Adversários na Série A2, Lemense e Ponte Preta dividem idolatria a Dito "Flexa"
Mesmo sem um confronto desde setembro de 1989, quase 34 anos, Lemense e Ponte Preta vão entrar em campo neste sábado, às 11h, com uma ligação especial graças a um jogador que, de tão rápido, foi capaz de marcar a história das duas equipes quase que na mesma década.
Benedito Geraldo Bueno, o Dito “Flexa”, é ídolo e marcou momentos das duas equipes. Pela Macaca, integrou um dos maiores esquadrões da história do clube, ao lado de Dicá, Marco Aurélio e Lola na década de 1970. Povoa o imaginário de todo pontepretano com suas arrancadas fatais pelo lado direito.
Só chegou ao Moisés Lucarelli pelo futebol desfilado em Leme, ao ser revelado pelo Bandeirantes, time amador da cidade e com boa fama na região. Voltou ao município após uma segunda passagem pela Ponte Preta para defender o Lemense e cravou o nome na história com títulos e gols. Um deles, foi o primeiro do estádio Bruno Lazzarini, em 30 de novembro de 1980, na vitória por 2 a 0 sobre a Inter de Limeira.
O Zulão conquistou o equivalente à quarta divisão em 1978, depois, o mesmo na terceira, em 1980, sempre com Ditinho entre os destaques. Flexa, que pedia para grafar o seu nome com “X”, em vez da forma correta (com "ch"), para alinhar com a rapidez que tinha em campo, morreu no dia 20 de setembro de 2015.
De acordo com amigos, familiares e até o autor do livro da história do Lemense, o ex-ponta-direita estaria dividido diante do duelo deste sábado, válido pela 12ª rodada do Campeonato Paulista da Série A2.
2 de 3 Flexa (à dir.) ajuda a erguer o troféu do Paulista equivalente à terceira divisão — Foto: Acervo Lemense/DivulgaçãoFlexa (à dir.) ajuda a erguer o troféu do Paulista equivalente à terceira divisão — Foto: Acervo Lemense/Divulgação
O filho Gustavo Eduardo Bueno acredita que, neste sábado, o pai desejaria um empate e que todos os jogadores terminassem os 90 minutos sem lesões. Para agradar às duas torcidas que tanto gritaram seu nome.
- São os dois times que ele esteve mais presente em toda sua carreira e após parar também. Ele dizia que amor não se mede e os dois times eram do seu coração. No jogo desse fim de semana, ele iria torcer para que os dois times jogassem bem e que ninguém se machucasse. Assim era meu pai – projetou Bueno, que tem como padrinho de batismo Otacílio Pires de Camargo, o Cilinho, treinador de futebol que morreu em 2023 e comandou Flexa na Macaca e no Sport.
Para o professor Daniel Cunha, 41 anos, autor do livro “EC Lemense - 100 anos do Azulão Querido”, esse seria um comportamento típico de Flexa, que era humilde, conversava com todos e adorava “resenhar” sobre os tempos de boleiro. No entanto, o professor deixou o coração falar mais alto.
- A fase de ouro dele foi na Ponte Preta, tenho essa convicção. Mas para dizer se ele torceria para Ponte ou Lemense, acho difícil arriscar. Vou ser clubista: Lemense! Ele foi revelado em Leme, conquistou título aqui, fixou residência, a família mora em Leme, por ter sido revelado por um clube amador, penderia pelo time da casa – disse Cunha.
O professor passou pela escolinha do Flexa, em Leme, na década de 1990 e revelou alguns métodos atípicos do ex-jogador para desenvolver as capacidades técnicas nos jovens atletas. Amarrar saco de areia nas pernas e mudar posição para obrigar a garotada a chutar com as duas eram alguns deles.
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- Era um professor perfeccionista, amigo, sempre estava ao lado dos jogadores, com os meninos. Devo tudo a ele, nas peladas no clube, hoje em dia, chuto com as duas porque ele me colocou para jogar na esquerda. Eu era destro, usava a esquerda só para “subir no ônibus”, como se diz na gíria – relembra Cunha.
3 de 3 Dito Flecha durante entrevista à EPTV, quando treinava garotos na escolinha de Leme — Foto: Reprodução/EPTVDito Flecha durante entrevista à EPTV, quando treinava garotos na escolinha de Leme — Foto: Reprodução/EPTV
Com o torcedor Rafael Murer, o método utilizado assustou à própria mãe, que acompanhava o treino. Flexa queria que a garotada aprendesse seu segredo para tamanha velocidade em campo. Então o mestre decidiu dar uma força.
- Ele amarrou um saco de areia nas nossas pernas, para melhorar a explosão. Minha mãe estava assistindo e ficou horrorizada (risos). Depois, na adolescência, eu fiquei amigo dele, cara sensacional, sorriso no rosto, não gostava de ser tratado como ídolo. Adorava contar histórias: do jogo contra o Pelé, quando marcou gol. Vejo muito dele no Gustavo [filho], um paizão, amava o Lemense – relembrou .
Murer mantém uma página sobre o Lemense no Facebook chamada "Acervo Lemense", onde publica fotos, dados e relatos de jogos históricos. Ele lembra que, se vencer neste sábado, vai ser o primeiro triunfo do Zulão diante da Macaca. Até agora, foram três jogos, todos entre os anos de 1988-89, quando os times disputaram o equivalente à Série A2 nos dias atuais.
Foram duas vitórias da Ponte e um empate, este o último duelo, no dia 24 de setembro de 1989, por 0 a 0, no estádio Moisés Lucarelli, em Campinas.
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