Trump tem a possibilidade de revolucionar a ordem mundial em quatro conflitos: o que fará o novo presidente americano? - Executi

A segunda presidência de Donald Trump tem o potencial de desencadear uma verdadeira revolução geopolítica mundial: embora sem certezas sobre o que fará & devido à imprevisibilidade e ambiguidade do ex-presidente americano -, as indicações disponíveis apontam como provável um impacto profundo nas relações internacionais, a vários níveis, incluindo o comercial.

Há quatro conflitos onde poderá ter um impacto transcendental e duradouro, apontou o jornal espanhol ‘El País’: duas são guerras em pleno desenvolvimento (Ucrânia e Médio Oriente) e duas são potenciais (Taiwan e Coreia). Mas qual poderá ser o papel de Trump?

💥️Ucrânia

Durante a campanha, Trump insistiu repetidamente em dois conceitos: a sua vontade de forçar um acordo de paz e a sua falta de vontade de continuar a pagar pelo esforço de guerra de Kiev. Em momento algum definiu as características concetuais do primeiro ou o calendário do segundo. É provável que nem saiba exatamente o que quer fazer.

A Ucrânia e os seus parceiros esperam que a ‘doutrina Pompeo’ possa prevalecer, com a qual o antigo secretário de Estado de Trump propõe forçar Vladimir Putin a pelo menos um acordo relativamente razoável através de uma série de medidas que o levam a acreditar que não é do o seu interesse continuar.

Entre estas medidas estaria um aumento na produção de energia (pelos EUA e, idealmente, pela Arábia Saudita) que reduziria os preços, um aumento nos gastos militares dos países da NATO, um fortalecimento da indústria de defesa dos EUA e um grande empréstimo à Ucrânia. Mas, dentro do universo Trump, Pompeo faz parte de um segmento minoritário tradicionalista, que não conseguirá necessariamente impor as suas teses. Outro segmento, o isolacionista, pressionará por uma política muito diferente.

Na última legislatura, os republicanos bloquearam durante meses a aprovação de um novo pacote de ajuda sob a influência da teoria trumpista de que gastar tanto dinheiro americano na Ucrânia é um disparate. Finalmente, deram luz verde, muito provavelmente porque Trump compreendeu que sem esta ajuda as eleições presidenciais de novembro teriam sido realizadas com uma Ucrânia derrotada e com o candidato republicano universalmente considerado responsável por este desastre.

Não há dúvida de que Trump não quererá ficar na história como o líder que presidiu ao colapso total da Ucrânia. Mas o equilíbrio entre esta e a sua política ‘América Primeiro’ é extremamente complexo numa altura em que a ajuda atual já é insuficiente e Kiev está a perder.

O contexto é que os países europeus fizeram um esforço considerável para apoiar a Ucrânia face à invasão, mas o apoio americano é insubstituível. Os Estados Unidos não são apenas de longe o primeiro apoiante militar da Ucrânia (cerca de 56 mil milhões de euros de 2022, em comparação com aproximadamente 10.000 da Alemanha e do Reino Unido, segundo dados do Instituto Kiel), mas são o único com a capacidade de fornecer apoio de inteligência essencial e capacidades especiais.

Por outro lado, Putin acaba de receber uma importante injeção de força com a chegada de soldados norte-coreanos. Ao mesmo tempo, apercebe-se, sem dúvida, da hesitação e do cansaço dos seus adversários. Ele vai insistir.

Uma vitória absoluta da Rússia seria uma reviravolta histórica. Mas mesmo um acordo que sancionasse uma forte redução territorial e a inibição da liberdade de política externa do que restava da Ucrânia seria um sucesso geoestratégico para a Rússia que não só teria impacto na região, como alteraria as relações globais, com o entendimento que as as democracias ocidentais podem ser travadas em questões de extrema importância pela mera superioridade da força de vontade.

Seria uma mensagem com um efeito incomensurável à escala global: tanto para os aliados europeus, que tocariam em primeira mão a realidade do distanciamento americano da região, como para toda a galáxia de regimes autoritários insatisfeitos com a primazia ocidental, que iriam confirmar o seu enfraquecimento e a desintegração do vínculo entre os seus principais representantes.

💥️Médio Oriente

A primeira presidência de Trump deixou claro o seu apoio absoluto a Israel e ao seu plano colonizador, e também a sua determinação em redesenhar o mapa da região, promovendo uma aliança com as monarquias sunitas que encurralariam o eixo xiita. A Administração Biden deu imenso apoio militar a Israel. A de Trump poderá dar-lhe uma vantagem ainda maior a nível político.

Um estudo da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, estimou que Washington tenha concedido ajuda militar no valor de cerca de 16,8 mil milhões de euros a Israel entre 7 de outubro de 2023 e 30 de outubro de 2024. Isto é para além dos cerca de 4 mil milhões fornecidos anualmente nas últimas décadas. A resposta brutalmente desproporcionada de Israel não teria sido possível sem tudo isto. No entanto, embora de forma insuficiente e ineficaz, a presidência de Biden tentou traçar alguns limites e manteve o seu apego, pelo menos retoricamente, à solução de dois Estados. Agora o cenário pode piorar.

Para começar, até 20 de janeiro (tomada de posse de Trump), Benjamin Netanyahu pode contar com mais de dois meses de liberdade absoluta com uma Administração americana cessante e deslegitimada. É provável que continue a sua campanha, sob a lógica de que um conflito intenso é a sua melhor garantia de permanência no poder.

Mas, Trump pode pressioná-lo para acabar com a guerra e receber o crédito. Se for este o caso, é possível prever uma grande vontade de fazer concessões por parte da Casa Branca face aos abusos colonizadores de Israel e uma relação transacional com a Arábia Saudita e outros regimes sunitas que lhes permitirá uma ampla gama de ação se, paralelamente, realizarem grandes contratos para a compra de armamento – um esquema que já se via emergir na primeira presidência.

Isto teria múltiplas consequências. Não só é suscetível de colocar a lápide nas aspirações dos palestinianos, como também empurrará o Irão ainda mais para os braços da Rússia e da China, consolidando o nascente eixo autoritário asiático ao lado da Coreia do Norte.

💥️Taiwan

Embora a relação da nova presidência de Trump com a China fique desde logo marcada pelas tarifas que os Estados Unidos possam impor ou pelas novas restrições ao acesso a tecnologias sensíveis, um ponto estratégico essencial a médio e longo prazo serão os sinais de que o novo presidente enviará de Taiwan.

Recorde-se que Xi Jinping tem repetidamente salientado que o “rejuvenescimento” da China que procura implica necessariamente a afirmação do controlo de Pequim sobre a ilha. Biden tem sido o presidente americano mais explícito ao prometer defender Taiwan caso este fosse injustificadamente atacado.

Embora a vontade de preservar a primazia dos Estados Unidos sobre a China seja uma parte central do discurso de Trump & e seja, aliás, o único consenso bipartidário em Washington & o instinto isolacionista e a relutância em envolver-se em operações de guerra são uma parte essencial da sua política. Se Pequim interpretasse Trump como relutante em ativar-se para defender Taiwan, isso poderia alterar os cálculos sobre a oportunidade de uma ação militar para subjugar a ilha.

💥️Coreia

Os laços mais estreitos entre Pyongyang e Moscovo suscitam muitas preocupações. A primeira razão é óbvia: através do apoio militar à Rússia, a Coreia do Norte procura obter em troca ajuda do Kremlin – tecnologia militar, alimentação e energia – e, de um modo geral, a possibilidade de não depender apenas da China. Mas há quem se questione se a ativação desta cláusula de apoio mútuo à guerra é um passo para reforçar as opções de ataque à Coreia do Sul. Isto não é provável, mas não é aconselhável descartar nada, especialmente se o ramo isolacionista acabar por prevalecer na nova Administração Trump.

Não há certezas sobre o que Trump fará. Nenhum dos piores cenários se poderá materializar. Mas o registo da primeira presidência, e da recente campanha, dá a impressão de que – ao contrário do que aconteceu em 2016 – não se rodeará de figuras do establishment republicano – que refrearam os seus instintos. Desta vez é diferente. Desta vez, parece mais provável uma profunda rutura na rede de alianças construída pelos Estados Unidos depois de 1945 e uma alteração consistente do cenário geopolítico.

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