Não é só você... Folia mexe mesmo, e casais brigam mais no Carnaval

O clima dá um empurrão para você encarar certas situações - RebecaMello/Getty Images

Segundo ele, questões como "eu não tenho o direito de cair na farra?" ou "eu quero mesmo um relacionamento sério?" podem estar latentes o ano todo, mas costumam ganhar força quando estimuladas pelo clima carnavalesco.

"Pouca razão e muito tesão é o que impera nos dias de Carnaval", diz.

A psicanalista e escritora Regina Navarro Lins afirma que, nesses dias, é impossível não perceber a excitação brilhando no olhar das pessoas. "Desejo de beijar, de fazer sexo, mas com muita urgência, afinal, o tempo é limitado", diz ela. "O Carnaval parece funcionar como um período em que homens e mulheres dão uma trégua à censura que se impõem durante o ano. Há mais coragem para experimentar o sexo casual. Só não vale se esquecer da camisinha."

Para a psicoterapeuta especialista em psicodrama Cecília Zylberstajn, assim como o Natal e o Ano Novo geram reflexões sobre os caminhos que nossa vida está tomando, o Carnaval também faz pensar.

Mas nada disso significa que todo mundo está propenso a procurar um outro alguém para uma aventura de Carnaval. Essa possibilidade tem mais a ver com a forma como os casais encaram a própria relação do que com a data.

Se você está feliz com o relacionamento, não irá questioná-lo, mas ele pode trazer à tona frustrações que já existem"
💥️Cecília Zylberstajn

De acordo com a psicóloga e sexóloga Maria Claudia Lordello, da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo), antes de partir para implicâncias, gritos e lágrimas, homens e mulheres precisam conversar.

"Cada casal tem suas próprias regras e normas de conduta, ainda que implícitas. Na hora de combinar o que vão fazer ou não durante o Carnaval, elas devem vir à tona", diz.

Isso porque, para cada pessoa, a infidelidade tem um significado: para alguns, é quando um dos parceiros faz sexo com outra pessoa; para outros, um beijo na boca ou corresponder a um olhar de paquera já configura traição.

Mas há quem acredite que classificar uma relação extraconjugal como traição é um erro e defenda que todos têm o direito de viver experiências com sexuais com mais parceiros.

Ainda que o casal tenha um acordo de não ter relações extra-conjugais, isso não impede que um deles viva uma aventura.

"Isso depende, obviamente, do respeito que cada um tem pelo parceiro, pelo relacionamento e pelas próprias escolhas. Mas abrir o jogo sobre medos e dúvidas ajuda a criar uma sensação confortável de segurança", conta a psicóloga Sandra Samaritano.

Discutir a relação às vezes é chato, mas necessário.

Será que vale a pena mesmo continuar ao lado de alguém que ameaça romper tudo caso você vá para a praia com a turma? E o que dizer das generalizações do tipo "Todas as suas amigas são periguetes, então não duvido que você vá aprontar"?

A desconfiança pode descortinar aspectos bem negativos da personalidade das pessoas e da dinâmica das relações.

Na opinião de Cecília Zylberstajn, é preciso ainda levar em consideração o histórico do relacionamento. Se as discussões já vêm de outros Carnavais e todo ano o mesmo drama se repete, o casal tem um impasse que precisa resolver e que costuma ser varrido para baixo do tapete quando chega a quarta-feira de cinzas.

"O feriado é uma espécie de prova de fogo, mas há uma crise entre os dois que deve ser solucionada e que passa por outras questões. E é aquele que mais se incomoda com a diversão do outro que primeiro precisa tentar se modificar", diz a psicóloga.

Passe livre dá certo?

Nem todo casal que sente vontade de "ficar" com outras pessoas entra em crise no Carnaval. Sem drama, adotam o chamado "passe livre".

A ideia é que ambos façam o que bem entenderem durante os dias de folia. E sem culpa.

"Relações baseadas em valores morais rígidos podem se romper quando se veem ameaçadas por traições. Mas as flexíveis podem sobreviver", diz Savian, que acredita ser melhor essa opção que a hipocrisia.

"Se é consensual, os dois têm os mesmos direitos e vontades, não há uma quebra de contrato de relação monogâmica", diz Zylberstajn.

Mas, claro, pode não funcionar.

A psicóloga Adriana Duarte lembra do filme "Passe Livre" (2011). Na história, Rick (Owen Wilson) e Fred (Jason Sudeikis), cansados do marasmo do casamento, recebem de suas mulheres um "passe livre". Inicialmente, eles se empolgam, mas ao lembrar que o passe também vale para elas, começam a sentir ciúmes.

"Para dar certo, depende dos valores que regem cada relação e qual o grau de cumplicidade dos envolvidos", ressalta.

Por que tantas brigas e términos?

Para Duarte, as discussões surgem por falta de diálogo.

"As pessoas acabam se exaltando e não conseguem entrar em um acordo de como aproveitar as festividades juntos, o que leva à insegurança e ao ciúme", afirma.

O teste de resistência é ainda maior quando o casal tem planos diferentes para o feriadão.

Zylberstajn explica que não é uma regra beijar todo mundo no Carnaval, mas, se a pessoa tem esse desejo, terminar é mais honesto do que trair.

"As pessoas podem terminar por imaturidade ou por perceberem que não era o momento de assumir um compromisso. Mas usam o Carnaval como o estopim de algo que já era insatisfatório."

Para a psicóloga, terminar o namoro antes do Carnaval e reatar logo depois pode ser uma tentativa de driblar o contrato monogâmico. Mas a desconfiança abala profundamente uma relação, principalmente, quando surge a partir de uma desculpa inventada por um parceiro que quer se divertir enquanto o outro preza a fidelidade.

"O melhor é sempre a verdade ou a flexibilidade para aceitar que o outro pode se divertir sem você", diz Savian.

Os sinais de que seu romance corre riscos neste Carnaval são claros: mentiras, falta de diálogo, possessividade, insegurança e o arrependimento de não ter aproveitado bem a "solteirice".

* Com informações de texto publicado em 02/16/2012

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