Apreendidas 30 toneladas de moluscos e detidos 62 em Portugal, Espanha e França
Trinta toneladas de moluscos foram apreendidas e 62 pessoas detidas entre 2023 e 2024 numa operação em Portugal, Espanha e França, com ligação ao tráfico de seres humanos, anunciaram ontem a Europol e GNR.
Os 62 detidos, 12 dos quais em Portugal, são suspeitos de integrarem redes de contrabando de meixão e amêijoa-japonesa nos três países.
“Esta operação teve como objetivo combater a pesca ilegal e o contrabando de moluscos, nomeadamente as amêijoas-japonesas, que estavam contaminadas e a ser falsificadas e apresentadas como seguras para consumo humano”, adiantou, em comunicado, a GNR.
Os bivalves eram vendidos “como se a apanha tivesse sido no Estuário do Sado” e não no do Tejo, onde a toxicidade das amêijoas-japonesas obriga a “depuração de categoria C”, para a qual não existem mecanismos em Portugal, precisou, à Lusa, Ricardo Vaz Alves, da Direção do Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente (SEPNA) da GNR.
De acordo com a nota da força de segurança, foi também possível “identificar e estabelecer uma ligação entre o tráfico de seres humanos para exploração laboral e este tipo de crimes ambientais”.
“Há um fenómeno que está associado a condições precárias em que vivem os apanhadores, muitos deles originários do Nepal, Bangladesh, de toda a zona do Indostão”, apontou o tenente-coronel.
No total, foram apreendidas, na operação transnacional “Valvia”, 30 toneladas de moluscos e seis de meixão, cujo valor no mercado ascenderia a 10 milhões de euros, estimam a GNR e a Europol.
“As redes criminosas exploravam pescadores, originários de países asiáticos, pagando-lhes apenas um euro por quilo de marisco pescado”, quando no mercado um quilo destes moluscos pode custar até 25 euros, acrescentou a polícia europeia.
“Os apanhadores pescavam ilegalmente em Portugal, enviando os moluscos para Espanha e para as redes criminosas”, descreveu a Europol.
A organização salientou ainda que “o contraste entre o preço dos moluscos no mercado e os ganhos dos pescadores levaram as autoridades a confirmar a ligação entre o crime ambiental e o tráfico de seres humanos para exploração laboral pela primeira vez na União Europeia”.
Em Portugal, oito dos 12 detidos foram apanhados pela GNR em 2022 na operação “Tagus Clam”, que decorreu no Seixal e no Montijo, e no âmbito da qual foram apreendidas 1,5 toneladas de bivalves, 12 embarcações e 120 mil euros, referiu Ricardo Vaz Alves. Os restantes quatro foram detidos noutras operações de menor dimensão.
No total, foram apreendidas nesse ano em território nacional cerca de 73 toneladas de amêijoa-japonesa, 22 em 2023 e 30 em 2024, concluiu.
Além do SEPNA da GNR, a operação “Valvia” contou com a participação em Portugal da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE).
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