Era louca por meu pai. Mas quem estava nas febres era minha mãe

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Maria Ribeiro

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Perdi meu pai dez anos atrás —e até hoje não tive coragem de tirar seu nome do meu telefone. Era louca por ele. Um sedutor carismático com quem ainda hoje faço ajustes, a despeito de sua ausência.

Leonidio, como todo homem separado (e machista) dos anos 1980, me via de vez em quando. Aquele esquema clássico de uma época que felizmente se foi. Uma vez por semana. Dois finais de semana por mês.

Suas aparições, até pela vantagem matemática, eram sempre perfeitas: não havia a palavra "não" nos nossos dias, o que por muito tempo recebi como ilha da fantasia. Fake news braba. Do tipo pior que Papai Noel. Com todo o amor, pai. Crítica construtiva.

De uns tempos para cá, com minha mãe cada vez mais velha, tudo o que faço é olhar de novo. Quem é que ficou de verdade? Quem estava nas febres, nas ave-marias, nos supermercados? Quem organizava os aniversários, os Natais e se preocupava em reunir a família? Quem levava meus cães ao veterinário e sabia de todos os segredos da vida miúda?

Aquela que ontem caiu. Que chamo de mãe há 46 anos (e que gostaria, se der, de chamar um pouco mais). "Mãe!", vou falar hoje. 87 vezes. Mesmo que ela não escute (ela não escuta). Mas meu corpo há de gravar esse som. Internada em uma cama de hospital, ela pede um livro.

Lembro de Sinéad O'Connor. Da melancolia que as une. Do papa que as separa. E da condição que nos coloca nas mesmas filas. De um gênero que merece muito mais atenção e respeito. E de um fim —esse, sim, democrático— que deveria ser mais lembrado.

Contra ele, palavras doces e dias de amor.

Flores em vida, como dizia Nelson Cavaquinho.

Ou: nada se compara a você, como dizia Sinéad.

O que você está lendo é [Era louca por meu pai. Mas quem estava nas febres era minha mãe].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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