PF ouve suspeitos de invadir telefone celular de Moro
Segundo a PF, os quatro são investigados pela suposta prática de crimes cibernéticos e foram detidos nas cidades de Araraquara, São Paulo e Ribeirão Preto (Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A Polícia Federal (PF) começou a ouvir hoje (24) os depoimentos de quatro suspeitos de acessar, sem autorização, o telefone celular do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. Suspeitos de divulgar parte das comunicações do ministro com procuradores da República que integram a força-tarefa Lava Jato, Danilo Cristiano Marques, Gustavo Henrique Elias Santos, Suelen Priscila de Oliveira e Walter Delgatti Neto foram detidos ontem (23) em caráter temporário e prestam depoimento na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília.
Segundo a PF, os quatro são investigados pela suposta prática de crimes cibernéticos e foram detidos nas cidades de Araraquara, São Paulo e Ribeirão Preto. Além dos quatro mandados de prisão temporária, também foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão.
Segundo Ariovaldo Moreira, advogado do casal Gustavo e Suellen, seus clientes foram detidos em São Paulo, de onde foram transferidos para a capital federal, onde passaram a noite em uma sala de delegacia no Aeroporto Juscelino Kubitschek.
Mensagens
Para o defensor, Gustavo foi detido por ser amigo de Walter. “Estou presumindo que a Suelen está presa por ser companheira do Gustavo. E que ele está aqui por ter certa relação de amizade com o Walter”, disse Moreira, revelando que Gustavo confirmou ter recebido de Walter, pelas redes sociais, imagens de uma suposta mensagem enviada pelo então juiz federal Sergio Moro a outras autoridades públicas.
“Segundo Gustavo, Walter mostrou a ele algumas interceptações de uma autoridade há algum tempo. Essa autoridade era o hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, mas Gustavo negou qualquer envolvimento com a interceptação dessas mensagens.
E, inclusive, chegou a alertar Walter que aquilo lhe causaria problemas”, declarou o advogado, acrescentando que Gustavo não se recorda da data exata em que Walter lhe enviou cópia das mensagens.
Ainda segundo o defensor, seu cliente não denunciou o amigo pela relação de amizade que os dois mantinham, mesmo que, segundo Gustavo, não se vejam há muito tempo.
Ainda de acordo com Moreira, na breve conversa que tiveram na delegacia da PF no Aeroporto Juscelino Kubitschek, Gustavo comentou que o quarto suspeito, Danilo Cristiano, também foi envolvido na investigação devido a laços de amizade com Walter.
“O Gustavo disse que, com certeza, o rapaz caiu de alegre, tal como ele mesmo. Esses foram os termos que ele usou”, comentou o advogado, afirmando que seu cliente conhece Danilo “de vista”.
Os quatro mandados de prisão temporária e os sete de busca e apreensão foram emitidos pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, titular da 10ª Vara Federal de Brasília. Em sua decisão, o magistrado aponta que, ao pedir autorização para cumprir os mandados, a PF indicou, entre outras coisas, que, entre 18 de abril e 29 de junho, Gustavo movimentou em sua conta bancária R$ 424 mil.
Suelen, por sua vez, movimentou pouco mais de R$ 203 mil entre 7 de março e 29 de maio. Ainda segundo a PF, Gustavo, um DJ de 28 anos, informou ao banco em que tem conta que seu rendimento mensal é da ordem de R$ 2.866. Suelen informou ganhar, mensalmente, cerca de R$ 2.192.
“Diante da incompatibilidade entre as movimentações financeiras e a renda mensal, faz-se necessário realizar o rastreamento dos recursos recebidos ou movimentados pelos investigados e de averiguar eventuais patrocinadores das invasões ilegais dos dispositivos informáticos”, concluiu o juiz federal ao autorizar a quebra do sigilo bancário dos quatro suspeitos de integrar organização criminosa e invadir os celulares não só de Moro, mas também do desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região; do juiz federal Flávio Lucas, da 18ª Vara Federal do Rio de Janeiro, e dos delegados federais Rafael Fernandes e Flávio Vieitez.
Na casa de Gustavo, foram apreendidos R$ 100 mil que, segundo o advogado, seriam usados para a compra de bitcoins. “Ele garante ter como comprovar a origem do dinheiro apreendido”.
Vazamento
A suspeita de invasão do celular do ministro da Justiça e Segurança Pública quando ele ainda era juiz na 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável por julgar os processos envolvendo réus da Operação Lava Jato, foi tornada pública pelo próprio ministério no começo de junho.
Na ocasião, a pasta informou que hackers tinham tentado invadir o telefone celular de Moro. O ministro só percebeu o que foi inicialmente classificado como uma mera tentativa no dia 4 de junho, quando recebeu uma ligação do seu próprio número. Após a chamada, ele recebeu novos contatos por meio do aplicativo de mensagens Telegram, que garante que já não usava há cerca de dois anos. Imediatamente, o ministrou abandonou a linha e acionou a PF.
Dias depois, trechos de supostas mensagens que o ministro teria trocado com procuradores da força-tarefa da Lava Jato, do Ministério Público Federal (MPF), passaram a ser divulgados por veículos de imprensa, principalmente, pelo site The Intercept Brasil, que informou que os arquivos foram entregues por uma fonte anônima.
O veículo afirma que decidiu tornar pública parte do conteúdo, tendo-o checado e confirmado a veracidade, por concluir tratar-se de assunto de interesse público.
Hoje, em sua conta na rede social Twitter, o editor-chefe do Intercept, o jornalista Gleen Greenwald, publicou uma série de comentários questionando a rapidez com que a Polícia Federal, que é subordinada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, conseguiu localizar os suspeitos de invadir o telefone celular do ministro. Gleen também lembrou que, nas últimas décadas, algumas reportagens marcantes sobre fatos políticos foram realizadas a partir do vazamento de informações.
“O jornalismo mais importante nas últimas décadas foi feito com fontes que obtiveram provas de corrupção sem autorização: os Papéis do Pentágono, Watergate, abusos da Guerra ao Terror, espionagem da NSA”, escreveu Greenwald, antes de republicar uma mensagem que propõe que, mesmo a invasão de celular sendo um crime que precisa ser investigado e punido, “nada diminui o interesse público nas revelações” do conteúdo das supostas conversas entre Moro e os procuradors da Lava Jato.
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