Pré-Mercado: Sinais de desaceleração inflacionária finalmente aparecem

O que a fotografia da inflação americana nos mostrará hoje? | Minamata (2020)

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Lá fora, os mercados de ações asiáticos fecharam em baixa nesta sexta-feira (10), seguindo as movimentações negativas dos mercados globais verificadas ontem (9), em meio ao crescente receio com a inflação, possíveis aumentos das taxas de juros e desaceleração do crescimento econômico.

Os investidores também aguardam os dados de inflação de maio dos EUA, a serem apresentados hoje, que podem ter impacto nas perspectivas para a política monetária antes da decisão do Fed sobre as taxas de juros na próxima quarta-feira (15). 

Adicionalmente, relatos de que Xangai e Pequim impuseram novas restrições relacionadas à pandemia apenas alguns dias após o relaxamento das restrições também pesaram no sentimento do mercado. 

Na Europa, as Bolsas abrem o dia em queda. Os futuros americanos não têm uma única direção, flertando com a estabilidade e, pelo menos por enquanto, sustentando em sua maioria patamares timidamente positivos. O Brasil, que já registrou em seu índice cinco quedas consecutivas, pode seguir pelo mesmo caminho negativo.

A ver…

Os sinais de desaceleração inflacionária deveriam ter repercutido melhor

Ontem (9), depois da definição de preço na oferta da Eletrobras (R$ 42 por ação, movimentando cerca de R$ 33,7 bilhões), o grande assunto do dia foi a desaceleração do IPCA do mês de maio, que registrou alta de 0,47% na comparação com o mês anterior, frente ao percentual de 1,06% de abril. O dado, além de representar uma queda do patamar de inflação, também veio abaixo da mediana das expectativas.

Em se tratando do acumulado de 12 meses, apesar de também ser uma desaceleração, o índice ainda apresenta dois dígitos, registrando 11,73%. No detalhe, apesar da difusão ter arrefecido, os núcleos do indicador (excluindo itens mais voláteis) seguem pressionados, principalmente pelo setor de serviços — o que ajudou no mês foi o alívio em alimentos e transportes, bem como a presença da bandeira tarifária verde.

O problema é que alívios adicionais sobre os combustíveis, um dos temas do momento, terão grande impacto fiscal e efeito temporário, a ser devolvido depois do dia 31 de dezembro; ou seja, estaríamos apenas empurrando a inflação com a barriga. Sobre a questão fiscal, fica a chance de testemunharmos um pacote de até R$ 150 bilhões, o que seria relevante diante de um orçamento já engessado.

Chegou a vez dos americanos

Para hoje, nos EUA, o mercado aguarda a divulgação do índice de preços ao consumidor para maio. As expectativas são de que o índice aumente 8,2% na comparação anual, frente ao salto de 8,3% em abril, dando sequência à desaceleração inflacionária. Já o núcleo do indicador, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, deve subir 6% após um ganho de 6,2% anteriormente.

A inflação provavelmente atingiu o pico de 8,5% em março, mas será a rapidez em voltar à meta declarada do Federal Reserve de 2% que determinará quando o Fed poderá parar com seus aumentos nas taxas de juros. Isto é, se a expectativa se confirmar, o Fed ainda não terá motivos para se desviar de seu ritmo atual de aumentos de taxas, que o mercado espera incluir aumentos de meio ponto em junho, julho e setembro.

Agora não há como evitar a ideia de que o mundo esteja embarcando em uma campanha coordenada para desacelerar a inflação por meio do aumento das taxas. Sim, pode funcionar; o problema para os investidores é que isso pode funcionar bem até demais, arrastando as economias globais para a recessão.

Até os europeus estão apertando sua política monetária

Ontem (9), o Banco Central Europeu, o mais dovish (flexível) das quatro grandes autoridades monetárias no mundo, anunciou ao mercado que pretende elevar juros em julho e em setembro. Adicionalmente, ainda disse que, se a perspectiva de inflação deteriorar no médio prazo, poderia elevar ainda mais os juros. 

Naturalmente, por enquanto, a taxa de depósitos foi mantida em -0,50%, bem como a de empréstimo em 0,25% e a de refinanciamento em 0%. Contudo, já foi indicado que a compra líquida de ativos termina em 1º de julho. O movimento veio junto de algumas revisões de expectativas de inflação e de PIB.

Com isso, teremos em julho o primeiro aumento de taxas de juros por parte do BCE desde 2011. A grande questão agora é o quão duro o BCE precisará ser — em maio, a inflação anual entre os 19 países que utilizam o euro atingiu 8,1%, um recorde histórico. Por isso, os investidores esperam outro aumento da taxa em setembro.

Anote aí!

Nos EUA, temos a continuidade da Cúpula das Américas. Hoje, o presidente do Brasil Jair Bolsonaro tem encontro com o Presidente da Colômbia, o Senhor Iván Duque Márquez, e com o Presidente do Equador, o Senhor Guillermo Lasso. Por lá, além da inflação, contamos também com o índice de sentimento do consumidor para junho. No Brasil, temos o resultado do varejo em abril e o Índice de Confiança do Empresário Industrial.

Muda o que na minha vida?

Algumas fontes já começam a apontar para a possibilidade do petróleo subir para US$ 135 o barril ainda neste ano, de modo a equilibrar a oferta e a demanda no mercado global, à medida que a demanda da China aumenta e a oferta da Rússia cai.

Isso é mais de US$ 10 o barril mais alto do que o preço atual do petróleo Brent, pouco acima de US$ 120. Os preços do petróleo já subiram mais de 50% este ano, principalmente depois da Rússia invadir a Ucrânia. Por trás do aumento do petróleo está a incapacidade das refinarias em acompanhar a crescente demanda de consumidores e empresas. 

O movimento é bom para as petroleiras, mas péssimo para o consumidor, que deverá ver o preço na bomba ainda mais alto, voltando a pressionar a inflação. O problema inflacionário atual e a crise energética são temas que vieram para ficar.

Um abraço,

Jojo Wachsmann

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