Incompatível com a vida: burocrácias dificultam aborto por doença

Veja o relato completo que Andrezza deu para 💥️Universa:

"Estava trabalhando muito e a bebê não ganhava peso. No começo os médicos achavam normal, só falavam que ela era magrinha mesmo. Não era uma preocupação. Fui a oito médicos e um disse que eu precisava de repouso e pegar mais leve na rotina. Acatei, mas a bebê não engordava.

Nenhum exame indicava que a Stella tinha qualquer problema. Foi só na trigésima semana que isso mudou. Fiz meu chá de bebê no sábado e segunda tinha uma consulta de rotina. O exame demorou demais. No fim, tinham visto uma mancha no tórax dela. Pediram para que eu fizesse um exame cardiovascular e constataram que uma das válvulas do coração da Stella estava flácida.

Procuramos cardiologistas. A primeira médica disse que, por conta do problema no coração e o baixo ganho de peso, era provável que Stella tivesse Síndrome de Down. Mas confirmar naquela altura era perigoso. Precisaria fazer uma amniocentese que poderia me colocar em trabalho de parto prematuro. Para mim, não fazia diferença. Não colocaria o bebê em risco. Acompanharíamos e o plano era tratar do ganho de peso após o nascimento.

Ainda nessa mesma semana procuramos outro especialista, que tinha em seu consultório um equipamento de exame que não existia em nenhum outro hospital. Ele descobriu que ela tinha uma hérnia no tórax. Podia não ser nada, mas podia ser trissomia no cromossomo 13 ou no 18, ambos incompatíveis com a vida.

Nesse momento já tínhamos um novo cenário: ou ela nasce e precisa operar o coração ou tínhamos 50% de chance da nossa filha não ser compatível com a vida. Isso significa que ela não conseguiria nem comer e nem respirar fora da minha barriga. E poderia sufocar no nascimento.

Por conta dessas possibilidades decidimos fazer a amniocentese. O resultado saiu no mesmo dia: a Stella tinha Síndrome de Edwards. Nosso cenário de gravidez mudou em cinco dias: de um chá de bebê para a notícia que nossa filha não sobreviveria após o nascimento. A sensação era de que ela morreu diversas vezes, porque foram muitos diagnósticos.

O médico me explicou que, se eu quisesse seguir com a gestação, ela poderia sufocar no nascimento. E como eu já estava na 31 semana de gravidez, precisaria entrar na justiça para pedir a interrupção. Entrei com o processo sem nem saber se queria.

Precisei de um laudo médico, uma carta minha escrita a punho, onde eu disse que não queria interromper, mas explicava o que se passava com minha filha. O Fórum não autorizou na primeira tentativa. Na segunda, a juiza que recebeu o caso era contra o aborto, não queria ser a responsável pela decisão. Passou para que uma outra analisasse o caso. Acabei conseguindo a autorização.

Desmarquei duas vezes a interrupção antes de conseguir fazê-la. Eu nunca tive a certeza do que fazer, mas a ideia dela sufocar, pra mim, era horrível. Na minha barriga ela estava protegida, mas se nascesse poderia passar por uma dor física.

Com 34 semanas tomei a decisão de interromper minha gestação e a Stella já nasceu sem vida. Fiquei 56 horas em trabalho de parto. Fui para o hospital na terça-feira, quando o parto foi induzido e ela nasceu na sexta-feira. A anestesia não pegou, passei por diversos momentos de dor intensa e o parto aconteceu de forma natural."

Semayat Oliveira: 'Nível de desamparo que mulheres são submetidas é muito violento'

Durante o programa 💥️Sem Filtro de hoje (11) a jornalista Semayat Oliveira falou sobre os problemas da legislação brasileira nos casos em que o aborto é necessário pela má formação do feto. Para ela, salta os olhos o abandono jurídico da Justiça.

A jornalista destacou que o processo para que a interrupção da gravidez aconteça é bastante desgastante e também salientou que acontece uma violência psicológica e emocional "muito profunda". Ela ainda afirmou que a legislação brasileira permite o aborto em casos de anencefalia, mas não há previsão para casos de má formação do feto, sendo necessária a via judicial.

Às vezes a mulher precisa ir na vara criminal, então ela não acessa o direito ao aborto legal, ela é autorizada a cometer um crime. É tão violento que nossa lei não abrange todos os casos, então você precisa percorrer um caminho que autorize cometer um crime. Precisa rever a lei o quanto antes e é muito violento o nível de desamparo que essas mulheres acabam sendo submetidas. 💥️Semayat Oliveira

Assista ao 💥️Sem Filtro

Quando: às terças e sextas-feiras, às 14h.

Onde assistir: no YouTube de Universa, no Facebook de Universa e no Canal.

Veja a íntegra do programa:

O que você está lendo é [Incompatível com a vida: burocrácias dificultam aborto por doença].Se você quiser saber mais detalhes, leia outros artigos deste site.

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