Senna estava certo em desconfiar que carro de Schumacher era irregular

Gabriel Leone no papel-título da minissérie 'Senna'

Gabriel Leone no papel-título da minissérie 'Senna' Imagem: Netflix/Divulgação

A série "Senna", da Netflix, mostra um Ayrton Senna indo para o carro para o que seria sua última largada preocupado com a segurança do GP de San Marino após dois acidentes graves em dois dias e também desconfiado de que não estava em uma disputa igual com o líder do campeonato, Michael Schumacher, piloto da Benetton.

Senna não tinha nenhum ponto no campeonato, enquanto o alemão tinha vencido as duas primeiras corridas da temporada de 1994. No Brasil, ele deu uma volta em cima do segundo colocado, o companheiro de Senna na Williams, Damon Hill, enquanto o brasileiro tinha rodado sozinho, culpando uma mudança de comportamento repentina no carro.

Na segunda etapa, disputada no circuito de Aida, no Japão, Senna chegou a pedir a pessoas próximas para se posicionarem em determinados pontos da pista escutando o carro da Benetton. Nestes pontos, acreditava o brasileiro, daria para identificar se o carro tinha mesmo algum sistema de controle de tração, um dos sistemas eletrônicos que tinham sido banidos entre 1993 e 1994.

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Quando Senna abandonou o GP do Pacífico logo na primeira volta, ele mesmo quis ficar na beirada da pista observando o carro de Schumacher e voltou aos boxes com a certeza absoluta de que a Benetton tinha algum tipo de reprodução do controle de tração. "Eu tenho certeza disso, tenho que lutar contra um carro ilegal, então tenho que passar do limite", disse Senna.

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Isso, de certa forma, foi retratado na série no episódio final, quando a personagem fictícia Laura Harrison diz a Senna que sabia quando ele estava na pista na época em que o piloto ainda estava no kart apenas pelo barulho do motor e ouve dele: "Então você deve perceber a diferença". Enquanto isso, Michael Schumacher está andando na pista.

Essa mudança de regulamento entre 93 e 94 atingiu em cheio a Williams, que foi a pioneira no uso avançado da eletrônica nos carros, algo fundamental para as temporadas dominantes de 1992 e 1993 que atraíram Senna ao time.

Até por causa disso, a Williams foi mais prejudicada. Anos depois, o projetista do carro, Adrian Newey, que se tornou o maior vencedor de todos os tempos da F1, se disse culpado pelo projeto ruim:

Eu errei completamente a aerodinâmica quando tive de voltar para a suspensão passiva. Era um carro aerodinamicamente instável. Era um carro muito, muito difícil de pilotar e, quanto mais ondulado o circuito, pior era. E Imola era uma pista muito ondulada.

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Mas foi só em junho que a FIA passou a agir. A entidade ordenou que Benetton, McLaren e Ferrari entregassem seus programas de computadores e contratou uma empresa de fora para verificar os sistemas.

Isso se tornou uma novela até que essa empresa conseguiu encontrar um diretório que estava escondido no meio da programação e que permitia que o piloto apenas acelerasse o máximo possível nas largadas, com os computadores cuidando do resto para o carro não derrapar. A Benetton não negou a existência desse controle de largada, mas disse que isso nunca foi usado durante as corridas e que só estava no sistema porque seria muito difícil tirá-lo. E a FIA aceitou a justificativa.

O controle de tração em si nunca foi encontrado. Mas não dá para cravar que Senna estivesse errado, porque o uso dessa tecnologia na F1 ainda estava engatinhando e a FIA, reconhecendo que tinha dificuldades de policiar o uso da eletrônica nos carros, acabou liberando as ajudas eletrônicas em 2001. Isso só foi revisto em 2008, quando todos passaram a ser obrigados a usar a mesma "caixa preta", que não é mais manipulada pelas próprias equipes.

A Benetton, contudo, teve que fazer uma mudança, na bomba de combustível. O reabastecimento tinha voltado às corridas naquele ano, e depois de um grande incêndio em um pit stop de Jos Verstappen, companheiro de Schumacher, foi comprovado que a Benetton tinha removido um filtro para que o combustível entrasse no carro mais rapidamente.

Reportagem

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