Gabriel Casonato: A difícil tarefa de separar ruído do sinal
💥️Por Gabriel Casonato, Editor do Agora Financial
Caro leitor,
Depois de um começo de mês tumultuado politicamente, mas estável para Wall Street, parecia que as ações poderiam escapar da crise comercial sem grandes sequelas.
Então veio a segunda-feira (13), e junto com ela o maior sell-off em quatro meses mais do que dobrou o prejuízo de toda a semana passada.
O que mudou? A realidade de um potencial impasse entre EUA e China se instalou.
Talvez os países não cheguem a um acordo. Talvez o mercado de ações não consiga consertar seu navio. E talvez as consequências sejam demais para a economia global. É uma visão ainda minoritária, com certeza.
Mas para Mike Wilson, estrategista-chefe de ações do Morgan Stanley, a escalada aumentou a probabilidade de uma desaceleração econômica prolongada.
E para um dos principais estrategistas do JPMorgan, John Normand, as ações americanas poderiam cair mais 10% neste cenário, o que mataria de vez o atual bull market.
“O risco de uma recessão econômica aumentou substancialmente”, disse Wilson em nota aos clientes na segunda-feira. Por outro lado, já não é de hoje que os modelos de muitos especialistas vêm mostrando sinais de recessão.
Sinais que, até o momento, não se confirmaram. Pelo contrário… A economia americana nunca esteve tão aquecida, desafiando as projeções mais pessimistas.
Correções como a observada no final do ano passado já ocorreram outras cinco vezes nas ações americanas desde o início do mercado altista no longínquo 2009. Em todas as vezes, contudo, nenhuma recessão se materializou.
Ainda assim, virtualmente toda crise econômica no último século foi acompanhada ou precedida por um mercado em baixa.
Verdade que a boa recuperação na véspera trouxe um certo alívio quanto à possibilidade de uma virada mais brusca das Bolsas em NY.
Mas depois de um fim de semana de intensas disputas comerciais, com ataques de ambos os lados, o mercado começa a fazer contas sobre o impacto que o conflito pode ter nos lucros corporativos.
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Imagina o impacto para uma empresa como a Apple (NASDAQ: AAPL), por exemplo, que tem 20% de sua imensa receita vinda da China…
Segundo Wilson, se Trump resolver estender a tarifa de 25% sobre os US$ 325 bilhões restantes das importações chinesas, o lucro líquido das empresas do S&P 500 cairá cerca de 1,5%.
Pode parecer pouco, mas seria o suficiente para deprimir a atividade de investimentos corporativos, impactando toda a cadeia econômica do país.
Ele citou algo chamado indicador de ciclo, que mede a força da economia por meio de uma combinação de métricas que inclui curva de juros, confiança do consumidor, desemprego, entre outras.
Tal modelo entrou em fase recessiva no mês passado, “o que sempre precedeu uma recessão econômica”, escreveu Wilson.
O estrategista do JP segue a mesma linha ao afirmar que a intensificação da guerra comercial poderia empurrar alguns dos principais indicadores econômicos para o que ele chama de “níveis semelhantes à recessão”.
Normand diz ainda que não parece que as ações já estejam precificando o risco dessa piora no cenário macro, motivo pelo qual ele aposta na queda adicional de 10% caso a tendência se confirme.
De qualquer forma, ele ressalta que os fundamentos econômicos dos EUA ainda estão sólidos, não sabendo precisar o timing exato de uma eventual virada. Há de fato uma dificuldade muito grande em se determinar os rumos da economia americana no momento.
Enquanto o recrudescimento das tensões comerciais faz piorar as expectativas, a realidade ainda mostra um mercado de trabalho aquecido e que continua impulsionando o consumo e sustentando a resiliência da economia americana.
Por tudo isso, é importante separar o que for ruído de sinal, embora a tarefa esteja cada vez mais difícil. De minha parte, como tenho reiterado diversas vezes aqui, permaneço otimista com as ações para o curto prazo de um modo geral.
Sempre com um olho nas oportunidades e outro nos riscos atrelados à elas.
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