É preciso ir além da morte — sobre a vida e a obra de um artista palestino

Abdul Rahman Katanani Abdul Rahman Katanani Imagem: Divulgação

É preciso ir além da morte, ir além da indizível dor. É preciso não admitir um povo só de vítimas, de corpos silenciados sob os escombros, de civis contabilizados nas estatísticas. É preciso que não se faça imaginável a dizimação que uns desejam e outros execram. É preciso conceber esse povo em sua permanência, sua resistência, entender que há décadas sobrevive à perseguição, que está ativo e presente e continuará a existir contra toda a violência. É preciso imaginar seus artistas, sonhadores e poetas, imaginá-los e então descobri-los inquietos e vivos.

Conheci Abdul Rahman Katanani numa residência artística em Paris. Era um homem alto, esguio, sustentava naquele tempo um sorriso largo e olhos festivos. Nada em seu semblante revelava a dor de sua origem, sua eterna condição de refugiado, filho de refugiados, neto de refugiados. Nada na agilidade de seu corpo indicava seu intransponível limite: que, sendo palestino, nunca tivesse entrado em terras palestinas, nunca tivesse pisado o chão de seus antepassados, nunca tivesse visto as oliveiras da família arrancadas há décadas por soldados hostis.

Numa tarde ligeiramente fria, numa terra que não pertencia a ele nem a mim, ouvi a história de sua vida que recuava muito além de si. Soube de seu avô duas vezes condenado à morte por combater os invasores da região, os sujeitos antes amistosos que começavam a destruir as vilas palestinas. Soube da partida desse avô já na primeira diáspora, em 1948, querendo acreditar que ficaria fora só por uma semana, como outros garantiam. Desconfiava, o avô, mas não tinha como saber que ele e as gerações sucessivas ficariam banidos da terra por mais de 75 anos, em contagem ainda aberta.

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