As ruínas incas com mais segredos (e muito menos turistas) que Machu Picchu
Essa descrição genérica se encaixaria em Machu Picchu. Mas estou falando de Choquequirao, sua "irmã desconhecida", como a imprensa de turismo às vezes a chama.
"Desconhecida" do turismo de massa, apesar de ser explorada já há algumas décadas. Hiram Bingham, o americano que colocou Machu Picchu no mapa do mundo em 1911, também esteve em Choquequirao. Antes dele, há registros de visitas dos espanhóis, no século 18.
Em todo caso, Choquequirao ficou lá, quietinha, até os anos 1970. Em guias e revistas de viagem, mal aparecia até a década passada.
No ano passado, para cada turista que chegou a essas ruínas incas, 175 foram a Machu Picchu. O motivo principal para tamanha diferença é o acesso. Enquanto é possível chegar a Machu Picchu em charmosas combinações de trem e ônibus, com o suporte e as facilidades de acomodação da agradável Aguas Calientes, cidade-base para os turistas, Choquequirao não tem nada disso. Você só chega lá em cima usando os pés, os seus ou os de mulas.
💥️Teleférico?
Ver essa foto no InstagramSalas cerimoniais, câmaras e terraços sofisticados compõem o cenário. Muitos que conhecem afirmam que Choque não deve nada a Machu Picchu em termos de beleza e grandiosidade.Uma publicação compartilhada por Joseph. (@josephxbrian)
Com um detalhe. A maior parte ainda não foi descoberta. Os aparentes morrinhos no complexo são, na verdade, estruturas colapsadas engolidas pela natureza. Ou seja, se já é incrível assim, imagine quando os cientistas souberem tudo que existe ali. Acredita-se que Choque seja até três vezes maior que Machu Picchu.
O problema é que a construção do teleférico pode ameaçar essas frágeis ruínas, dizem os críticos do projeto. Aí, quando o acesso estiver mais fácil e popularizado, muitos dos tesouros poderão estar perdidos para sempre.
Choquequirao tem milhares de quilômetros de terraços para agricultura. Muitos cobertos pela mata, mas outros usados até recentemente por peruanos contemporâneos. Guias afirmam que até os anos 1980 agricultores trabalhavam nessas terras.
Hoje, o destaque arqueológico de Choque são as lhamas de pedra. A luz do sol ao amanhecer reflete nas pedras claras e dão profundidade à imagem. Um especialista explicou à "National Geographic" que elas talvez representassem uma oferenda simbólica, em um tempo em que não havia animais disponíveis para sacrificar.
É só uma das várias suposições que os cientistas têm. Há também aquelas sem base científica alguma, puro fóssil de fofoca. A mais famosa diz que Manco Inca, o rei fantoche colocado pelos espanhóis que se rebelou e fundou um estado rebelde, se instalou na cidadela para liderar a guerrilha contra os europeus.
Por ora, não há evidências disso. Mas vai saber o que se pode descobrir.
💥️Arqueologia e turismo
A gente se acostuma a enxergar grandes descobertas arqueológicas como algo estático, mas não é assim. Em 2016, outro dia desses, acharam novas ruínas perto de Choquequirao.
Sim, essa descoberta provavelmente não vai mudar o mundo. Mas e se, por exemplo, encontrarem a tumba da Cleópatra? Meu amigo, o turismo do Egito vira de cabeça para baixo.
Aquele pacote básico para ver as relíquias no Cairo e no Vale do Nilo para depois voltar rapidinho para casa vai precisar incluir Alexandria. A máscara de Tutancâmon poderá perder o espaço que ocupa como rosto do Antigo Egito.
Imagine, então, uma nova pirâmide asteca ou se descobrem uma nova Troia, mais "verdadeira" do que a que começou a ser escavada em 1870. Seriam feitos que ganhariam muito destaque na mídia, transformariam o turismo, virariam símbolos nacionais. Por essas e outras o governo da Jordânia apoia uma controversa missão científica que quer comprovar a existência da cidade bíblica de Sodoma.
Esse potencial turístico-arqueológico é o dilema de Choquequirao. Se ampliar o acesso e investir em infraestrutura, pode enfim virar "a nova Machu Picchu", com ganhos substanciais para uma economia frágil como a peruana. Mas correria o risco de perder muitos de seus tesouros ainda desconhecidos, justamente aqueles que poderiam levar a cidadela a um status ainda maior que o de Machu Picchu.
Tudo especulação, por enquanto. Fato é que, para você, turista (ou "viajante", se preferir, embora tentar diferenciar os termos seja uma bobajada inútil e elitista), Choquequirao está aí e pode ser visitada. A "National" a incluiu em sua lista de 25 melhores lugares para conhecer em 2023.
💥️Índice de lugares da coluna Terra à Vista:
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