O PS e as autárquicas.pt - Última hora e notícias de hoje atualizadas ao minuto
Há uns dias, vi um texto de Ana Sá Lopes que tratava da apreensão de alguns dirigentes do PS pelo facto de, resolvidas as eleições autárquicas de setembro próximo, poderem existir, a nível local, alianças com vereadores eleitos pelo Chega.
Esta preocupação, a existir, só pode vir de pessoas sem experiência política e com um total desconhecimento da realidade municipal.
Desde 1984 que os municípios são geridos por um regime presidencialista (DL 100/84 e 116/84). O Presidente da Câmara tem poderes próprios, capacidade para gerir os orçamentos e os recursos com largas amplitudes. Em boa verdade, só os orçamentos, os empréstimos e os quadros de pessoal carecem de cuidados especiais.
Como se pode ver em Lisboa, Moedas não tem maioria absoluta para governar, mas, vestindo-se de Calimero, usa o poder, amplia as clientelas e descarrega na oposição os males de não ter essa maioria absoluta.
É, pois, de desconsiderar qualquer tentativa de trazer para as autárquicas o papão do Chega. Nenhum presidente socialista vai fazer qualquer acordo com os neossalazaristas porque ser socialista é negar esse caminho, mas também porque é completamente desnecessário para governar bem cada um dos municípios.
O PS vai ganhar as autárquicas e ter entre 143 e 152 presidências. Tal vai acontecer por três razões muitos claras: primeira, as estruturas locais e distritais do PS estão muito oleadas na criação de candidaturas agregadas ao território; segunda, porque todos sabem que o discurso local é despido de chavões, de imposições e de elitismos discursivos (em boa verdade, só em Lisboa é que existe uma estrutura discursiva e de campanha que, fruto das necessárias alianças à esquerda, obriga à ideologia e à simplificação direita/esquerda); terceira, porque o Governo é tão básico que ninguém lhe vai dar um voto de confiança reforçado.
O PS governa atualmente cento e quarenta e oito municípios. É a maior força política nas câmaras e nas freguesias desde 2013. Pelo que se conhece, o PPD/PSD não se revela no caminho de propor, com tempo, alternativas que façam reverter a situação, nem o PCP parece, pelos discursos do seu último congresso, crente na manutenção das suas dezanove autarquias.
Por outro lado, as populações estão satisfeitas com a esmagadora maioria das governações socialistas, mesmo naquelas onde se verificará uma mudança de liderança. Essa satisfação é também visível na forma cabal como todos os autarcas socialistas cumprem os princípios ideológicos do PS, seja na ,liberdade e democracia local ou seja na educação, na cultura, na saúde, no ambiente, na promoção da integração e da igualdade, nas políticas de ambiente e de sustentabilidade.
Há porém, uma área que deve ampliar o património de quase meio século de políticas autárquicas do PS – o da transparência e da desburocratização. Bastaria que todos os presidentes socialistas olhassem para as práticas administrativas da câmara de Matosinhos e o país transformar-se-ia.
O que pode o PS ganhar ou perder?
Comecemos pelas câmara com mais de 50 mil habitantes e que não são “capitais de distrito”. O PS governa em Vila Nova de Gaia, Loures, Almada, Matosinhos, Amadora, Gondomar, Guimarães, Odivelas, Vila Franca de Xira, Leiria, Valongo, Torres Vedras, Paredes, Vila do Conde, Barreiro, Loulé, Penafiel, Moita, Santo Tirso, Oliveira de Azeméis, Portimão, Paços de Ferreira e Felgueiras. Em todas estas se prevê, ouvidos dirigentes do PS e do PPD/PSD, uma recondução. Mas tem oportunidade de discutir Cascais e Ovar com o partido laranja e Seixal, Palmela e Sesimbra com o PCP.
A situação que se vive em Sintra e no Montijo, hoje geridos pelo PS, deve merecer uma resposta muito rápida por parte das estruturas partidárias. Se na primeira há já um forte movimento de independentes que parece partir a direita, na segunda revela-se um PPD cheio de confiança e um PS carente de concerto interno.
Confirmemos agora as capitais de distrito. O PS revalidará as suas lideranças em Viana do Castelo, Vila Real, Castelo Branco, Beja e Leiria, terá boas oportunidades em Bragança, Coimbra, Évora, Faro e Santarém por implicação de antigos governantes e experientes autarcas e também poderá discutir em Aveiro, Braga, Guarda, Setúbal e Viseu se corrigir alguns erros já verificados, se estiver atento às lutas dentro dos outros partidos e se não jogar unicamente na cultura de subpoder que dá vereadores mas não presidências.
Tratemos agora do Porto e de Lisboa. Conhecemos bem a realidade da política portuense. Há uns meses atrás seriam muitas as vozes a indicar que Manuel Pizarro não era um bom candidato por já ter perdido duas eleições (nunca devemos usar em política a palavra derrota por ser típica dos estalinistas e trotskistas). Ora, nos dias de hoje verifica-se uma mudança de posição nas elites e no cidadão comum que permite, sem embandeirar em arco, fazer acreditar que o PS terá a presidência da Invicta.
Não se faz um candidato ganhador transferindo-o do Governo para o Porto em dois ou três meses, sendo ainda uma pessoa que há muito tempo deixou de viver a cidade os seus problemas, como parece ser a opção laranja. Não se prevê que o movimento de Rui Moreira possa sobreviver ao seu fundador, mesmo que garanta, sempre, uma margem mínima de votos, também não se visualiza no BE um candidato da dimensão de Teixeira Lopes, nem no PCP a de Ilda Figueiredo, pelo que os votos destes partidos à esquerda do PS, se somados em aliança pré-eleitoral, só teriam o condão de fazer juntar todas as direitas e todos os centros e fazer, de surpresa, uma candidatura ganhadora de direita como aconteceu em 2023 em Lisboa.
Fixemo-nos agora Lisboa. O PS de Lisboa (concelhia e distrital) e a direção nacional terão aqui um trabalho muito exigente. Já vamos tarde na apresentação da figura que vai liderar a lista.
Está consolidada no debate político a ideia de que na capital do reino haverá uma aliança entre PS, BE, Livre e grupos de cidadãos independentes. Já aconteceu no passado tal caminho, mas foi feito ao contrário – primeiro o PS disse quem era o candidato e só depois se assumiu a coligação.
Em Lisboa, como já atrás se disse, temos um alcaide de um tipo muito especial – o populista infantil. Nada na santa alminha de Moedas é elaborado, assumido, frontal. Só cinismo e dissimulação.
Há três anos que anda em campanha, não há sítio onde não tenha ido, onde não tenha deixado lamento e queixume. Ora, perante este tipo de candidato só terá validade uma alternativa que, desde o dia em que é apresentada, se disponha a correr cada bairro, cada rua, cada instituição, cada centro de poder. E esse contacto não pode ser feito com timidez nem com discursos desadequados ou frieza no contacto pessoal. Aqui faz sentido a grande regra de Lenine de se falar e agir olhando a quem está na sala.
Que perfil deve o PS escolher? Alguém combativo, disponível, forte. Alguém que tenha estatuto, mas que não seja só na elaboração de papers e no razoável desempenho televisivo. Ao contrário do que muitos pensam, a campanha autárquica de Lisboa, e para a oposição, não tem mais do que linhas de rodapé na comunicação social e os debates com Moedas, um ou dois, não vão ser fáceis de ganhar.
Ora, perante esta análise fria, poderemos dar Lisboa como perdida? De todo! Só depende de uma decisão ponderada e lúcida de Pedro Nuno Santos.
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