Pedro Serra: O sobe e desce do minério
O movimento de corte de estímulos vai ao encontro da agenda ambiental da China, haja vista que o país é responsável por 31% das emissões de gás carbônico no mundo, (Imagem: REUTERS/David Gray)
Os estímulos realizados pelo governo chinês, devido às mudanças mercadológicas causadas pela pandemia do novo 💥️coronavírus, somados à falta de incremento de oferta por parte das majors, geraram grande disfuncionalidade no preço do 💥️minério de ferro ao longo dos últimos meses.
O preço da commodity bateu recordes consecutivos, sendo cotado muito além de US$200/t, durante grande parte do segundo trimestre de 2023.
O principal responsável por esse aumento substancial nos preços do minério foi a 💥️China, primeiro país do mundo a lançar mão de estímulos econômicos para minimizar os impactos da pandemia.
Os resultados dessa maior demanda vinda do Oriente são claramente observados no balanço do 2T21 da 💥️Vale (💥️VALE3), quando os pedidos vindos da China responderam por 53,8% das receitas operacionais do período.
Porém, vale observar como o mercado deve reagir ao novo momento chinês, em que se inicia a retirada dos incentivos, discute-se os impactos inflacionários causados pelo aquecimento de seu setor industrial, além do avanço da agenda verde.
O impacto das questões ambientais na demanda por minério
O movimento de corte de estímulos vai ao encontro da agenda ambiental da China, haja vista que o país é responsável por 31% das emissões de gás carbônico no mundo, sendo que, deste total, 15% dizem respeito exclusivamente ao setor siderúrgico.
No primeiro semestre deste ano, o país asiático produziu aproximadamente 563 milhões de toneladas de aço bruto, registrando um aumento de 12% na comparação anual segundo o National Bureau of Statistics. Para atingir a meta de descarbonização para este ano, a produção de aço no segundo semestre deve ser 11% menor quando comparado com o mesmo período do ano anterior.
A fim de cumprir seus objetivos para este ano, as autoridades chinesas deveriam impor um corte de aproximadamente 60 milhões de toneladas na produção de aço bruto até o fim de 2023.
Tendo em vista que a produção de uma tonelada de aço bruto requer aproximadamente 1,6 toneladas de minério de ferro, as restrições de produção na China se traduziriam em uma redução de 96 milhões de toneladas no consumo de minério de ferro.
No longo prazo, caso realmente ocorra uma transição para uma produção de aço menos agressiva ao meio ambiente, será possível presenciar o aumento na demanda por minério de qualidade superior, visto que a menor necessidade de coque implicaria numa redução nas emissões de gás carbônico no processo produtivo, aumentando o prêmio do minério com alta concentração de ferro.
Levando este cenário em consideração, a Vale pode desempenhar um papel importante nesta transição. O Sistema Norte da mineradora, que produz minério com alto teor de ferro (superior à 62%, valor comumente utilizado como referência global) deve atingir a capacidade de 260 Mtpa no longo prazo, volume relevante, uma vez que representa aproximadamente 20% do total importado pelo país asiático em 2023.
Para a Vale, que estabeleceu um tímido guidance produtivo para 2023, a capacidade operacional atual já permite auferir que a companhia conseguirá alcançar seu objetivo (Imagem: Pixabay)
O futuro do setor
Acreditamos que tanto a Vale como seus pares globais adicionarão uma maior dose de oferta ao longo de 2022. Em 2023, tanto o preço elevado como questões sazonais impediram maior avanço da oferta.
Para a Vale, que estabeleceu um tímido guidance produtivo para 2023, a capacidade operacional atual já permite auferir que a companhia conseguirá alcançar seu objetivo produtivo para este ano.
Ademais, a maior empresa de nossa bolsa segue firme com sua intenção de retomar a marca de 400 mtpa de produção de minério de ferro para o ano que vem, o que naturalmente reduziria os preços internacionais da commodity ao longo do próximo ano-exercício.
Desta forma, uma vez que sempre trabalhamos com o fato dos preços terem passado dos U$D 200 como um efeito temporário, não classificamos a forte queda das últimas semanas como algo negativo e sim, como um ajuste natural, que seria observado pelo mercado mais cedo ou mais tarde.
No entanto, a grande pergunta é: como a China deve se comportar nos próximos anos? Como se dará a forma de atuação dos players diante dessa nova fase do país?
Ainda que a atual cotação do minério, por volta de U$D 150, ainda esteja longe de ser considerada negativa para as majors, a mudança repentina de posicionamento do gigante asiático é algo novo e trouxe uma série de indagações, constituindo ainda, um dos motivos pelo qual alteramos nossa visão atual para Vale, mesmo considerando a saúde de seu atual status financeiro.
Acredito, todavia, como os fundamentos do setor mudaram, bem como os múltiplos dos pares da companhia, que o desconto dos múltiplos de Vale perante seus pares pode demorar para convergir ou ainda atingir valores menores que os previstos anteriormente.
Levando em consideração os fundamentos de longo prazo, acredito que mais que simplesmente uma mudança repentina nos patamares de preço da commodity, a mudança atual de viés por parte da China pode fomentar a dinamização da maneira como esse mercado será visto no futuro, o que nos motiva a entender os atuais prognósticos de forma mais densa antes de nos expor a um risco que parece transfigurado o bastante para ser compreendido de forma sintomática pelos mercados.
Mais que simplesmente uma súbita alteração de preços, a mudança comportamental efetuada pela China trouxe à tona a necessidade do mercado redescobrir os atuais horizontes do maior parceiro comercial do país.
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