Aves urbanas podem estar a espalhar superbactérias & Green Savers

@Freddy/Pixabay

Uma investigação conduzida por cientistas do Ineos Oxford Institute for antimicrobial research da Universidade de Oxford descobriu que as aves selvagens, como patos e corvos, que vivem perto de seres humanos, por exemplo nas cidades, são suscetíveis de transportar bactérias com resistência antimicrobiana (RAM).

Segundo a mesma fonte, este facto cria uma necessidade urgente de os decisores políticos e os serviços sanitários considerarem as diferentes formas de propagação das bactérias resistentes aos antibióticos, fora do contexto hospitalar.

A RAM ocorre quando os micróbios causadores de doenças, como as bactérias, se tornam resistentes aos antibióticos que, de outra forma, os matariam.

No Reino Unido, estima-se que 58.224 pessoas tiveram uma infeção resistente a antibióticos em 2022 e 2.202 morreram. Globalmente, a AMR foi diretamente responsável por cerca de 1,27 milhões de mortes em 2023, e a Organização Mundial da Saúde descreveu-a como uma das principais ameaças globais à saúde pública e ao desenvolvimento.

Num novo estudo publicado na revista Current Biology (Cell Press), os investigadores analisaram 700 amostras de bactérias retiradas do intestino de 30 espécies de aves selvagens em 8 países* e analisaram a Campylobacter jejuni, uma bactéria zoonótica causadora de diarreia comum encontrada no microbioma intestinal das aves. As doenças zoonóticas são aquelas que se podem propagar entre os animais e os seres humanos.

Utilizando a análise genómica, estudaram a diversidade das estirpes de C. jejuni, bem como a presença de genes associados à RAM. Foi desenvolvido um novo modelo estatístico para estudar a relação entre estes e vários fatores, incluindo o comportamento e a localização das aves.

Foram encontrados marcadores genéticos associados à RAM em todas as espécies de aves estudadas.

Verificou-se que as aves selvagens que vivem perto dos seres humanos, como os corvos e os patos, continham uma gama mais vasta de estirpes bacterianas e até três vezes mais genes AMR do que as aves que vivem em ambientes mais isolados, como as montanhas. Estes incluíam genes associados à resistência a muitos antibióticos humanos de uso comum.

“A resistência antimicrobiana (RAM) é um problema complexo que afeta não só a saúde humana, mas também os animais e o ambiente. As aves selvagens têm potencial para transferir a RAM a longas distâncias para o gado criado para consumo de carne e para animais de companhia, como os animais de estimação. Isto pode ter implicações económicas para a agricultura, o bem-estar animal e a segurança alimentar”.

“O nosso estudo é o primeiro a demonstrar que as populações de aves selvagens nas cidades são reservatórios de bactérias resistentes a muitos antibióticos humanos importantes. Há uma necessidade urgente de compreender de que forma a atividade humana está a influenciar a propagação de doenças zoonóticas e a resistência antimicrobiana”, acrescenta o Professor Samuel Sheppard, Digital Microbiology and Bioinformatics Lead, Ineos Oxford Institute for antimicrobial research, e autor principal do estudo.

Os animais que vivem em zonas urbanas estão expostos a várias fontes de bactérias resistentes aos antimicrobianos, como os rios contaminados com águas residuais, e podem desempenhar um papel na propagação destas bactérias aos seres humanos.

💥️Corvos e tordos são predominantes em ambientes urbanos

À medida que as populações humanas continuam a crescer, a urbanização perturba o ambiente existente, bem como os animais que nele vivem. Isto leva a um maior contacto entre humanos e animais selvagens, proporcionando novas oportunidades para a propagação de agentes patogénicos zoonóticos.

Apesar desta ameaça à saúde global, tem havido pouca investigação sobre o impacto da perturbação do habitat nas bactérias transportadas pelos animais que vivem perto dos seres humanos.

Este novo estudo fornece provas quantitativas importantes da transmissão da RAM através dos ecossistemas e destaca os papéis interligados dos seres humanos, dos animais e do ambiente na contribuição para a propagação da RAM.

As aves podem viajar grandes distâncias e muitas espécies identificadas neste estudo, como os corvos e os tordos, são predominantes em ambientes urbanos, em contacto próximo com os seres humanos.

Os dados fornecidos por esta investigação serão preciosos para estudos futuros destinados a compreender o impacto total da expansão humana na propagação de agentes patogénicos zoonóticos e da resistência antimicrobiana.

“O nosso estudo salienta a necessidade de uma ação global coordenada que tenha em conta a conservação da vida selvagem, a saúde pública e a agricultura, a fim de limitar os impactos de longo alcance da RAM”, diz o Professor Samuel Sheppard, responsável pela microbiologia digital e bioinformática no Instituto Ineos Oxford para a investigação antimicrobiana e principal autor do estudo.

Os países incluídos no estudo foram o Canadá, a Finlândia, a Itália, a Lituânia, o Japão, a Suécia, o Reino Unido e os EUA.

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