Orientação sexual não se escolhe, mas também muda durante a vida
Orientação sexual não se escolhe, mas também não é a mesma por toda a vida
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Ana Canosa
Conheço casos de pessoas que se denominam como heteroafetivas ou heterorromânticas, o que significa que desejem romance com pessoas de gênero diferente, mas se atraiam sexualmente por alguém do mesmo gênero. Há também as que têm tanto o interesse afetivo quanto sexual para um mesmo gênero. Por isso mesmo que hoje, em se tratando de atração, sexo e afeto não caminhem mais sempre juntos e distingue-se orientação sexual de orientação romântica.
Essa fluidez no desejo sexual é observada mais frequentemente em mulheres. Nada incomum se deparar com relatos de que se casaram com homens, por quem se sentiram atraídas sexualmente, mas que se envolveram com outras mulheres posteriormente, destacando o papel dos afetos nessa relação. Algumas, inclusive, identificam alguma atração sexual por homens, algo que fica em segundo plano quando se tem prazer no sexo e qualidade na relação com uma parceira.
Sexualidade e identidade de gênero são coisas diferentes e multifacetadas
Essa maior flexibilidade, apostam alguns, se dá porque nós, mulheres, somos mais livres para viver ao lado de pares do mesmo sexo, sendo os homens mais socialmente julgados por manifestações afetivas com outros homens. O preconceito acontece para ambos os gêneros, mas a hipótese é a de que, para as mulheres, a relação de intimidade emocional com outra mulher não seria uma novidade, já que socialmente essa troca afetiva e de carinho é mais aceita.
Outra questão que também ilustra a fluidez de gênero é o papel da cultura no formato de convivência familiar, por exemplo. Aprendi recentemente no perfil @verbopreto que existem relatos históricos sobre casamentos entre duas mulheres que não podem ser considerados homoafetivos, ao menos no que diz respeito à questão da atração sexual e romântica.
De acordo com o historiador Kenneth Nwoko, o casamento entre mulheres-marido foi uma prática comum em mais de 30 sociedades em África. Mulheres maduras, sem maridos ou filhos, com condição econômica elevada, a fim de resguardar sua linhagem e riqueza, podiam se casar com outras mulheres. Essa relação não era de cunho romântico ou sexual, mas tinha o mesmo status, sendo celebrada e reconhecida pelo grupo.
Mulheres-marido ganhavam mais status e poder e, suas esposas, normalmente, tinham liberdade para ter vários parceiros sexuais anônimos. Qualquer filho resultante de uma atividade sexual dessa natureza era considerado filho da relação principal. Um exemplo de fluidez de gênero mas que não estava atrelada ao desejo sexual e, sim, servia para a manutenção das tradições culturais.
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