Argentina está inviável: os brasileiros que estão abandonando o país com a explosão do custo de vida

O estudante Lucas dos Anjos, de 22 anos, vivia na Argentina desde 2023, mas, há seis meses, decidiu mudar de país, porque os aumentos dos preços na capital, Buenos Aires, onde ele vivia, deixaram seu orçamento apertado demais.

O aluguel, que custava R$ 300 quando chegou ao país, já estava em R$ 2 mil no início deste ano. Ele havia saído de Suzano, no interior de São Paulo, para estudar medicina na Argentina porque não tinha condições financeiras de arcar com uma faculdade particular no Brasil.

Mesmo com a inflação que assola o país há anos, Lucas diz que o custo de vida em Buenos Aires era menor do que no Brasil, mas, depois da pandemia, os preços começaram a subir significativamente. Isso piorou, segundo Lucas, após a posse do novo presidente Javier Milei, em dezembro.

"Subiu tudo. Um arroz que a gente pagava R$ 2 foi para R$ 10. Um absurdo", diz Lucas, que viu seus custos mensais passarem de R$ 3 mil, bem mais do que os R$ 600 com que conseguia viver na Argentina há cinco anos. A Argentina, sob o comando de Milei, enfrenta um rigoroso ajuste econômico. Herdando um país em recessão, com inflação descontrolada e dívida pública crescente, Milei implementou um corte abrangente de gastos públicos em uma tentativa de estabilizar a economia.

Desde que assumiu a Presidência, paralisou obras federais e interrompeu o repasse de verbas para as Províncias. Subsídios a serviços essenciais, como água, gás, luz e transporte público, foram eliminados, resultando em um aumento significativo de preços ao consumidor. Essas medidas de austeridade geraram uma resposta mista, com muitos argentinos e brasileiros sentindo o peso no bolso do encarecimento de itens essenciais e do mercado imobiliário.

Por causa disso, Lucas decidiu que era o momento de ir embora. "Em um mês arrumei tudo, consegui trazer meu gato e me mudei com o meu namorado", conta Lucas, que hoje vive em Ciudad del Este, no Paraguai. "Aqui consigo comer bem, sem ter o desespero se eu vou ter comida no fim do mês. Aqui é bem mais barato."

Ele não é um caso isolado. A BBC News Brasil conversou com outros brasileiros que já deixaram a Argentina ou que pretendem se mudar em breve, principalmente, pelo aumento do custo de vida.

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Disparada de preços

Um levantamento do Centro de Estudos Scalabrini Ortiz, que analisa índices socioeconômicos na Argentina, mostrou que inquilinos enfrentaram no país no último ano, de janeiro a dezembro, aumentos de 285% a 309% nos aluguéis de imóveis de um a três quartos.

Isso ocorreu porque uma legislação que estava em vigor desde a pandemia foi extinta. A Lei do Aluguel, aprovada em 2023 pelo Congresso argentino, impunha limites aos aumentos dos aluguéis e havia estendido a duração dos contratos de dois para três anos. O objetivo era proteger os inquilinos durante a crise sanitária e social provocada pela Covid-19.

Já nesta época, muitos proprietários de imóveis optaram por vender em vez de alugar ou priorizam as locações por temporada, consideradas mais rentáveis, explica Gustavo Perego, diretor da ABCEB, consultoria de gestão e desenvolvimento de negócios da América Latina. Isso gerou uma crise no mercado imobiliário, porque reduziu o número de imóveis disponíveis para locação. "Os poucos que estavam para alugar subiam o preço, então, era caro e tinha poucos", afirma Perego.

Os preços subiram ainda mais depois que Milei chegou ao poder. O novo governo revogou em dezembro de 2023, por meio do Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), a lei que limitava o aumento do aluguel - assim como outras medidas de controle de preços.

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