Atração turística na Índia se torna armadilha com dezenas de mortos
A ponte suspensa de 137 anos havia sido reaberta apenas cinco dias antes de desabar, após passar por reparos. Mas o que deu errado?
A BBC conversou com sobreviventes, socorristas, jornalistas e autoridades locais para contar a história de uma tragédia desnecessária.
Moradores e jornalistas culpam a empresa que operava a ponte — e a polícia e as autoridades locais também são acusadas de cometer erros.
💥️Os minutos que antecederam o desastre
Pouco depois das 18h30 (13:00 GMT) de domingo, Mahesh Chavda, de 18 anos, e dois amigos compraram ingressos para entrar na 'jhulto pul' (ponte suspensa) de Morbi.
A atração é descrita pelo site de turismo do Estado como uma "maravilha tecnológica" e é popular entre os turistas — era o lugar favorito de Mahesh desde que era criança.
Sentado agora em seu leito no hospital com gesso no pescoço, Mahesh conta que, ao se aproximarem da ponte, perceberam que estava superlotada.
"Apesar disso, foram entregues a esses empreiteiros obras de reparo da ponte em 2007 e em 2022", afirmou, acrescentando que estão investigando a fundo o caso.
Um relatório forense apresentado pelo investigador no tribunal afirma que o piso da ponte foi substituído durante a reforma, mas seus cabos não — e os cabos antigos não foram capazes de aguentar o peso do piso novo.
Um policial também disse ao tribunal que o cabo estava "enferrujado" — e que a tragédia poderia ter sido evitada se tivessem sido consertados a tempo.
A BBC entrou em contato com a Oreva para pedir uma resposta às acusações que enfrenta.
No tribunal, um dos acusados — um gerente da empresa — classificou o desabamento da ponte como um "ato de Deus", informou o promotor.
No início da semana, um porta-voz da empresa disse ao jornal Indian Express que havia muita gente no meio da ponte, e algumas estavam tentando fazer a mesma balançar.
A Oreva também foi acusada de outros lapsos, incluindo não obter permissão das autoridades para operar a ponte.
O chefe de serviços municipais, Sandipsinh Zala, disse a jornalistas na segunda-feira que a Oreva não havia recebido um certificado de segurança antes de reabrir a ponte.
Mas muitos estão questionando por que uma empresa conhecida por fabricar relógios foi autorizada a manter uma ponte. Ela também fabrica produtos de iluminação, bicicletas elétricas e eletrodomésticos.
Zala não atendeu nossas ligações nem respondeu nossas mensagens, mas um assistente que trabalha em seu escritório me disse que a Oreva havia ganhado um contrato da administração distrital em 2008 para ser concessionária da ponte.
"Zala acabou de renovar esse contrato em março", acrescentou o assistente.
A BBC teve acesso a uma cópia do contrato que é válido por 15 anos — até março de 2037.
O documento afirma que a manutenção e segurança são de responsabilidade da empresa, que também fica com a receita da venda dos ingressos.
Parbat Govind (em pé) e os demais trabalhadores que participaram do resgate nunca esquecerão o que viram
Muitos apontam, no entanto, que o número de mortos teria sido muito maior se não fosse pelos socorristas que incluíam moradores e um grupo de operários que construíam um novo templo às margens do rio.
Niranjan Das tinha acabado de terminar seu turno de trabalho nas obras do templo e estava sentado com os colegas ao lado da ponte, observando o anoitecer na cidade.
"Vimos pessoas agarradas aos pedaços da ponte", diz ele.
Cordas do canteiro de obras foram usadas para descer ele e sete de seus colegas até a água.
"Salvamos oito pessoas e retiramos dezenas de corpos."
Ele mostra ferimentos nas mãos e pés de um colega que também participou do resgate.
Parbat Govind, um homem de 61 anos que se mudou para Morbi há dois anos e supervisiona os operários, também estava no templo e assistiu à tragédia ao vivo.
"Essas feridas vão cicatrizar", diz ele.
"Mas nunca esqueceremos o que testemunhamos naquele dia. Nunca seremos capazes de esquecer aqueles gritos."
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