Chefão da Motorola abre jogo sobre presente e futuro dos celulares

Poucos brasileiros ocupam posição de tanto destaque no cenário internacional de tecnologia quanto Sergio Buniac, o presidente da Motorola. Ele se divide entre São Paulo, onde mora, Chicago, onde fica a matriz da empresa, e diversos outros escritórios pelo mundo. O executivo é reconhecido pelo mercado por colocar a companhia de volta nos trilhos, sanear as contas e lançar celulares interessantes. Hoje em dia os desafios são outros: manter-se competitiva – com um estável segundo lugar no mercado brasileiro –, renovar uma marca quase centenária e ainda desenvolver novas tecnologias antes da concorrência.

Numa visita à sede da empresa nos Estados Unidos, Buniac me recebeu em seu escritório para uma conversa franca sobre os diversos fatores que marcam a atuação da Motorola no campo dos smartphones. Nós falamos do que está sendo feito atualmente e qual a visão da empresa para o futuro dos dispositivos móveis. O chefão da marca Moto dobra a aposta nos celulares dobráveis e comenta, por exemplo, a importância de ter um ecossistema mais bem-acabado.

Eu não poderia perder a oportunidade de temperar a conversa com algumas polêmicas – em especial ao tratar das atualizações do sistema Android, que, segundo consumidores, demoram para chegar aos telefones da marca. Confira a reação de Buniac nas linhas abaixo, onde estão os principais momentos da conversa. O material foi editado para fins de brevidade e compreensão.

🔎 Motorola lança celular com a Cor do Ano 2023; veja preço no Brasil

Motorola Edge 30 Ultra em mãos — Foto: Thássius Veloso/TechTudo 2 de 5 Motorola Edge 30 Ultra em mãos — Foto: Thássius Veloso/TechTudo

Motorola Edge 30 Ultra em mãos — Foto: Thássius Veloso/TechTudo

💥️A 💥️LG💥💥️deixou o mercado de celulares💥️ em 2023. De que forma a Motorola aproveitou este movimento?

A gente não tinha um plano específico para ocupar o espaço da LG. Nosso resultado é consequência de muito trabalho. Crescemos cerca de 40% em vendas e de 32% em unidades comercializadas. No Brasil, a gente ficou na faixa entre 28% e 30% de participação de mercado. O aumento foi superior ao que seria a antiga participação da LG. Conseguimos aumentar nossa base de usuários.

💥️O Moto G ainda é lembrado como o smartphone queridinho dos brasileiros. Ao mesmo tempo, a Motorola está investindo forte na linha Edge. Qual é o momento das duas marcas?

Nós estamos trabalhando em diferentes segmentos do mercado com quatro franquias bem definidas: Moto E, Moto G, Motorola Edge e Motorola Razr. Este é o nosso modelo para atender todo o mercado. O Moto G, por exemplo, teve muito investimento nos últimos dois anos. Hoje em dia, a maioria tem tela AMOLED e melhorias na tecnologia de som graças ao Dolby Atmos. Recentemente lançamos a linha Edge para atender outro segmento, mais premium.

💥️Antigamente os consumidores zoavam a 💥️Samsung💥️, dizendo que ela lançava muitos aparelhos. Hoje em dia ouço falarem isso da Motorola. Vocês enxergam dessa forma?

A gente acha que tem o número certo de lançamentos. Houve falta de componentes desde o começo da pandemia, o que nos levou a fazer adaptações e lançar mais modelos para usar todas as peças que tínhamos e atender aos consumidores que precisavam tocar de telefone. Provavelmente você vai ver o número de lançamentos cair entre 20% e 30% a partir de agora.

Lembra dele? Moto G3 foi lançado em 2015 — Foto: Luana Marfim/TechTudo 3 de 5 Lembra dele? Moto G3 foi lançado em 2015 — Foto: Luana Marfim/TechTudo

Lembra dele? Moto G3 foi lançado em 2015 — Foto: Luana Marfim/TechTudo

💥️Como faz para competir com as empresas chinesas que chegam ao Brasil com a proposta de custo-benefício, sem necessariamente fabricar no país e com um pós-venda bem menos qualificado?

Nós temos um portfólio competitivo e um posicionamento que é único no país. Fazemos investimentos em pesquisa e desenvolvimento para, por exemplo, manter um laboratório dedicado a câmeras e fotografia. Também monitoramos o chamado mercado cinza, que é uma das nossas preocupações. Os temas são levados às autoridades para que ocorram ações na direção correta.

💥️Queria falar de preço porque você mesmo mencionou as inovações de Moto E e Moto G. Por que existe a sensação de que são poucos celulares baratos no Brasil, ao contrário do que ocorre em outras partes do mundo?

Existe todo um movimento de produção local para manter os custos sob controle e bastante eficientes. A escassez de suprimentos fez alguns preços subirem, depois baixarem. Mas eu acredito que os consumidores têm boas opções em todas as faixas de preço. Não dá para ter tudo e a gente precisa fazer algumas escolhas. Antigamente dava pra melhorar só a câmera. Hoje em dia a gente coloca melhorias de câmera, de bateria, de design, adota AMOLED.

💥️Falando agora de futuro aqui. Qual é a importância do Razr e dos celulares dobráveis no portfólio da Motorola?

Um dos nossos desafios é seguir no caminho da inovação. A Motorola fez o primeiro telefone a realizar uma ligação na Lua. Realizamos também a primeira ligação via 5G do planeta, aqui nos Estados Unidos. O Motorola Razr foi um telefone importante porque a gente fez um dos primeiros modelos dobráveis do planeta. De modo geral, o celular precisa caber no seu bolso, tem que ter a portabilidade e ser menos intrusivo. Nós alcançamos isso com o Razr, e por isso acreditamos que foi um lançamento de sucesso. Muitos consumidores que estavam em marcas concorrentes vieram para a Motorola por causa desse produto.

Relembre o lançamento do Motorola Razr dobrável

Relembre o lançamento do Motorola Razr dobrável

💥️Por que não usam o nome 💥️V3💥️, que todo mundo no Brasil conhece?

Nós fizemos pesquisas globais e percebemos que o consumidor aceita bem o nome Razr. Quem sabe no futuro a gente pensa em outra nomenclatura? Mas hoje a marca é Razr e a gente vai continuar investindo nela. O tamanho do mercado de smartphones dobráveis ainda não é tão grande, mas a gente faz essa aposta para daqui a três, quatro, talvez cinco anos. Essa tecnologia é nova e mais cara. Nós aprendemos muito com a primeira geração do aparelho.

💥️O que vocês aprenderam?

Por exemplo, a importância do display externo. Ele precisa ser útil. Também tiramos lições do equilíbrio entre tamanho de tela e duração da bateria. Estes pontos, entre outros, serão melhorados nas próximas gerações. E, do ponto de vista de inovação, a gente não está explorando apenas o Razr. Acreditamos que novas ideias podem ser testadas.

💥️A gente passa por uma triste onda de roubos de celulares. Existe até mesmo o fenômeno do “💥️celular de Pix💥️”, para deixar em casa e fazer operações bancárias. O que pode ser feito?

Este é um problema de segurança pública. Me incomoda muito que a pessoa compre um celular e não possa utilizá-lo da maneira correta. Cabe a nós, enquanto fabricante, orientar os consumidores e trabalhar junto com as autoridades. Antigamente o problema era com os roubos de cargas e dentro das lojas. Diante deste cenário, a Motorola inventou a ferramenta Moto Safe, que consegue desligar o telefone remotamente a partir do número de IMEI. Não impede o roubo, mas com o tempo as pessoas não vão conseguir usar o aparelho.

💥️Realmente reduz o estímulo para que os roubos aconteçam.

E teve uma redução. Levou entre dois e três anos para iniciar o projeto do Moto Safe, implementar e testar. Acho que não é diferente do problema de agora. Concomitante a isso, as pessoas precisam entender a importância do que armazenam, de que forma fazem isso, e qual a melhor forma de guardar estes dados

💥️O 💥️5G💥️ está em franca expansão. Ao mesmo tempo, muita gente quer saber qual é o divisor de águas para que o consumidor busque um smartphone com essa tecnologia. Qual a leitura de vocês?

O catálogo de celulares 5G da Motorola no Brasil supera os 60%. Obviamente que a transição de tecnologia tem vários fatores. Eu costumo brincar que quando o 4G chegou ao mercado ainda não existia nem Netflix, nem streaming. Hoje em dia ocorre um pouco disso: a tecnologia aparece primeiro e depois surgem as aplicações. No futuro, pode ser que a pessoa substitua o console de videogame pelo smartphone e possa jogar direto na TV, por exemplo. Como fazer com que o celular interaja com outras telas? Precisamos buscar soluções neste sentido.

💥️O 💥️Ready For💥️ é para Motorola o que a Samsung e a 💥️Apple💥️ tem com seus respectivos ecossistemas para celular? Eu tenho notado que as pessoas estão procurando mais soluções assim, que integram vários aparelhos. Me parece que elas não querem um celular perdido no mundo, que não converse com o resto da casa ou do escritório.

Eu acredito que no futuro vai existir uma espécie de pílula pessoal onde vai estar todo o seu conteúdo. Talvez seja um botão, uma moeda, algo assim. E você vai usar o ecossistema para operar com estes dados. Se eu estou em casa, posso plugar esse aparelho na minha TV ou acessar o conteúdo pela tela do computador. O Ready For se encaixa bem neste contexto. Hoje a gente tá bem avançado nisso. Possuímos recursos iguais ou melhores do que os concorrentes.

Motorola Edge 20 Pro apresenta tecnologia Ready For — Foto: Divulgação/Motorola 4 de 5 Motorola Edge 20 Pro apresenta tecnologia Ready For — Foto: Divulgação/Motorola

Motorola Edge 20 Pro apresenta tecnologia Ready For — Foto: Divulgação/Motorola

💥️Outras fabricantes assumiram compromissos públicos de lançar atualizações de versão do Android por três, às vezes quatro anos. A 💥️Samsung fez este movimento💥️, que é superimportante diante das muitas brechas de segurança que surgem com o passar do tempo. Por que não existe transparência da Motorola neste campo?

Tem transparência! Nós olhamos essa questão continuamente. Soltamos os pacotes de segurança religiosamente e não estamos atrás de ninguém. Os usuários que baixam e instalam os updates pelo nosso mecanismo são mais numerosos que os da concorrência. Acabamos de estender o prazo de dois para três anos. Estamos olhando e evoluindo.

💥️Eu recebo prints de leitores ou ouvintes reclamando que a Motorola prometeu entregar novas versões do sistema Android, e não só os pacotes de seguranças, mas que este update não chegou no prazo estipulado.

Eu fiz tudo o que eu prometi. Tem consumidores que compram só por causa dos updates de Android, mas não acredito que sejam todos. É por isso que estamos atuando de maneira mais segmentada. Estamos evoluindo e queremos atender pessoas com diferentes necessidades.

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