Com perna amputada, criança ganha prótese, volta a pescar e quer ser médica

Ricardo Pereira, fundador e presidente da EDS, relembra as dificuldades vividas pelo pequeno Silas. Membro da aldeia Sateré Mawê, em 2009 ele foi picado por uma cobra e demorou a chegar no posto de saúde, em Parintins (AM). Como resultado, teve sua perna amputada acima do joelho.

"A gente trouxe ele para Campinas, fez a cirurgia de correção do coto [parte restante do membro amputado] e lhe demos uma prótese. Ele ganhou uma nova vida", afirma Ricardo.

Com perna amputada, agora ele estuda para ser médico

💥️Com sua nova vida, Silas começou a estudar e já tem planos futuros, inspirado na profissão que tanto o ajudou: "ele fala que vai ser médico e vai fazer parte dos Expedicionários", diz com alegria o médico Ricardo.

Sem acesso à energia elétrica, muitos indígenas não têm meios para acondicionar o soro antiofídico, que é indicado para picadas de cobra, por exemplo. Nesses casos, muitos recebem o atendimento cerca de três, quatro horas após o incidente, no posto mais próximo, aonde só se chega via barco ou avião.

💥️A falta de uma perna ou um braço tem consequências graves no desenvolvimento de um indígena. Está na tradição de seu povo aprender, desde cedo, a se deslocar, pescar, caçar, nadar e buscar alimentos na floresta, atividades que ficam comprometidas no caso de uma amputação.

Falta de infraestrutura agrava consequências

💥No Vale do Javari (AM), a prótese também permitiu que dois garotos da etnia indígena marubo construíssem uma nova vida. Com amputações acima do joelho devido a lesões por picada de cobra, eles foram vítimas do precário acesso a infraestrutura na comunidade — o deslocamento para Atalaia do Norte (AM), cidade mais próxima onde há o soro antiofídico, leva em média 12 dias.

"Começamos o processo de arrumar o coto, colocar a prótese acima do joelho. Esses povos marubo ficam a 12 dias de Atalaia do Norte. Eles demoraram muito a tomar o soro, por isso a amputação foi acima do joelho. Nós ficamos muito felizes em saber que pudemos ajudá-lo", recorda o médico.

Crianças da etnia marubo, acompanhadas do médico Ricardo Pereira. Desde o início, projeto já impactou cerca de 30 indígenas. - Arquivo/Expedicionários da Saúde - Arquivo/Expedicionários da Saúde

Segundo Ricardo, há uma grande diferença entre amputações que ocorrem abaixo e acima do joelho. "A pessoa que foi amputada abaixo do joelho coloca uma prótese e leva uma vida normal, tendo um gasto de 20% a 30% a mais de energia do que uma pessoa não amputada. Já a amputação acima do joelho demanda um gasto de energia de 50% ou mais", explica.

Mais de 30 indígenas impactados

💥️Desde o início do projeto Floresta em Movimento, já foram atendidas mais de 30 pessoas, entre pacientes atendidos com próteses, cirurgias e doações de cadeiras de rodas especiais adaptadas para uso na floresta.

As próteses destinadas a essas crianças e adolescentes possuem pés e joelhos adaptados para resistir ao calor e a outros desafios da floresta. Todo o processo de implementação leva, em média, dois meses e meio — da cirurgia para correção e modelagem do coto à cicatrização e testes necessários para aprovação.

Os custos com o deslocamento, alimentação, medicamentos são assegurados por um padrinho do projeto, que acompanha a criança não apenas no atendimento inicial, mas ao longo das etapas de manutenção.

"Os padrinhos são amigos meus, pessoas ricas [...] para eles, sai mais barato do que trocar de relógio ou de carro. É um projeto impactante, emocionante, pois são pessoas que realmente precisam", diz Ricardo.

Além desses padrinhos, uma grande marca de artigos esportivos de origem francesa vem apoiando o Floresta em Movimento com doações financeiras. Já a estadia é garantida por meio de uma parceria com um albergue localizado em Campinas (SP), sede da ONG.

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