consomem a energia das placas e podem vender o que não usarem. São os tais prosumidores, uma figura que está se tornando comum no mundo todo.
Um aparelho criptográfico nos contadores acompanha o movimento de uso e venda de eletricidade e calcula valores e taxas com segurança.
Blockchain pode criar modelos de negócios principalmente para os pequenos geradores e na área de renováveis, afirmam 💥️Marcela Gonçalves e 💥️Jennifer Simões, da startup 💥️Multiledgers, no artigo “Uma perspectiva da tecnologia Blockchain no setor de energia”, publicado no 💥️Boletim de Conjuntura do Setor Energético da FGV de janeiro de 2023.
Pode também facilitar o acesso a energia em locais onde a eletricidade ainda não chega. Na África, há projetos de energia solar com esse objetivo. É sempre bom lembrar que a energia que está iluminando o ambiente em que você está, ainda não é acessível a todos.
Por isso, um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da 💥️Organização das Nações Unidas, o sétimo, é o de que, até 2030, todas as pessoas do mundo tenham acesso a serviços de energia modernos, acessíveis financeiramente e confiáveis.
Esse tipo de negociação de energia dos prosumidores é chamada de pessoa para pessoa (P2P, na sigla em inglês). É a venda direta, sem intermediários.
A 💥️Fohat, uma startup de apenas três anos, do Paraná, tem feito projetos desse tipo aqui e fora. Um deles é para o 💥️Queen Victoria Market em Melbourne, na Austrália.
Ali, estão ajudando a criar um sistema de geração e venda de energia na comunidade formada pelo mercado e seu entorno. Isso permite que a energia solar gerada durante o dia e não usada pode, por exemplo, ser vendida à noite para quem precisa.
Veículos elétricos parecem uma realidade distante, mas se houver mais incentivos de blockchain e projetos de energia limpa, logo os estaremos dirigindo por aí (Imagem: Brave New Coin)
💥️Carros elétricos
Com o surgimento dos carros elétricos, sistemas inovadores com blockchain também começam a aparecer nessa área. Dentre as soluções está a de devolver à rede a carga da bateria que não vai ser usada. Blockchain faz o controle desse vai e vem de energia.
Quem testa, está se preparando para um provável futuro em que veículos elétricos serão algo mais comum.
E nessa mesma linha de olhar o hoje com um olho e o amanhã com outro, a 💥️AES Tietê está, com a Fohat, montando um balcão de negociação digital de energia do mercado livre. Esse é o mercado em que grandes consumidores compram energia diretamente das geradoras.
Hoje, cerca de 30% da energia é vendida no mercado livre, mas a expectativa é de que, até 2028, tudo seja comercializado dessa forma.
O sistema da AES usa contratos inteligentes nas negociações, que são feitos digitalmente, criptografados e não podem ser alterados, uma característica do blockchain. Se alguém não cumpre o que está no contrato, o sistema dispara a eventual penalidade.
Certificados de uma empresa que se compromete com a sustentabilidade pode beneficiar o meio ambiente, o “bolso” das empresas e sua reputação (Imagem: Unsplash/@zburival)
💥️Incentivo à energia limpa
Não é novidade a emissão de certificados que representam uma quantidade de energia limpa gerada uma empresa. Há um mercado desses certificados, comprados, por exemplo, por uma empresa consumidora que quer mostrar que é sustentável.
O 💥️Instituto Totum, emissor desses certificados, os I-REC, está usando blockchain para garantir que um certificado não seja vendido duas vezes ou alterado.
Aqui, o motivo de uso da tecnologia é evitar fraudes. Com a segurança gerada por blockchain, o instituto espera que mais gente se interesse pelos certificados. Com eles, a geradora ganha na venda da energia e na do certificado.
Para óleo e gás, tem casos também no Brasil. A 💥️Petrobras está testando blockchain para a assinatura interna e digital de relatórios, por celular. O objetivo, neste caso, é transparência.
O que foi citado neste artigo são apenas alguns dos usos da tecnologia em energia. Há ainda outros que certamente serão revelados. O importante é as empresas no Brasil tentarem descobrir se, e para o quê, a tecnologia pode ser aplicada em seus negócios.
Blockchain não serve para tudo, portanto estudar e testar é primordial. A obrigação que as concessionárias de eletricidade têm de investir 1% da receita operacional líquida em pesquisa e desenvolvimento (P&D )pode ajudar nesse processo.
Além da análise técnica e operacional, é preciso avaliar se questões regulatórias e normativas facilitam ou barram o uso de novas tecnologias como o blockchain.
Mudanças poderão ser necessárias para determinar padrões, uso correto de dados privados e novos cálculos de tarifas, para citar alguns pontos.
Fácil, não é. Mas também não é impossível. Se o preço de entregar mais acesso, eficiência e segurança aos consumidores inclui essas mudanças, vale a pena.
✅💥️Claudia Mancini✅ é jornalista e cientista política, especializada em economia e negócios. É fundadora e editora-chefe do site ✅Blocknews✅, focado na cobertura do uso de blockchain em empresas, governos e projetos sociais. Passou a estudar e cobrir a tecnologia ao ver os benefícios que pode gerar em eficiência, transparência e inclusão social. É membro do ✅Womcy✅ (Women in Cybersecurity), acompanhando a ligação entre segurança cibernética e blockchain. Segue também a evolução das outras tecnologias da 4ª Revolução Industrial, como Internet das Coisas (IoC) e Inteligência Artificial (IA).
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