Rainha do pôquer: Sei quando um cara mente e blefo se me subestimam

Carol Martins joga há dez anos pôquer, área dominada por homens: "Consigo saber quando um cara está mentindo" - Arquivo pessoal

Camila Corsini

De Universa, em São Paulo

E isso deu um empurrãozinho para ela tomar gosto pelo pôquer, jogo de cartas e fichas, com blefes, estratégia e muita lógica.

"Comecei a estudar de forma autodidata por tutoriais na internet e livros. Passei a frequentar um clube de pôquer e a brincadeira começou a ficar séria."

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, o pôquer não é um jogo de azar. Ele é legal no Brasil e, como o xadrez, é considerado um esporte da mente.

Minoria na mesa

Aos poucos, Carol se especializou. "No clube, falei: quero jogar naquela mesa. Via que era uma mesa que parecia ser mais importante, tinha mais regalias, mais gente em volta. Descobri que era uma modalidade chamada Omaha."

Ela aprendeu Omaha e, ali, era uma das únicas mulheres na modalidade. Em 2023, apenas 4% dos competidores de um torneio mundial em Las Vegas eram mulheres.

Carol é conhecida no meio jogando duas modalidades: Texas Hold'em e Omaha - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
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"Não vejo onde pode existir uma vantagem masculina sobre as mulheres. Principalmente em um jogo que, para mim, é muito da observação. Consigo saber quando um cara está mentindo, consigo observar e ver os padrões deles de apostas e usar isso a meu favor."

Outra cartada dela foi a de oferecer curso de pôquer focado em mulheres. A ideia é trazê-las para o jogo e diminuir o abismo daquela porcentagem de participação.

"É para as mulheres entenderem que a nossa disputa é de igual para igual. Assim, nossos resultados também serão mais vistos."

Joga para investidores

Antes de o pôquer chegar à sua vida, Carol estudou artes cênicas e rádio e TV. Além de atuar, também apresentou um programa por oito anos. Cinéfila e viciada em séries, tem o desejo de voltar para a frente das câmeras.

Em 2023, lançou um livro e ainda é sócia de uma produtora audiovisual com a ex-esposa.

Diante de uma rotina tão cheia, Carol teve de rever prioridades: ficou um ano e meio no time do Mojave e mais um ano e meio em outra equipe.

Depois, resolveu sair dos times e jogar só por meio de investidores, ou seja, pessoas que aplicam dinheiro em suas estratégias.

"São pessoas físicas que investem em mim, como investiriam na Bolsa [de Valores], por exemplo. Normalmente são jogadores de pôquer também, porque eles entendem como funciona a dinâmica. São acordos bem sérios", explica.

Hoje, Carol joga através de investidores; em junho, vai para Vegas - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal

Hoje, Carol joga através de investidores; em junho, vai para Vegas

Desde o ano passado, ela faz parte do clube de afiliados da Pokerstar, uma das maiores plataformas de pôquer do mundo, e já é bem conhecida no meio jogando as modalidades Texas Hold'em e Omaha.

Corpo são

Em um torneio, se não cair no meio da disputa, um jogador pode passar de 10 horas a 12 horas jogando. E, se cair, pode entrar em outro. Carol conta que já passou cerca de 15 horas online. Tanto desgaste exige cuidados.

Tem de ter muita disciplina e muita atenção na saúde. Não bebo álcool há 20 anos, nunca usei drogas. Sou totalmente focada. Não tenho uma rotina normal, acabo atravessando madrugadas, e isso para mim não é problema. Mas me alimento bem, durmo bem, descanso antes dos torneios e cuido da mente

No próximo mês, a competidora brasileira vai a Las Vegas para disputar o mundial.

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