Denúncia contra Antony por violência escancara a cultura tóxica do futebol
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Obviamente que Antony tem direito à ampla defesa e não deve ser condenado antes de apuração das autoridades competentes e do veredito da Justiça. No entanto, além da tendência de culpar a vítima e desacreditar a palavra da mulher toda vez que um homem famoso é denunciado por violência machista, não deixa de ser alarmante a quantidade de jogadores de futebol que têm sido acusados - muitos deles condenados - por violência doméstica, sexual e psicológica contra mulheres.
Para ficar somente em casos de grande repercussão, não é preciso forçar a memória para lembrar de Robinho, condenado por estupro coletivo na Itália, Daniel Alves, preso e denunciado por estupro na Espanha, Cuca, rejeitado por parte da torcida do Corinthians após a condenação por abuso sexual de uma garota de 13 anos, na década de 1980, ter sido novamente exposta, e do goleiro Bruno, condenado a mais de 20 anos de prisão pelo assassinato da ex-namorada Eliza Samudio.
💥️Logo se percebe que não se tratam de casos isolados, muito menos de um problema restrito ao futebol brasileiro. Na semana passada, o atacante do Boca Juniors, Sebastián Villa, foi condenado a dois anos de prisão por ameaçar e agredir a ex-esposa. Outra figura idolatrada no clube argentino, Cristian Pavón se transferiu para o Atlético Mineiro sob protestos por causa de uma denúncia de abuso sexual. Ele ainda responde ao processo. O próprio Manchester United, clube de Antony, viveu escândalo recente ao ser obrigado a afastar Mason Greenwood devido à acusação de estupro de sua ex-namorada. O atacante acabou absolvido, já que a denunciante e testemunhas desistiram de depor em juízo. Porém, o United optou por manter o jogador afastado, inclusive por reivindicação de sua equipe feminina.
💥️Evidentemente, o futebol não é o único meio a abrigar homens agressores. Sobretudo nesta semana, quando o tenista brasileiro Thiago Wild se apresenta ao Ministério Público para responder ao processo movido pela ex-namorada Thayane Lima, que o acusa de assédio moral e agressão e expôs prints de conversas em que ele a ameaça gabando-se do passado nazista de sua família, fica claro que o esporte em geral falha na formação cidadã dos atletas. A💥️inda assim, é preciso atenção especial ao futebol, não apenas por ser o esporte mais popular do país, mas também por conservar uma estrutura patriarcal, masculinizada e tóxica - das torcidas e do público que o consome nas redes sociais às categorias de base.
💥️Desde cedo, jovens jogadores são incentivados a se impor na base da força e da hipercompetitividade, muitas vezes desproporcionais para uma criança. Existe uma espécie de licença para que o atleta em formação, antes mesmo de se tornar uma estrela, se sinta autorizado a reproduzir violências, principalmente contra mulheres. São instruídos por um entorno que os trata como mercadorias a enxergar pessoas do sexo feminino como potenciais inimigas e aproveitadoras, mas com quem devem usufruir dos privilégios da fama mesmo se não houver consentimento.
💥️É aí que o futebol molda sua cultura do estupro particular, potencializada por uma sociedade que tende a banalizar a violência machista e, por tabela, a violência protagonizada por astros da bola. Os clubes têm consciência da dimensão do problema, tanto que, em reportagem de Camilla Freitas e Giovana Christ, reconhecem a necessidade de atuar de forma preventiva na base. Mas os casos recorrentes de violência contra a mulher por parte de jogadores mostram que é preciso muito mais.
💥️A começar pela implosão da estrutura de comando do futebol, ainda dominada pelo monopólio dos homens. Mudar a cultura desde a base exige ação permanente e uma real mudança de postura dos dirigentes, que não podem achar normal que tantos expoentes da nova geração sejam mais reconhecidos pela violência machista do que pelo talento em campo.
Lembrando que Antony foi revelado em Cotia, uma das maiores referências em formação de jogadores do país e orgulho do São Paulo. Ao fim da primeira temporada do atacante como profissional, o clube tricolor precisou afastar o goleiro Jean, que agrediu a esposa durante uma viagem de férias. Independentemente do desfecho da denúncia contra Antony, já passou da hora do futebol assumir que não tem feito o suficiente para romper o pacto umbilical com agressores de mulheres.
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