70% dos brasileiros diz que homens são cruciais para igualdade

Homens precisam considerar participar de movimentos femininos para serem aliados nos embates por igualdade de gênero - iStock

Os dados fazem parte da pesquisa International Women's Day (Dia Internacional da Mulher, em português), feita pelo instituto Ipsos com quase 50.000 pessoas em 32 países, entre eles o Brasil. Cerca de 1.000 brasileiros foram entrevistados para a pesquisa, feita entre 22 de dezembro de 2022 e 6 de janeiro de 2023.

Por aqui, 70% concordam que, a menos que a aliança masculina ocorra, a igualdade não será alcançada. Porém, entre todas as nações consultadas, o Brasil é o país em que mais pessoas (79%) acham que está sendo exigindo demais dos homens pela equidade de gênero.

"Os homens são os principais agentes da desigualdade, não por serem biologicamente maus ou violentos, mas por serem atendidos por essa masculinidade dominante que infelizmente é muito pautada na misoginia. É uma luta coletiva de todas as pessoas e instituições, sejam elas públicas ou privadas", explica a advogada especialista em gênero e colunista de Universa Isabela Del Monde.


46% dos brasileiros se definem feministas


Quase metade dos brasileiros entrevistados se diz feminista. O número, 46%, representa um aumento em relação aos anos anteriores.

Em 2023, foram 41%; em 2022, 43%, o que mostra uma tendência de crescimento entre os que se reconhecem como parte do feminismo.


Desigualdade de gênero no mundo


Nos países em que a pesquisa foi feita, 68% afirmam que atualmente existe desigualdade entre mulheres e homens em termos de direitos sociais, políticos e/ou econômicos em seu país. Mas o que isso significa?

A igualdade de gênero estabelece que homens e mulheres tenham os mesmos direitos, oportunidades e deveres na sociedade. "A desigualdade de gênero está também na base da violência de gênero, como a doméstica e a sexual. Quando se tem a ideia de que um grupo detém mais direitos e poderes sobre o outro, a violência surge como um mecanismo de controle e manutenção desse poder", observa Ana Paula Braga, advogada, especialista em violência doméstica e familiar e sócia da Braga & Ruzzi Sociedade de Advogadas.


O que precisa ser feito para alcançar direitos iguais?


No Brasil, 74% das pessoas acreditam que há ações que podem ser tomadas para ajudar a promover a equidade de gênero. A média nacional está acima da mundial, de 62%.

Sobre as ações do poder público, Del Monde afirma que as esferas municipal, estadual e federal devem fomentar a igualdade de gênero por meio de leis, programas e políticas públicas que cheguem diretamente na população feminina. Na iniciativa privada, a mudança deve vir das empresas, que precisam garantir a contratação, a permanência e a ascensão feminina.

Família e amigos. Ainda segundo a pesquisa, globalmente, no ano passado, as pessoas eram mais propensas a falar sobre igualdade de gênero com sua família e amigos (32%). No Brasil, esse número sobe para 34%. Além disso, 21% responderam que se manifestaram quando um amigo ou membro da família fez um comentário sexista; e 21% falaram sobre igualdade de gênero no trabalho.

Del Monde destaca que é preciso ficar atento a essas situações e que nenhuma descriminação pode ser usada como subterfúgio de humor. "O machismo recreativo, como piadas com sogras e que depreciam casamento, como se fosse o 'fim da vida do homem', não devem ser feitas."

É importante também que as famílias compartilhem igualmente os trabalhos domésticos no dia a dia e nos encontros familiares, já que é na esfera doméstica que o machismo encontra mais terreno para crescer.

"As mulheres acabam tendo um acúmulo de carga mental para serem gestoras e executoras da administração doméstica, da vida dos filhos e da família, e não dá mais para ser assim. É necessário que os homens também sejam protagonistas das ações de cuidado."

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