Grupo católico destrói exposição feminista na Argentina: Atentado

Grupo católico destrói exposição feminista na Argentina: 'Atentado' Obra que foi destruída na exposição 8M Manifestos Visuales, na Argentina - Divulgação

Eles se organizaram para rezar e exigir a retirada das imagens expostas no local desde o dia 7 de março, por considerá-las blasfêmia.

A instituição é a maior da região e reconhecida como a 8ª melhor do país.

O que aconteceu?

  • A Faculdade de Artes e Desenho da Universidade Nacional de Cuyo, na Argentina, criou uma exposição pelo Dia Internacional da Mulher.
  • Na segunda-feira (20), 30 pessoas invadiram o lugar e destruíram sete peças após uma convocatória de um grupo religioso alegar que as imagens "ofendem a fé católica".
  • Em nota, a instituição disse que "assistiu com horror" o episódio, que classificou como atentado. Também pediu um "diálogo responsável".
  • A arquidiocese de Mendoza classificou a exposição como "violência simbólica contra signos religiosos cristãos", mas repudiou o episódio e disse se solidarizar com os artistas.
  • Entre as obras havia uma colegam de imagens de vulvas e uma escultura de um crucifixo com um corpo feminino nu e uma máscara de cabeça de vaca.
Imagens de vulva que faziam parte da exposição e foram destruídas - Divulgação - Divulgação
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Na sequência, outro senhor diz que o grupo precisa pedir a São Miguel Arcanjo para "quebrar o demônio da perseguição blasfema" e sugere "exorcismo" antes de começar a rezar em latim.

Após as rezas, o grupo partiu para cima das sete obras que acabaram destruídas. Os atos de vandalismo foram aplaudidos na sequência. Tudo foi registrado em vídeos gravados em celulares. Na terça-feira (21), a faculdade denunciou o episódio à Justiça para que os responsáveis sejam identificados.

Ala de obras quebradas: episódio foi denunciado à Justiça - Divulgação - Divulgação

Ala de obras quebradas: episódio foi denunciado à Justiça


"Nem leram sobre o conceito das obras", diz diretora da faculdade

De acordo com Laura Braconi, decana da faculdade, as críticas surgiram a partir da descontextualização das obras, criadas para que artistas e alunas expressassem suas visões sobre gênero no mês da mulher. "O triste é que nem leram sobre o conceito das obras", lamenta Laura, em conversa com Universa. O caso será analisado pelo Conselho Superior da instituição.

Entre as obras danificadas estão as das artistas Viviana Carrieri e Mara Morón, com imagens de vulvas e feitas a partir de um trabalho de pesquisa realizado com a Faculdade de Medicina da mesma instituição, no qual ginecologistas detectaram que muitas pacientes não sabem identificar as partes do seu aparelho genital.

"Um trabalho de pesquisa sério, responsável, de mais de um ano, com fim educativo, acabou danificado por gente que nem sequer sabe para que é", conclui Laura.

Outro alvo dos ataques do grupo foi a obra "O Velório da Cruz", em que a artista plástica e cantora Cristina Pérez, representa um sarcófago em forma de crucifixo. Em conversa com Universa na tarde desta terça, enquanto conferia os destroços de sua obra no local do ataque da tarde de ontem, ela conta que sua produção exposta era parte de uma série chamada "A cruz, o corpo e o rito", que deriva de uma investigação sobre sincretismo religioso.

"Essa obra implicou um trabalho de pesquisa de dois anos sobre as ornamentações dos santuários religiosos populares", diz. A máscara de crânio de vaca, por exemplo, foi usada para trabalhar o tema "da vida e da morte".

Após uma reunião, as expositoras decidiram manter as obras no local, e os destroços serão colocados no local das obras, que não serão reconstruídas.

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