Após “PIBinho” no 1º tri, bancos estimam crescimento menor este ano
PIB recuou no primeiro trimestre, veja algumas avaliações sobre o cenário econômico (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
💥️Por Arena do Pavivni
O Produto Interno Bruto PIB, soma de todas as riquezas produzidas pelo país, se retraiu em 0,2% no primeiro trimestre ante o trimestre anterior após ajuste sazonal, em linha com as expectativas do mercado. Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, o PIB avançou 0,5%.
O número confirmou as expectativas do mercado e a frustração dos analistas, que esperavam uma melhora da atividade com o novo governo e a promessa de ajuste fiscal e reforma da Previdência.
Parte do mau resultado foi reflexo da tragédia de Brumadinho, que além das mortes de quase 300 pessoas e da destruição das cidades e da região, provocou prejuízos para a Vale e levou a mineradora a suspender as atividades em outras minas.
O impacto da Vale pode representar uma redução de 0,2 ponto percentual no PIB do Brasil neste ano, estima a gestora de recursos britânica Schroder Investment.
E a expectativa é de que o segundo trimestre também tenha um resultado fraco, afirma Mário Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú. “O segundo trimestre não está começando com uma cara boa, e com o PIB caindo no primeiro trimestre, já vai haver impacto sobre os meses seguintes”, alerta.
“Será preciso crescer a um ritmo acima de 2% ao ano nos próximos trimestres para compensar e fechar o ano com crescimento de 1%”, afirma.
Sinais ruins do segundo trimestre
No segundo trimestre, porém, os sinais que estão saindo não são bons, diz Mesquita. “Tirando os números de emprego do Caged, os dados estão mais fracos neste trimestre, caso da confiança dos empresários, produção de açúcar, balança comercial”, explica. “
“Tirando os números de emprego do Caged, os dados estão mais fracos neste trimestre (Imagem: WILSON DIAS-ABR)
Os poucos dados já indicam uma fraqueza no segundo trimestre que pode levar o PIB a crescer menos”, diz Mesquita, que tem uma projeção preliminar de 0,1% de aumento do PIB no segundo trimestre em relação ao primeiro. Essa visão, ainda que preliminar, leva a um viés de baixa para a projeção de 1,0% de crescimento do PIB em 2023 feita pelo banco.
O receio é que uma nova queda do PIB no segundo trimestre leve o país de volta à recessão. No conceito econômico, dois trimestres seguidos de queda do PIB configurariam uma recessão, mas poucos analistas estimam um segundo trimestre negativo, ao menos por enquanto.
Crescimento de 0,8% no ano
O desempenho ruim da economia no 1º trimestre mostra a necessidade de crescimento maior para o resto do ano, diz José Carlos Faria, economista-chefe do banco francês BNP Paribas. Ele reduziu a projeção de crescimento do país de 2% neste ano para 0,8%, e esperava uma queda de 0,3% do PIB no primeiro trimestre.
“Com isso, seria preciso crescer 0,2% no segundo trimestre, 0,5% no terceiro e 0,8% no quarto para chegar aos 0,8%”, disse ontem, em entrevista coletiva. Para o ano que vem, ele reviu a projeção de crescimento de 3% para 2,5%.
Surpresas negativas
A redução em 1,2 ponto percentual na projeção para o PIB deste ano é reflexo das mudanças de cenário neste início de ano. “Ao contrário de outros países, que tiveram surpresas positivas, como os EUA, o Brasil teve surpresas negativas”, diz. Todos os indicadores mostram desaceleração, afirma Faria.
O Índice de Atividade do BC (IBC-BR), as vendas no varejo, o desemprego caindo em velocidade muito baixa e com qualidade muito ruim, de empregos transitórios já mostravam o enfraquecimento da economia.
O desemprego caindo em velocidade muito baixa e com qualidade muito ruim, de empregos transitórios já mostravam o enfraquecimento da economia
E os índices de expectativas revelavam uma deterioração muito clara da confiança nos últimos meses, tanto de empresários quanto de consumidores, mostrando dificuldade da economia em se recuperar. E o barulho político deve ter influenciado na confiança.
O que derrubou a economia
A expectativa dos analistas era de recuperação da economia pelo juro baixo. Mas os dados mostram uma fraqueza do PIB pelo lado da demanda. O consumo cresce a um ritmo de 1,5% ao ano, com o crédito para pessoas físicas aumentando 9% e o de empresas 2%.
Mas o desemprego alto impede uma recuperação maior do consumo privado. “Não vai ser pelo consumo que a economia brasileira vai crescer mais rapidamente”, afirma Faria.
Já o gasto do governo também não tem muito como ajudar, pois ele está em baixa desde 2017 pela crise fiscal. E os governos estaduais enfrentam crises sérias, então há contração local. E a dívida pública elevada faz o país manter a economia de gastos e e evitar uma política fiscal expansionista.
Do lado do comércio exterior, que poderia ajudar a puxar a atividade, as exportações também estão limitadas pelo crescimento global mais lento da economia mundial, agravado pela guerra comercial entre EUA e China.
A guerra comercial EUA-China também complica a situação econômica brasileira (Pixabay)
E o principal parceiro comercial do Brasil, a Argentina, vem sofrendo uma crise econômica profunda. “Portanto, do lado externo não deve vir ajudar para aquecer economia”, explica Faria.
Resta, assim o investimento, que poderia ter uma recuperação depois de queda brutal nos últimos anos, passando de 21% do PIB em 2013 para menos de 16% do PIB agora. Nesse ponto, a longa recessão dificulta a recuperação do investimento, pois o uso da capacidade já instalada é baixo.
“Os empresários não precisam investir para produzir mais, e há incerteza grande com cenário fiscal, um problema que exige reformas importantes e complicadas, e que não se sabe se serão suficientes para retomar o equilíbrio”, afirma Faria.
Assim, não há por enquanto incentivo para os empresários começarem a investir.
Algum investimento poderia vir nos processos de concessões e privatizações. Mas mesmo eles podem levar muito tempo e enfrentam discussões no Judiciário, como foi o caso da Petrobras e da empresa de gás TAG. “Talvez seja necessário passar o processo pelo Congresso, e com isso este ano podemos não ver o efeito desses investimentos na economia, só no ano que vem”, afirma Faria.
Previdência pode sair em agosto
O economista do BNP espera que a Câmara aprove a reforma da Previdência em agosto, o que ajudará a melhorar a confiança na economia. “Estamos mais cautelosos que no começo do ano, trabalhávamos com a aprovação no primeiro trimestre”, lembra Faria. “O ambiente político segue conturbado, então achamos que o texto passe e seja aprovado no Senado em outubro”, diz.
Reforma da previdência pode ser aprovada em agosto (Agência Senado)
Para Mário Mesquita, do Itaú, a reforma da Previdência deve passar no Congresso no segundo semestre, com uma economia entre R$ 670 bilhões a R$ 990 bilhões em dez anos. Isso permitirá um corte dos juros básicos já em setembro, levando a Selic para 5,75% no fim do ano e para 5,5% até o fim de 2023.
Impacto só no ano que vem
Apesar disso, o impacto da reforma na atividade econômica só deve ocorrer em 2023. “O PIB potencial do Brasil (quanto o país consegue crescer sem inflação) pode subir com a reforma da Previdência, o prêmio de risco do país deve cair e a alta recente do dólar deve se desfazer, e haverá impacto no ânimo dos empresários”, afirma Mesquita. A atividade deve pegar tração, mas o crescimento será lento, explica.
Mesquita diz também que não é possível dizer que a culpa do PIB ruim no primeiro trimestre foi culpa do governo Bolsonaro. “Acho que ele reflete mais as medidas do governo anterior que do as do atual, que vai ter seu impacto mesmo no ano que vem”, afirma.
Ele também é contra novos incentivos do governo para tentar reativar a economia. “Voltaríamos a um modelo que não deu certo, e parte da queda do investimento tem a ver com o setor público, que perdeu a capacidade de investir”, lembra Mesquita.
Melhora na economia e retomada dos investimentos somente no ano que vem
Para ele, a aprovação da reforma da Previdência na Câmara já influenciaria a atividade. Sobre o uso das reservas internacionais para estimular investimentos, Mesquita acha que isso só deve ser tentado após a reforma da Previdência.
O que poderia ser feito para estimular o crescimento, segundo ele, seria atuar para desatar alguns nós de infraestrutura, o que permitiria mais investimentos privados. “Por exemplo, na área de concessões, pois não falta dinheiro, temos muito capital externo vindo para o país, até porque o juro baixo reduz o custo de fazer o hedge (proteção) desse investimento”, explica.
Copo meio cheio, sem recessão
Já Toni Volpon, do banco suíço UBS, diz que o número do PIB no primeiro trimestre não foi tão ruim quanto parece. Ele cita o consumo pessoal, que continuou a subir mais de 1% no período, apesar das quedas da Indústria e da Agricultura.
“No geral, parece que os choques recentes provocaram um impacto nos investimentos, nas exportações e na indústria, mas nos serviços e no consumo – que são os maiores componentes do PIB – continuam a crescer 1% ao ano”, diz.
No geral, parece que os choques recentes provocaram um impacto nos investimentos, nas exportações e na indústria (Imagem: Alex Pazzuelo/Agência de Comunicações do Governo do Estado do Amazonas)
Volpon espra que o crescimento do segundo trimestre seja ligeiramente positivo, + 0,3%. Na ausência de novos choques, o banco não espera uma recessão no Brasil. Como em 2018, o consenso do mercado foi revisado para baixo este ano, em resposta a choques. No entanto, o crédito continua a fluir, principalmente de bancos privados, e os atrasos são baixos.
As perspectivas da reforma previdenciária podem se transformar em algum aumento nas condições financeiras internas no terceiro trimestre. O desempenho do setor de serviços tem sido positivo no desdobramento do PIB. “E estamos vendo um aumento gradual da inflação básica e de serviços de suas mínimas”, avalia Volpon.
“De um modo geral, apesar da manchete de hoje, estamos vendo um crescimento fraco, mas positivo neste ano de 1% e 2,2% para 2023, perto do potencial, enquanto as metas de inflação permanecem alinhadas com as metas do BC para 2023 e além.”
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