Flávia Oliveira e Bela Reis nos fazem refletir: quando romper com a mãe?

Mas como poderia cindir com quem seria a única a ficar? Sim, já que os laços afetivos e financeiros só me davam como base a mulher que, aos 25 anos, sairia da Paraíba rumo ao Rio em busca de melhores dias, foi renegada pelo pai ao encontrá-lo na cidade maravilhosa e viu sua vida duplicar com o nascimento de minha irmã, 14 anos antes de minha chegada.

Seria injusto fugir dos planos traçados por ela, que havia permanecido - já que meu "pai" rompeu comigo antes do meu nascimento. Tornar esse pensamento um ato frente à mulher que por vezes esqueceu de sua vida, dedicando-se a servir lautos jantares como cozinheira doméstica para dar sentido à minha, era um crime, algo inaceitável.

Ainda assim, precisei cortar o elo. Assumo os pecados. Quis trilhar horizontes que me levaram a ser quem estou, criando dia sim, dia também, minhas próprias narrativas. "Todos nós somos novelistas de nossas próprias vidas", ouvi de Rosa Montero, escritora palestrante do Fronteiras do Pensamento, na última segunda-feira (29).

Em conversa recente sobre minha infância com minha nova parceira, cheguei a ouvir: "Ele sempre bateu de frente comigo"; "Sempre quis fazer diferente". De pensamentos fortes, criei minhas opiniões fora as delas, e talvez seja esse o motivo de nossa semelhança - ainda que teime em dizer que somos diferentes.

Vendo-a em tratamento de saúde, cada vez mais frágil e ainda assim forte, vejo o espelho da vida escrever aquilo que quis, à sua forma. E refletidos, vejo um novo ciclo de rompimento nascer, mas agora com atores diferentes: eu e minha sobrinha-filha, que ainda muito nova, mostra sua força nas escolhas talhadas sobre seus desejos.

No novo embate, não haverá embate. Nunca neguei o lugar de tio-pai que só poderia caber a mim mesmo. Fiz e faço o que pude para apresentar novas maneiras de desenhar a manutenção da vida, ainda que a própria insista em dizer "não". Entendi com os mais velhos, nossos griôs, que é preciso diálogo em vez de briga; e um bocado de amor para apaziguar as chagas que são domésticas.

Não pressionaria tanto se não soubesse o que passei para chegar até aqui. Os sofrimentos, as dores da falta paterna, a vida em trânsito para dar sustento à família e ser aquele que seguraria as pontas para desfazer os nós. Mas esta história é minha, não de quem quer que seja.

1 - Reprodução/TikTok - Reprodução/TikTok
Bela Reis, em seu podcast e sua newsletter, trouxe luz ao debate sobre o "rompimento com a mãe" (no caso dela, a mãe é a Flávia Oliveira, com quem rompeu na "fase rebelde da adolescência"), que você pode ouvir no link abaixo. Ela fala sobre os "homens amamãezados", que não conseguem romper com as genitoras. Sempre lembrando que trata-se de um rompimento simbólico. "Como você faz pra ser tão firme nas suas opiniões?", perguntam os seguidores de Bela. E ela responde: "Faça terapia e enfrente sua mãe. Depois que você parar de deitar pra sua mãe, fica tudo muito fácil".

É preciso decantar relações, enxergando aquilo que não está descrito, mas é vivido. E curar as feridas feitas na luz, para seguir em frente. Com amor e proteção dos nossos, sempre.

E antes que me esqueça: mãe, posso não ser mais o menino, mas, diferente do que Erasmo canta, você sempre estará nos meus planos.

Para continuar o assunto, ouça "Conselhos que você pediu", podcast de Bela Reis:

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